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Fazer o bem e fazer negócios: metas compartilhadas

Richard Branson

30/01/2014 00h01

Pergunta: Meu pai tem câncer no pâncreas e eu pretendo criar uma instituição de caridade por meio da qual eu possa ajudar pessoas como ele. Mas, se eu separar as atividades comerciais das atividades de caridade, será que o meu esforço terá chance de ser bem-sucedido?

- Joseph Wanjohi, Quênia

Resposta: Eu sinto muito sobre a doença de seu pai. É sempre bom entrar em contato com empresários como você, que se mostram tão interessados em trabalhar para solucionar problemas sociais importantes quanto em ganhar dinheiro --para mim, esses são projetos e metas muito desafiadores e emocionantes.

Parabéns por você ter escolhido um tema tão importante! Tradicionalmente, acreditamos que os negócios e as ações de caridade --e seus respectivos objetivos-- são esferas mutuamente excludentes, mas essa separação está começando a se dissolver. Tomemos, por exemplo, a ascensão das corporações B nos Estados Unidos. O “B” significa “benefícios”: essas empresas não entraram no mercado apenas para gerar lucro. Elas são certificadas de forma independente pela organização sem fins lucrativos B Lab e “precisam atender a rigorosos padrões de desempenho social e ambiental, de prestação de contas e de transparência”. Por enquanto, o B Lab diz já ter certificado 910 empresas de 29 países e 60 setores.

A sua empresa pode ser bem sucedida quer você decida manter suas atividades comerciais separadas de seus esforços sem fins lucrativos ou que você opte por incorporar seus objetivos de caridade à estrutura de seu negócio. A chave parece ser encontrar um modelo de negócio que cumpra seus objetivos de uma maneira simples e prática para que, em seguida, você consiga se concentrar em fazer bem o que você faz. Aqui estão alguns exemplos para inspirar você:

Lavar as mãos com frequência é a melhor e mais simples maneira de reduzir as infecções respiratórias e a diarreia, as duas principais causas mundiais de mortalidade infantil. Por isso, a gigante do setor de bens de consumo Unilever está ajudando a promover esse hábito por meio de sua marca de sabonetes Lifebuoy. A empresa tem divulgado essa campanha especificamente em países em desenvolvimento, como a Índia, onde, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de 1.000 crianças menores de 5 anos morrem de diarreia todos os dias --a maior taxa de mortalidade infantil do mundo. A Unilever ganha dinheiro com o Lifebuoy e também ajuda a salvar vidas --um exemplo maravilhoso de abordagem empresarial em larga escala relacionada a um sério desafio de saúde pública.

A Gandys é um exemplo --em menor escala-- de empresa que transforma o lucro em benfeitorias. No resort que fica próximo da minha casa, nós estocamos e usamos a edição especial de chinelos “Necker Red”, fabricados pela Gandys. A marca foi criada por Rob e Paul Forkan, dois irmãos britânicos cujos pais morreram no tsunami de 2004, quando a família estava de férias no Sri Lanka (os dois irmãos escaparam por pouco). No momento, eles estão usando os lucros obtidos com o empreendimento para construir um orfanato na Índia. Eles também enviam recursos para outros projetos destinados a ajudar crianças órfãs.

Outros modelos de negócios ajudam a criar empregos ou a promover as atividades empresariais. Desde 2009, a Virgin Unite, nossa fundação sem fins lucrativos, mantém uma parceria com a Christian Aid, uma instituição internacional de fomento ao desenvolvimento, para levar assistência médica a comunidades rurais remotas do Quênia. Apesar de problemas de saúde que vão desde a malária e a Aids até doenças do trato respiratório serem comuns por lá, muitas vezes o acesso aos meios de transportes é difícil, o que significa que a distância entre as casas das pessoas e os hospitais pode determinar se alguém vai viver ou morrer.

Nossas organizações criaram a Rede de Transporte Rural para fornecer aos trabalhadores dos serviços de saúde do Quênia as motos de que eles precisavam para percorrer as distâncias exigidas: mais de 30 trabalhadores motorizados estão atualmente entregando suprimentos, fornecendo assistência médica e aconselhamento em locais remotos do país. O elemento empresarial desse programa é uma inovação particularmente interessante. Os profissionais de saúde fornecem seus serviços para as comunidades durante metade da semana. No restante do tempo, eles podem usar as motos de graça para criar e administrar seus próprios negócios --e alguns até entraram em programas de microcrédito à medida que seus pequenos empreendimentos cresciam. É uma situação ganha-ganha para todos.

Lembre-se de olhar para fora também: ou seja, tente explorar parcerias com pessoas e organizações que têm as habilidades ou perspectivas de que você necessita. Os melhores parceiros podem não ser os mais óbvios. Recentemente, eu me deparei com um grande exemplo: a SimplyHealth, uma empresa de seguro de saúde, está financiando um estudo conjunto realizado por médicos de um consultório sediado em Stowmarket, na Inglaterra, por acadêmicos da Universidade Campus Suffolk, que fica próxima de Stowmarket, e pela equipe da McLaren Applied Technologies para explorar como a tecnologia desenvolvida para monitorar os carros de Fórmula Um pode ajudar a monitorar os níveis de atividade de pessoas que estão lutando contra a obesidade.

Acima de tudo, ouse ser diferente: pense de forma criativa e empreendedora sobre como alcançar suas metas. Pode ser que a fusão entre sua empresa e sua instituição de caridade seja o caminho certo para você seguir adiante. Mas não fique preso ao que as outras empresas estão fazendo: suas habilidades criativas para a resolução de problemas poderão levá-lo a descobrir um novo caminho para o sucesso.

Seja qual for o modelo que você decidir adotar, depois de implementá-lo e colocá-lo para funcionar, você deve continuar se perguntando e perguntando a sua equipe como os diferentes objetivos de seu negócio e de sua instituição de caridade poderão beneficiar seu empreendimento e se influenciar mutuamente. Na Virgin, nosso grupo de empresas trabalha cada vez mais próximo da Virgin Unite. Assim como em todos os tipo de colaboração, a diversidade de perspectivas pode resultar em criatividade real.

Por isso, peça que o pessoal da área de negócios tente cumprir as metas e objetivos da instituição de caridade e solicite a seus colaboradores da área de saúde ou do setor sem fins lucrativos para que façam o mesmo com os seus objetivos empresariais. Grandes ideias surgem quando reunimos pessoas que têm backgrounds diferentes – e pode ser que, em sua área de atuação, a caridade e os negócios não sejam atividades nada antagônicas.