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O desejo dos pré-candidatos republicanos pelo ouro

Republicanos acenam durante o debate da última terça-feira (10) para a Fox Business - Joshua Lott/AFP
Republicanos acenam durante o debate da última terça-feira (10) para a Fox Business Imagem: Joshua Lott/AFP

14/11/2015 00h02

Não é difícil entender por que todos que buscam a indicação republicana à Presidência estão propondo cortes imensos de impostos para os ricos. Basta seguir o dinheiro: os candidatos nas primárias do Partido Republicano obtêm grande parte de seu apoio financeiro de poucas dezenas de famílias extremamente ricas.

Além disso, décadas de doutrinação transformaram o que é basicamente uma fé religiosa nas virtudes da redução de impostos aos ricos –uma fé imune às evidências– em um elemento central da identidade republicana. 

Mas o que vimos no debate presidencial de terça-feira (10) foi algo relativamente novo em termos de políticas: uma exigência republicana cada vez mais unificada por políticas monetárias duras ("hard money"), mesmo em uma economia deprimida.

Ted Cruz exige um retorno ao padrão-ouro. Jeb Bush disse não ter certeza a respeito disso, mas que está aberto à ideia. Marco Rubio deseja que o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) se concentre apenas na estabilidade dos preços e deixe de se preocupar com o desemprego. Donald Trump e Ben Carson veem uma conspiração pró-Obama por trás da política de baixas taxas de juros do Federal Reserve. 

E não vamos esquecer de que Paul Ryan, o novo presidente da Câmara, passou anos criticando o Fed por políticas que ele insistia que iriam "depreciar" o dólar e levar a uma inflação elevada. Ah, e ele também flertou com teorias de conspiração ao estilo de Carson/Trump, sugerindo que os esforços do Fed desde a crise financeira não visavam estimular a economia, mas sim "resgatar a política fiscal", isto é, permitir que o presidente Barack Obama escapasse impune de gastos deficitários. 

Como eu disse, essa ortodoxia de políticas monetárias duras é relativamente nova. Os republicanos costumavam basear suas recomendações monetárias nas ideias de Milton Friedman, que se opunha às políticas keynesianas para combater depressões, mas apenas por achar que o "dinheiro fácil" podia realizar um trabalho melhor, e que pediu ao Japão para que adotasse a mesma estratégia de "alívio quantitativo" que hoje os republicanos condenam. 

Os economistas de George W. Bush elogiaram a "política monetária agressiva" que, como declararam, tinha ajudado a economia a se recuperar da recessão de 2001. E foi Bush quem nomeou Ben Bernanke, que antes se considerava um republicano, para presidir o Fed. 

Mas agora é só políticas monetárias duras o tempo todo. Os republicanos deram as costas a Friedman, quer saibam ou não, e extraíram sua doutrina monetária de economistas "austríacos" como Friedrich Hayek –cujas ideias Friedman descreveu como uma "caricatura rígida e atrofiada"– isso quando não estão voltados diretamente a Ayn Rand.     

Essa postura não é movida pela experiência. A nova ortodoxia monetária republicana já fracassou com louvor no teste da realidade: o dólar "depreciado" já se valorizou 30% frente a outras importantes moedas desde 2011, enquanto a inflação permaneceu baixa.

Na verdade, o fracasso das previsões monetárias conservadoras foi tão abjeto que o noticiário, sempre em busca do "equilíbrio", tende a encobrir o retrospecto ao fingir que os críticos republicanos do Fed não disseram o que disseram. Mas anos de previsões fracassadas não impediram a ortodoxia de tomar ainda mais firmemente o partido. O que está acontecendo?

Minha principal resposta seria que a concessão de Friedman –o ativismo que fala mal do governo de modo geral, mas afirmando que a política monetária é diferente– provou ser politicamente insustentável. Não dá para dizer para sua base, a longo prazo, que os burocratas do governo são invariavelmente incompetentes, malignos ou ambos, e então dizer que o Fed –que, no final, é basicamente uma agência do governo dirigida por burocratas– pode ser autorizado a imprimir dinheiro livremente, da forma como achar adequado. 

Os políticos que amontoam tudo, que alertam sombriamente que o Fed está depreciando por meio da inflação sua riqueza duramente obtida e permitindo doações para Aquelas Pessoas, sempre terão vantagem nas disputas intrapartidárias. 

Você poderia achar que a evidência empírica esmagadora contra as políticas monetárias duras deveria ter algum peso. Mas você só vai pensar isso se não estiver prestando atenção aos debates políticos. 

Importantes figuras políticas insistem que a mudança climática é uma farsa gigantesca perpetrada por uma vasta conspiração científica internacional.  Você realmente acha que o partido deles será persuadido a mudar seus pontos de vista econômicos devido a dados macroeconômicos inconvenientes? 

A pergunta interessante é o que acontecerá à política monetária se um republicano vencer a eleição do ano que vem. O melhor que posso dizer é que a maioria dos economistas acredita que é tudo papo, que assim que estiver na Casa Branca, alguém como Rubio, ou mesmo Cruz, adotaria um pragmatismo monetário ao estilo de Bush. Os mercados financeiros acreditam no mesmo. De qualquer forma, não há sinal nos atuais preços dos ativos de que os investidores estejam vendo alguma chance significativa da catástrofe que seria um retorno ao padrão-ouro. 

Mas eu não teria tanta certeza. É verdade, um novo presidente que olhasse para as evidências e desse ouvido aos especialistas não seguiria por esse caminho. Mas evidência e perícia têm uma conhecida inclinação liberal.