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A economia da Grécia é uma lição para os republicanos nos EUA

Aposentados esperam diante de portão principal do Banco Nacional da Grécia, no centro de Atenas, para retirar a cota máxima de 120 euros. O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, continua buscando um acordo com credores europeus nesta sexta-feira para evitar a falência do país - Emilio Morenatti/AP
Aposentados esperam diante de portão principal do Banco Nacional da Grécia, no centro de Atenas, para retirar a cota máxima de 120 euros. O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, continua buscando um acordo com credores europeus nesta sexta-feira para evitar a falência do país Imagem: Emilio Morenatti/AP

10/07/2015 16h42

A Grécia é um país distante com uma economia mais ou menos do tamanho da grande Miami, de modo que seu desastre em andamento tem pouca influência direta sobre os Estados Unidos. Para nós, trata-se mais de uma questão de geopolítica: ao envenenar as relações entre as democracias da Europa, a crise grega pode privar os Estados Unidos de aliados cruciais.

Apesar disso, a Grécia exerceu um papel exagerado no debate político americano, como símbolo das coisas terríveis que supostamente acontecerão –-a qualquer momento-– a menos que paremos de ajudar os menos afortunados e imprimir dinheiro para combater o desemprego. E a Grécia de fato oferece importantes lições para o restante de nós. Mas não são as lições que você pensa, e as pessoas que mais provavelmente provocariam um desastre econômico ao estilo da Grécia aqui nos Estados Unidos são as mesmas pessoas que adoram usar a Grécia como bicho-papão.

Para entender as verdadeiras lições da Grécia, é preciso estar ciente de dois pontos cruciais. O primeiro é que a turma "Nós somos a Grécia!" tem um retrospecto realmente notável quando se trata de previsões econômicas: eles erraram tudo, ano após ano, mas se recusam a aprender com seus erros. As pessoas que agora dizem que a Grécia oferece uma lição objetiva sobre os riscos do endividamento do governo, e que os Estados Unidos estão seguindo pela mesma estrada, são as mesmas pessoas que previram alta das taxas de juros e inflação desenfreada em 2010; depois, quando não aconteceu, previram alta dos juros e inflação desenfreada em 2011; depois... bem, você já entendeu.

A segunda é a história que você ouviu sobre a Grécia –-que tomou empréstimos demais e seu endividamento excessivo levou à crise atual-– é seriamente incompleta. A Grécia de fato se endividou demais (com muita ajuda de credores irresponsáveis). Mas sua dívida, apesar de alta, não é tão alta segundo os padrões históricos. O que transformou os problemas da dívida gregos em uma catástrofe foi a incapacidade da Grécia, devido ao euro, de fazer o que países com grandes dívidas geralmente fazem: impor austeridade fiscal, sim, mas compensada com excesso de oferta de dinheiro.

Considere a situação da Grécia no final de 2009, quando sua crise da dívida veio à tona. Àquela altura, a dívida do governo grego era de próximo de 130% do produto interno bruto, que certamente é um número grande. Mas está longe de ser sem precedente. A proporção da dívida da Grécia em 2009 era mais ou menos a mesma que a dos Estados Unidos em 1946, logo depois da guerra. E a proporção da dívida do Reino Unido em 1946 era duas vezes maior.

Hoje, entretanto, a dívida grega ultrapassa 170% do PIB e está crescendo. Isso se deve à Grécia continuar dependendo de empréstimos? Na verdade, não –-a dívida grega subiu apenas 6% desde 2009, apesar disso se dever em parte por ter recebido ajuda para a dívida em 2012. O aumento da proporção da dívida em relação ao PIB ocorreu porque o PIB caiu mais de 20%. E por que o PIB caiu? Em grande parte por causa das medidas de austeridade impostas à força pelos credores da Grécia.

Isso significa que austeridade é sempre autodestrutiva? Não, há casos –-como o do Canadá nos anos 90, por exemplo-– de países que reduziram sua dívida e ao mesmo tempo mantiveram o crescimento e a redução do desemprego. Mas se você olhar como conseguiram isso, foi por ter envolvido uma combinação de austeridade fiscal e grande oferta de dinheiro: nos anos 90, o Canadá reduziu drasticamente suas taxas de juros, encorajou os gastos privados e permitiu que sua moeda se desvalorizasse, estimulando a exportação.

Infelizmente, a Grécia não mais contava com sua própria moeda quando foi forçada a uma redução fiscal drástica. O resultado foi uma implosão econômica que acabou tornando o problema da dívida ainda pior. A fórmula da Grécia para o desastre, em outras palavras, não envolveu apenas austeridade; ela envolveu uma combinação tóxica de austeridade com redução da oferta de dinheiro.

E quem deseja impor esse tipo de mistura política tóxica nos Estados Unidos? A resposta é, grande parte do Partido Republicano.

Por um lado, quase todos no Partido Republicano exigem uma redução dos gastos do governo, especialmente a ajuda às famílias de renda mais baixa. (Eles também querem, é claro, uma redução dos impostos sobre os ricos –-mas isso não estimularia a demanda por produtos americanos.)

Por outro lado, importantes republicanos, como o deputado Paul Ryan, atacam incessantemente o Federal Reserve (o banco central americano) por seus esforços para estimular a economia, fazendo sermões solenes sobre os males da "desvalorização" do dólar –-quando a principal diferença entre os efeitos da austeridade no Canadá e na Grécia foi precisamente a capacidade do Canadá de "desvalorizar" sua moeda, enquanto a Grécia não pôde. Ah, e muitos republicanos defendem um retorno do padrão ouro, que na prática nos colocaria em uma camisa de força como o euro.

O fato é que se você realmente teme que os Estados Unidos possam se transformar na Grécia, o foco de sua preocupação deveria ser a direita americana. Porque se a direita implantar suas ideias na política econômica –-cortar gastos e ao mesmo tempo bloquear qualquer compensação com maior oferta de dinheiro-– ela imporá na prática nos Estados Unidos as políticas por trás do desastre grego.