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Empreendedor: uma marca ousada

Richard Branson

02/01/2014 00h01

P: Minha colega e eu fomos voluntárias para a criação de um curso de empreendedorismo de um dia em uma escola na qual atualmente sou estudante. Nós achamos que empreendedorismo não é apenas um rótulo para empresas "startup" e seus presidentes-executivos, mas uma atitude e abordagem que ajudam uma pessoa a encarar ou criar oportunidades e desenvolvê-las. O que você acha?
 
–Noelle Decuypere
 
R: Como rótulo, a palavra "empreendedor" é realmente fascinante. Quando meus amigos e eu estávamos iniciando nossas primeiras empresas Virgin no início dos anos 70, ninguém parecia entender o que estávamos fazendo. Algumas pessoas importantes nos chamavam de empreendedores, mas elas usavam a palavra de modo pejorativo, insinuando que éramos aventureiros, buscando perturbar a ordem das coisas, que talvez não fôssemos confiáveis. Nós certamente não nos descrevíamos como empreendedores naquela época, porque isso seria recebido com alguns olhares estranhos.
 
Atualmente, o número de pessoas que trabalham como empreendedores aumentou tanto que esse plano de carreira quase se qualifica como uma escolha de estilo de vida. Definir "empreendedor" se tornou mais difícil porque agora significa muitas coisas diferentes para muitas pessoas diferentes –todos nós falando a partir de nossas próprias experiências.
 
O fato é que nossos críticos estavam em parte corretos: nós realmente queríamos perturbar a ordem das coisas. Tanto naquela época quanto agora, quando lançamos uma nova empresa Virgin, nós não queremos apenas realizar um simples exercício de ganhar dinheiro, mas sim promover uma mudança positiva na vida das pessoas e dar uma opção melhor aos consumidores. Independente do produto ou serviço que oferecemos, nós queremos que ele seja muito melhor do que os dos concorrentes.
 
Nossa abordagem, que eu descreveria como empresarial, provou ser uma verdadeira vantagem. Por exemplo, todos os concorrentes originais da Virgin Atlantic, exceto um, fecharam desde que entramos no mercado nos anos 90. Isso aconteceu por vários motivos, mas talvez o mais importante tenha sido a falta de inovação e coragem deles. Nós notamos isso quando o ingresso da Virgin nas viagens aéreas foi recebido com ceticismo, e então após mostrarmos aos críticos que os passageiros aéreos queriam um tipo diferente de experiência –voos que incluíssem entretenimento e um serviço excelente– nós vimos que a maioria de nossos concorrentes foi lenta demais em reagir.

Do meu ponto de vista, um empreendedor não é apenas alguém que lança uma empresa; o desejo de inovar então leva essa pessoa a continuar se empenhando em promover mudanças positivas. As empresas precisam ser flexíveis: isso começa com as pessoas no topo, que devem ter um verdadeiro desejo de perturbar os novos mercados nos quais ingressam, e reagir agilmente à mudança das circunstâncias nos setores estabelecidos. Provavelmente também é justo dizer que uma pessoa pode ser bem-sucedida em um negócio sem ser empreendedora –mantendo o dinheiro entrando constantemente sem procurar pela próxima oportunidade para expandir e melhorar.
 
O que faz a diferença é o destemor. As melhores empresas oferecem um produto ou serviço que nunca antes esteve disponível. Apesar de você quase sempre poder realizar pesquisa e testar o mercado antes de um lançamento, um empreendedor sempre estará, até certo ponto, saltando no desconhecido, já que a própria natureza de um novo produto significa que você está se aventurando em um novo território.
 
Pessoas mais jovens costumam ter uma vantagem aqui, já que podem abordar desafios nos negócios sem medo, porque não têm nada que as detenha, nenhum compromisso, e de muitas formas nada a perder. À medida que a carreira de uma pessoa progride, coisas como o sustento da família e o pagamento da hipoteca passam a ser consideradas.
 
Se você acha que tem uma ideia capaz de mudar o jogo e você também tem essas responsabilidades, você está diante do verdadeiro teste do empreendedor.  A melhor forma de lidar com isso é não deixar esses fatores governarem seu processo de tomada de decisão, mas sim integrá-los a ele. Prepare-se para o fracasso, busque se garantir e então vá em frente com o lançamento.
 
A outra parte da equação é a resistência. Apesar do planejamento e preparação mais cuidadosos, a grande maioria das novas empresas fracassa no primeiro ano de atividade. O que isso nos diz? Que os empreendedores devem não apenas lidar com o fracasso, mas o aceitarem de braços abertos. Não há vergonha em admitir que algo não está funcionando e voltar à prancheta de desenho –nós já fizemos muito disso na Virgin. Essa capacidade de recuperação fará a diferença, permitindo a você e sua equipe se aplicarem a novas metas de todo o coração, sem olhar para trás.
 
Logo, um empreendedor é muitas coisas: um criador de empregos, aquele que muda o jogo, um líder empresarial, um inovador, um perturbador. Mais importante, esse empreendedor é você, se você realmente quiser ser um.
 
Vamos ouvir dos leitores: você se considera um empreendedor, ou um homem ou mulher de negócios? Que rótulo você prefere?