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Gafe de Jeb Bush expõe teimosia do Partido Republicano

Jeb Bush, ex-governador da Flórida e pré-candidato republicano à Presidência dos EUA - Carolyn Kaster/AP
Jeb Bush, ex-governador da Flórida e pré-candidato republicano à Presidência dos EUA Imagem: Carolyn Kaster/AP

16/05/2015 00h01

Jeb Bush quer parar de falar sobre velhas controvérsias. E é possível ver por quê. Ele tem muito sobre o que parar de falar. Mas não vamos fazer sua vontade. É possível aprender muito estudando a história recente, e é possível aprender ainda mais observando como os políticos respondem a essa história.

A grande história "vamos deixar para trás" dos últimos dias envolveu a resposta de Bush, quando perguntado em uma entrevista, se, ciente do que sabemos agora, ele teria apoiado a invasão ao Iraque em 2003. Ele respondeu que sim, que teria apoiado. Sem armas de destruição em massa? Sem estabilidade após todo o dinheiro gasto e vidas perdidas? Sem problema.

Então ele tentou voltar atrás. Ele "interpretou errado a pergunta" e não estava interessado em discutir "suposições". De qualquer forma, "voltar no tempo" é um "desserviço" para aqueles que serviram na guerra.

Vamos parar um momento para saborear a covardia e vileza desse último comentário. E, não, não é uma hipérbole. Bush está tentando se esconder atrás das tropas, fingindo que qualquer crítica aos líderes políticos –-especialmente, é claro, seu irmão, o comandante-em-chefe-– é um ataque à coragem e patriotismo daqueles que pagaram o preço pelos erros de seus superiores. Isso é descer muito baixo, e nos diz mais sobre o caráter do candidato do que qualquer número de entrevistas pessoais.

Espere, há mais: incrivelmente, Bush recorreu ao velho expediente da voz passiva, admitindo apenas que "erros foram cometidos". De fato. Por quem? Bem, neste ano, Bush divulgou uma lista de seus principais conselheiros em política externa, e foi um verdadeiro quem é quem dos autores dos erros, pessoas que tiveram papéis essenciais no desastre do Iraque e outras catástrofes.

É serio, considere essa lista, que inclui luminares como Paul Wolfowitz, que insistia que seríamos recebidos como libertadores e que a guerra não custaria quase nada, e Michael Chertoff, que como diretor do Departamento de Segurança Interna durante o furacão Katrina, não estava ciente de que milhares de pessoas estavam ilhadas no centro de convenções de Nova Orleans sem água e sem comida.

Na Bushlândia, em outras palavras, ter um papel central em uma política catastrófica não desqualifica a pessoa de exercer influência no futuro. Na verdade, um histórico de estar desastrosamente errado em questões de segurança nacional parece ser uma credencial necessária.

Os eleitores, até mesmo os eleitores republicanos das primárias, podem não compartilhar esse ponto de vista, e os últimos dias provavelmente pesaram negativamente nas perspectivas presidenciais de Jeb Bush. De certo modo, entretanto, isso é injusto. O Iraque é um problema especial para a família Bush, que tem um histórico de nunca reconhecer erros e de manter pessoas leais à família independente de quão ruim seja seu desempenho. Mas a recusa em aprender com a experiência, somada com uma versão politicamente correta na qual você só é aceitável se já tiver errado sobre questões cruciais, é algo que predomina no Partido Republicano moderno.

Vamos pegar meu foco habitual, a política econômica. Se você olhar para a lista de economistas que parecem ter uma influência significativa sobre os líderes republicanos, incluindo os prováveis candidatos presidenciais, você verá que quase todos concordaram, durante o "boom de Bush", que não havia bolha imobiliária e que o futuro econômico americano era brilhante; que quase todos eles previram que os esforços do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) para combater a crise econômica que ocorreu quando a bolha inexistente estourou causariam inflação severa; e que quase todos previram que a reforma da saúde de Obama, que entrou em vigor em 2014, seria uma grande eliminadora de empregos.

Dado quão ruins foram essas previsões –-nós tivemos o maior estouro de bolha imobiliária na história, a paranoia com a inflação está errada há seis anos e contando, e 2014 apresentou a maior geração de empregos desde 1999-– seria possível pensar que há uma abertura de espaço no Partido Republicano para economistas que não entendem tudo errado. Mas não há. Estar completamente errado sobre a economia, como ter estado completamente errado a respeito do Iraque, parece ser uma credencial necessária.

O que há de errado aqui? Minha melhor explicação é que estamos testemunhando os efeitos do tribalismo extremo. Na direita moderna, tudo é um teste político decisivo. Qualquer um que tentasse pensar nos prós e contras da Guerra no Iraque era, por definição, um inimigo do presidente George W. Bush e provavelmente odiava os Estados Unidos; qualquer um que questionasse se o Fed estava realmente desvalorizando a moeda certamente era um inimigo do capitalismo e da liberdade.

Não importa que os céticos estavam certos. O simples questionamento das ortodoxias do momento leva à excomunhão, da qual não há retorno. Assim, os únicos "especialistas" que restam são aqueles que cometeram todos os erros aprovados. É uma espécie de fraternidade do fracasso: homens e mulheres unidos pela história comum de entender tudo errado e pela recusa de admitir isso. Será que terão a chance de adicionar mais capítulos ao seu reinado do erro?