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Trump é incoerente e absurdo como todos os seus rivais republicanos

6.ago.2015 - Scott Walker, Donald Trump e Jeb Bush participam do primeiro debate dos pré-candidatos republicanos à Presidência dos EUA - Chip Somodevilla/Getty Images/AFP
6.ago.2015 - Scott Walker, Donald Trump e Jeb Bush participam do primeiro debate dos pré-candidatos republicanos à Presidência dos EUA Imagem: Chip Somodevilla/Getty Images/AFP

Paul Krugman

07/08/2015 11h04

De acordo com muitos analistas, este seria o ciclo eleitoral em que os republicanos teriam que mostrar a sua “bancada profunda”. A corrida pela a nomeação deve incluir governadores experientes como Jeb Bush e Scott Walker, novos pensadores, como Rand Paul, e rostos novos e atraentes como Marco Rubio. Em vez disso, Donald Trump está na dianteira por uma larga margem. O que aconteceu?

A resposta, de acordo com muitos daqueles que não previram algo assim, é a ingenuidade: as pessoas não sabem a diferença entre alguém que soa como se soubesse o que está dizendo e alguém realmente sério. E com certeza há muita ingenuidade por aí. Mas se você me perguntar, os especialistas têm sido tão ingênuos quanto o público em geral.

Pois, apesar de ser verdade que Trump, fundamentalmente, é uma figura absurda, assim também são os seus rivais. Se você prestar atenção ao que qualquer um deles está dizendo, você descobre tanta incoerência e extremismo quanto qualquer coisa que Trump tem para oferecer. E isso não é por acaso: dizer absurdos é o que você tem que fazer para chegar a algum lugar no Partido Republicano de hoje. 

Por exemplo, a visão econômica de Trump, uma espécie de salada de pontos conservadores padrão e protecionismo, é definitivamente confusa. Mas será que é pior do que o vodu de Jeb Bush, em sua afirmação de que poderia dobrar a taxa de crescimento da economia dos EUA? E a credibilidade de Bush cai ainda mais diante das evidências que usa para embasar sua afirmação: o crescimento relativamente rápido que a Flórida experimentou durante a imensa bolha imobiliária que coincidiu com o seu mandato como governador. 

Trump foi um daqueles que questionaram, famosamente, se o presidente Barack Obama havia nascido nos Estados Unidos. Mas será pior do que a declaração de Scott Walker de que ele não tem certeza se o presidente é cristão? A intenção declarada de Trump de deportar todos os imigrantes ilegais é definitivamente extrema e exigiria violações profundas das liberdades civis. Mas existem defensores das liberdades civis no atual Partido Republicano? Veja como Rand Paul, que se diz libertário, juntou-se rapidamente à caça às bruxas contra o Planned Parenthood. 

E, enquanto Trump definitivamente está apelando para o “nada sei”, Marco Rubio, um dos que negam as mudanças do clima, adotou como assinatura a frase: “Eu não sou cientista”. (Lembrete para Rubio: os presidentes não têm que ser especialistas em tudo, mas precisam ouvir os especialistas, e decidir em quais acreditar.) 

O ponto é que, enquanto a mídia retrata os rivais de Trump como homens sérios -Jeb o moderado; Rand, o pensador original; Marco, o rosto de uma nova geração- sua suposta seriedade não passa da superfície. Se for julgá-los por suas posições e não por suas imagens, o que você obtém é um bando de absurdos. E como eu disse, isso não é acidente. 

Há muito é evidente que, por suas convenções, os jornalistas e comentaristas políticos ficam impossibilitados de dizer o óbvio -a saber, que um dos nossos dois principais partidos perdeu as estribeiras. Ou, como escreveram os analistas políticos Thomas Mann e Norman Ornstein em seu livro, “It’s Even Worse Than It Looks” (“É ainda pior do que parece”), o Partido Republicano se tornou um “insurgente excêntrico... que não se deixa persuadir pelo entendimento convencional dos fatos, provas, e ciência”. É um partido que não tem espaço para posições racionais em muitas questões importantes. 

Ou, dito de outra forma, os políticos republicanos modernos não podem falar sério -se quiserem vencer as primárias e ter qualquer futuro dentro do partido. Uma economia absurda, uma ciência absurda, uma política externa absurda são peças necessárias no currículo de um candidato. 

Até agora, no entanto, os líderes republicanos geralmente tentaram preservar uma fachada de respeitabilidade, ajudando a mídia a manter a ilusão de que se tratava de um partido político normal. O que distingue Trump não é tanto suas posições, mas sim a sua falta de interesse em manter as aparências. E verifica-se que a base do partido, que exige posições extremistas, também prefere essa franqueza na exposição dessas posições. Por que alguém se surpreende? 

Todos supunham que Trump ia implodir depois de seu ataque a John McCain, estão lembrados? McCain é o símbolo da estratégia de soar moderado ao tomar posições extremas, e é muito amado pela imprensa, que o coloca na TV o tempo todo. Mas os eleitores republicanos, ao que parece, não dão a mínima para ele. 

Será que Trump pode realmente ganhar a nomeação? Não faço ideia. Mas mesmo que eventualmente seja deixado de lado, não dê ouvidos a todas as análises que você vai escutar declarando um retorno à política normal. Isso não vai acontecer; a política normal abandonou o Partido Republicano há muito tempo. No máximo, vamos ver um retorno à hipocrisia normal, do tipo que esconde as políticas radicais e o desprezo pelas evidências em uma retórica que parece convencional. E isso não será melhor.

Tradução: Deborah Weinberg