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Zumbis da direita ameaçam programa social de saúde para idosos dos EUA

Paul Krugman

27/07/2015 11h35

O Medicare completa 50 anos nesta semana, e foi uma boa metade de século. Antes do programa entrar em vigor, Ronald Reagan advertiu que este iria destruir a liberdade americana; isso não aconteceu, ao que parece. O que ele fez foi proporcionar uma grande melhoria na segurança financeira dos idosos e suas famílias e, em muitos casos, tem sido literalmente um salvador de vidas. 

Mas a direita nunca abandonou seu sonho de matar o programa. Então, não causou realmente nenhuma surpresa quando Jeb Bush declarou recentemente que “nós precisamos descobrir uma maneira de eliminar gradualmente este programa”, apesar de permitir que aqueles que já participam do Medicare mantenham seus benefícios. 

Um pouco surpreendente, porém, foi o argumento que ele escolheu, que talvez soasse plausível há cinco anos, mas agora parece completamente fora da realidade. Como em outras esferas, Bush muitas vezes parece um Rip Van Winkle que passou pelos anos desde que deixou o gabinete do governador dormindo -afinal, ele ainda está se gabando do boom imobiliário que foi a bolha da Flórida. 

Na verdade, antes de tratar do argumento de Bush, preciso reconhecer que um porta-voz de Bush alegou que o candidato não estava realmente pedindo um fim ao Medicare, ele estava apenas falando de coisas como o aumento da idade mínima para ingresso no programa. Há duas coisas a dizer sobre esta afirmação. Em primeiro lugar, é claramente falsa: no contexto, Bush estava obviamente falando da conversão do Medicare em um sistema de cupons, ao longo das linhas propostas por Paul Ryan.

E, em segundo lugar, apesar de o aumento da idade mínima para ingressar no Medicare ser uma das ideias favoritas das Pessoas Muito Sérias de Washington, há uns dois anos o Escritório de Orçamento do Congresso fez um cuidadoso estudo e descobriu que dificilmente pouparia dinheiro. Ou seja, neste ponto, o aumento da idade Medicare é uma ideia zumbi, que deveria ter sido eliminada pelas análises e provas, mas ainda está por aí comendo o cérebro de algumas pessoas. 

O verdadeiro argumento de Bush, contudo, ao contrário de tentativa tosca de sua campanha de reescrevê-lo, é um zumbi maior ainda.

A verdadeira razão pela qual os conservadores querem acabar com o Medicare sempre foi política: o que eles odeiam é a ideia de o governo fornecer uma rede de segurança universal e odeiam ainda mais quando tais programas são bem sucedidos. Mas quando eles defendem suas ideias para o público, em geral ficam embaraçados em expor seus verdadeiros motivos e algumas vezes, incrivelmente, posam de defensores do programa contra os liberais e os seus conselhos da morte. 

O que os pretensos assassinos do Medicare costumam argumentar, em vez disso, é que o programa tal como está é inviável -que temos que destruir o sistema a fim de salvá-lo, que, como diz Bush, nós devemos “passar para um novo sistema que permita que os (idosos) tenham algo -porque eles não vão ter nada”. E o novo sistema que eles defendem normalmente é, como eu disse, o de cupons que podem ser usados para adquirir seguros privados. 

A premissa subjacente aqui é que o Medicare como o conhecemos é incapaz de controlar seus custos, que a única maneira de manter os cuidados de saúde acessíveis no futuro é contar com a magia da privatização. 

Agora, esta foi sempre uma afirmação duvidosa. É verdade que, na maior parte da história do Medicare, seus gastos cresceram mais rapidamente do que a economia como um todo -mas isso é verdade para as despesas com saúde em geral. Na verdade, os custos do Medicare por beneficiário consistentemente cresceram mais lentamente do que os prêmios dos seguros privados, o que sugere que o Medicare é, de fato, melhor do que as seguradoras privadas no controle de custos. Além disso, outros países ricos com seguro de saúde fornecido pelo governo gastam muito menos do que nós, sugerindo novamente que programas como o Medicare podem realmente controlar seus custos. 

Ainda assim, os conservadores zombaram das medidas de controle de custos incluídas na Lei da Saúde Acessível, insistindo que nada menos do que a privatização iria funcionar.

E então aconteceu uma coisa engraçada: a aprovação da lei foi imediatamente seguida por uma pausa sem precedentes no crescimento dos custos do Medicare. Na verdade, os gastos do Medicare continuam abaixo das expectativas, a uma extensão que revolucionou nossos pontos de vista sobre a sustentabilidade do programa e dos gastos do governo como um todo. 

Em outras palavras, este é um momento muito estranho para falar sobre a impossibilidade de preservar o Medicare, um programa cujas finanças serão dificultadas pelo envelhecimento da população, mas que não parece fadado ao desastre. Só podemos supor que Bush não tem conhecimento de tudo isso, que ele está vivendo dentro da bolha de informações conservadora, cujo escudo impermeável bloqueia todas as notícias positivas sobre a reforma da saúde. 

Enquanto isso, o que o resto de nós precisa saber é que o Medicare aos 50 anos ainda está muito bem. Ele precisa continuar trabalhando nos custos, vai precisar de alguns recursos adicionais, mas parece eminentemente sustentável. A única ameaça real que enfrenta é a dos ataques de zumbis de direita.