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Promova a diversidade, não a divisão

Richard Branson

27/02/2014 00h01

Pergunta: Como você funde a diversidade cultural dos indivíduos em uma marca lucrativa?

–Jacqueline Ferrell

Resposta: Diversidade é uma vantagem para qualquer empresa e pode ser um fator importante em seu sucesso. Ao longo de mais de 40 anos construindo nossas empresas no Virgin Group, meus colegas e eu vimos repetidas vezes que empregar pessoas de diferentes formações e que possuem várias habilidades, pontos de vista e personalidades ajuda a avistar oportunidades, antecipar problemas e apresentar soluções originais antes de seus concorrentes.

Jacqueline, independente da posição que você ocupa ou do setor em que trabalha, a chave é liderar pelo exemplo: abrace a diversidade, começando pelas escolhas que fizer em suas primeiras contratações. Uma empreendedora que contrata muitas pessoas parecidas com ela e que passaram pelas mesmas experiências descobrirá que está liderando uma equipe menos criativa e de menor ajuda aos clientes, no final resultando em lucros menores. Além disso, você se diverte muito menos!

Na Virgin, as raízes de rock and roll de nossa empresa certamente nos ajudaram a formar uma equipe diversa desde o início –todo tipo de pessoas compartilhava nosso amor por ótima música. Olhando para trás, eu também me recordo de uma caridade que lançamos em 1967, chamada Centro de Orientação ao Estudante, que oferecia ajuda e informação aos jovens em assuntos como sexualidade, aborto, adoção, contracepção, drogas e mais. Nosso slogan era "Dê suas dores de cabeça para nós".

A empatia, compaixão e compartilhamento envolvidos ajudaram a moldar nossa organização. Essas experiências ensinaram a todos em nossa equipe a se conectar com um grupo mais diverso de pessoas, e a longo prazo isso se transformou em uma vantagem. Nós percebemos oportunidades de negócios que caso contrário não perceberíamos, e ao nos aventurarmos em novos setores e mercados, nós celebramos as diferenças, abraçamos a mudança e encorajamos a inovação.

Pesquisas mostram que as empresas que possuem uma força de trabalho diversa têm uma vantagem nítida. Por exemplo, segundo o um relatório do Centro para Inovação do Talento, o poder de compra da comunidade LGBT chegou a US$ 700 bilhões nos Estados Unidos apenas em 2011, e muitas pessoas nesse grupo preferem comprar de empresas pró-gays. A discriminação contra clientes potenciais não faz sentido do ponto de vista econômico, ou de qualquer ponto de vista.

O relatório também revelou alguns dos custos internos de políticas discriminatórias: pessoas LGTB que trabalham em ambientes inamistosos relataram se sentir deprimidas (34%), distraídas (27%) e exaustas (23%), enquanto aquelas que relataram se sentir isoladas no trabalho apresentavam uma probabilidade 73% maior de dizer que pretendiam sair da empresa em até três anos. Os melhores ativos de uma empresa são seus funcionários, e se uma porção significativa deles está disposta a sair, essa é uma emergência que exige sua atenção.

Em uma escala maior, nossa equipe na Virgin notou que as empresas sofrem em países onde a discriminação é sancionada. Um país que tenho observado com crescente preocupação é a Rússia. Nos anos que se seguiram à queda da União Soviética em 1991, a Rússia liberalizou algumas de suas leis voltadas aos gays –ela descriminalizou os relacionamentos homossexuais em 1993– e o país parecia estar no caminho para a igualdade. Mas agora novas leis foram adotadas para intimidar e perseguir os gays. As autoridades russas negam permissão para a realização da parada do orgulho gay e crimes e violência contra russos LGBT estão crescendo. Ativistas foram presos e muitos estão deixando o país. A Rússia atualmente está em 49º em uma lista de 49 países em proteções à comunidade LGBT.

Essas mudanças retrógradas não são apenas moralmente erradas, mas no final prejudicarão até mesmo aqueles que as implantaram. Quando as pessoas trabalham para uma meta comum, elas ficam motivadas, passionais e determinadas. Isso resulta em trabalho com mais afinco e mais inovação. Promover divisões em qualquer grupo, independente do tamanho, nunca é uma política produtiva.

Para desenvolver laços entre seus funcionários, certifique-se de lhes oferecer muitas oportunidades, como festas, passeios e outros eventos, onde possam se conhecer fora do escritório e sem as pressões do trabalho. O desenvolvimento da empatia e da compreensão os ajudarão a superar quaisquer diferenças e a propor novas soluções.

O mesmo pode ser dito dos governos. Os países com políticas discriminatórias de direitos civis deveriam reconhecer seus erros, tratar dos problemas que causaram e seguir em frente. Eles provavelmente serão mais prósperos se o fizerem.

(Richard Branson é o fundador do Virgin Group e de empresas como Virgin Atlantic, Virgin America, Virgin Mobile e Virgin Active. Ele mantém um blog no endereço www.virgin.com/richard-branson/blog. É possível acompanhá-lo no Twitter em twitter.com/richardbranson. Para saber mais sobre o Virgin Group: www.virgin.com.)

(Perguntas dos leitores serão respondidas em futuras colunas. Por favor, as envie para Richard.Branson@nytimes.com e inclua seu nome, país, endereço de e-mail e nome do site ou publicação onde leu a coluna.)