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Estaríamos melhor se tivéssemos praticado aquela economia à moda antiga

Paul Krugman

Em Bruxelas

18/04/2015 00h03

Os EUA ainda não se recuperaram plenamente dos efeitos da crise financeira de 2008. Mas parece justo dizer que recobramos grande parte do terreno perdido, embora não todo, de modo algum.

Não se pode dizer o mesmo sobre a zona do euro, cujo Produto Interno Bruto per capita real ainda é menor que o de 2007 e 10% ou mais abaixo de onde deveria estar agora. Isso é pior que o histórico da Europa durante os anos 1930.

Por que a Europa se saiu tão mal? Nas últimas semanas, vi vários discursos e artigos sugerindo que o problema está na inadequação de nossos modelos econômicos - que precisamos repensar a teoria macroeconômica, que deixou de oferecer orientação para políticas úteis durante a crise. Mas esta é realmente a questão?

Não, não é. É verdade que poucos economistas previram a crise. O segredinho da economia desde então, porém, é que os modelos básicos dos manuais, refletindo uma abordagem das recessões e recuperações que pareceriam familiares para estudantes de meio século atrás, se saíram muito bem. O problema é que os fazedores de políticas na Europa decidiram rejeitar aqueles modelos básicos em favor de abordagens alternativas que eram inovadoras, excitantes e completamente erradas.

Estive revendo as discussões sobre política econômica desde 2008, e o que se destaca a partir de 2010, aproximadamente, é a enorme divergência de pensamentos que surgiu entre os EUA e a Europa. Nos EUA, a Casa Branca e o Federal Reserve mantiveram-se principalmente fiéis à economia keynesiana padrão. O governo Obama desperdiçou muito tempo e esforço seguindo a chamada Grande Barganha sobre o orçamento, mas continuou acreditando na proposta dos manuais de que os deficits orçamentários são na verdade uma boa coisa em uma economia deprimida. Enquanto isso, o Fed ignorou graves advertências de que estava "degradando o dólar", mantendo a posição de que suas políticas de taxas de juros baixos não causariam inflação desde que o desemprego permanecesse alto.

Na Europa, em contraste, os fazedores de políticas estavam preparados e ansiosos para atirar pela janela a economia dos manuais, em favor de novas abordagens. A Comissão Europeia, sediada aqui em Bruxelas, abraçou avidamente as supostas evidências em favor da "austeridade expansionista", rejeitando a tese convencional pró-deficit orçamentário em favor da alegação de que cortar os gastos em uma economia deprimida na verdade cria empregos, porque aumenta a confiança. Enquanto isso, o Banco Central Europeu ouviu as advertências de inflação e aumentou as taxas de juros em 2011, apesar de o desemprego ainda estar muito alto.

Enquanto os políticos europeus podem ter imaginado que estavam demonstrando uma louvável abertura a novas ideias econômicas, porém, os economistas que decidiram escutar foram aqueles que diziam o que eles queriam ouvir. Eles buscavam justificativas para as duras políticas que estavam determinados a impor, por motivos políticos e ideológicos, aos países devedores; enalteceram economistas como Alberto Alesina, Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff, de Harvard, que pareciam oferecer essa justificativa. Afinal, porém, toda aquela excitante nova pesquisa tinha profundas falhas, de um modo ou de outro.

E, enquanto novas ideias caíam e queimavam, a economia à moda antiga ganhava cada vez mais força. Alguns leitores poderão lembrar que houve muita zombaria das previsões dos economistas keynesianos, inclusive as minhas, de que as taxas de juros ficariam baixas apesar dos enormes deficits orçamentários; que a inflação continuaria contida apesar das enormes compras de títulos pelo Fed; que os cortes acentuados em gastos do governo, longe de provocarem um aumento dos gastos privados impelido pela confiança, fariam esses gastos caírem ainda mais. Mas todas essas previsões se realizaram.

A questão é que é errado afirmar, como fazem muitos, que a política falhou porque a teoria econômica não ofereceu a orientação de que os fazedores de políticas precisavam. Na realidade, a teoria ofereceu uma excelente orientação, se os fazedores de políticas estivessem dispostos a ouvir. Infelizmente, não estavam.

E ainda não estão. Se você quiser ficar realmente deprimido sobre o futuro da Europa, leia o editorial de Wolfgang Schäuble, o ministro das Finanças alemão, publicado na quarta-feira pelo "The New York Times". É uma rejeição total de tudo o que sabemos sobre macroeconomia, de todas as percepções que a experiência europeia nos últimos cinco anos confirma. No mundo de Schäuble, a austeridade leva à confiança, a confiança gera crescimento, e se não estiver funcionando no seu país é porque vocês não estão fazendo direito.

Mas, voltando à questão das novas ideias e seu papel na política econômica. É difícil argumentar contra novas ideias em geral. Nos últimos anos, porém, as ideias econômicas inovadoras, longe de ajudar a encontrar uma solução, fizeram parte do problema. Estaríamos muito melhor se tivéssemos praticado a economia à moda antiga, que parece melhor que nunca.

Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves