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Sem experiência? Sem problema

20/03/2014 00h01

Pergunta: A Virgin atua em vários setores –você saltou de revistas para discos e viagem aérea, e daí para refrigerantes, voos espaciais e assim por diante. Você precisa ter conhecimento prévio do setor no qual deseja atuar? Como você lançou um negócio atrás do outro e teve sucesso repetidas vezes?

–Hernan Gaytan

Resposta: Empreendedores bem-sucedidos tendem a ter uma curiosidade insaciável a respeito de quase tudo, e com frequência são bons em aprender fazendo. A mente aberta e a postura de posso fazer estão entre o que eles têm de melhor. Hernan, se isso descreve você e está pensando em abrir um negócio, você já está no caminho!

Por favor, não se prenda a essa questão sobre a necessidade de ter experiência em um setor antes de lançar sua empresa. Em vez disso, pense nas mudanças que você gostaria de ver como cliente –mesmo se você tiver notado apenas pequenos detalhes que precisam de ajuste. Uma amálgama dessas mudanças pode se somar em uma grande ideia, o que leva a um novo produto ou serviço que realmente sacode o mercado.

Foi essencialmente assim como nós na Virgin lançamos nossas primeiras empresas bem-sucedidas. Nós éramos bem sensíveis quando começamos, abrindo empresas interligadas como a maioria das empresas fazem. Nós passamos de uma pequena loja de discos para uma gravadora com estúdios de gravação, e então adicionamos nossas grandes megastores de música ao nosso portfólio.

Apesar de sermos fãs de música, nós sabíamos pouco ou nada sobre esses negócios, mas nós aprendemos que isso não era necessariamente uma desvantagem. Nós éramos jovens e teimosos, e gostávamos de fazer as coisas ao nosso modo; paradoxalmente, nossos empreendimentos prosperaram como resultado. Nós descobrimos que nossos clientes gostavam das mudanças que estávamos fazendo, como convidar os fãs de música a passar horas em nossas lojas, para se divertirem e conservarem sobre música, em vez de pressioná-los a fazerem suas compras e irem embora.

O grande salto veio quando decidi que era hora de lançar uma nova companhia aérea transatlântica. A abordagem foi a mesma: eu não sabia nada sobre viagem aérea, mas enquanto voava com frequência entre o Reino Unido e os Estados Unidos a negócios pela Virgin Records, eu me convenci de que devia haver um jeito melhor. Os preços eram altos e o serviço era péssimo.

Quando mostrei aos meus sócios na gravadora a proposta de uma nova companhia aérea, eles acharam que eu tinha enlouquecido. Assim como nossos banqueiros, que nos abandonaram. Ao prosseguirmos com o lançamento, os especialistas e nossos concorrentes disseram que era a ideia errada no momento errado, e que a Virgin Atlantic Airways estava condenada ao fracasso.

Nós provamos que todos estavam errados. Nós tivemos sucesso porque não criamos apenas outra companhia aérea, mas adotamos a mesma abordagem criativa, voltada ao cliente, de nossos negócios envolvendo música. Nós adicionamos todo tipo de pequenos serviços adicionais, o principal sendo a contratação de comissários de bordo que de fato tratavam bem os passageiros –um detalhe que nossos concorrentes ignoraram! Trinta anos depois, essa empresa ainda está estabelecendo o padrão em termos de valor e excelência do serviço que oferecemos.

Quando começamos empreendimentos como a Virgin Mobile no Reino Unido, essa abordagem estava no DNA de nossa empresa. Nós acreditávamos que podíamos melhorar o serviço e o valor oferecido aos clientes de celulares no Reino Unido, então o fizemos. Uma mudança que fizemos foi permitir que nossos clientes comprassem um cartão SIM sem um telefone; isso era muito diferente de outras empresas, muitas das quais exigiam que seus clientes comprassem telefones caros.

Desde que criamos a marca Virgin em 1970, nós lançamos cerca de 400 empresas. Apesar de nem todas terem sido bem-sucedidas, nós aprendemos muito com nossos fracassos. O ponto em comum de nossos sucessos é nosso desejo de fazer algo melhor: nossas equipes de pessoas apaixonadas, engajadas, sempre se divertem colaborando em perturbar as ideias que nossos concorrentes têm a respeito do que os clientes querem.

Atualmente, quando navegamos em águas desconhecidas, nós tentamos contratar um presidente-executivo e membros da equipe executiva que trabalharam no setor e que sabem o que evitar. Essas pessoas frequentemente se juntam a nós oriundas das empresas que dominam o setor, onde as ideias e ambições delas eram reprimidas por práticas hierárquicas, míopes e voltadas apenas para o lucro. Nós procuramos por pessoas que querem promover mudanças radicais em um setor, damos a elas a liberdade de serem criativas e o apoio de nossa marca, e então damos um passo para trás e assistimos elas voarem.

As pessoas comentam como é ótimo a forma como a Virgin pensa "fora da caixa" (de forma não convencional). Elas ficam genuinamente surpresas quando lhes digo: "Na verdade, nós não fazemos isso! Nós apenas não deixamos a caixa ser construída". É uma ótima abordagem, e independente de onde esteja sua empresa ou do setor em que atue, provavelmente vai funcionar para você também.

(Richard Branson é o fundador do Virgin Group e de empresas como Virgin Atlantic, Virgin America, Virgin Mobile e Virgin Active. Ele mantém um blog no endereço www.virgin.com/richard-branson/blog. É possível acompanhá-lo no Twitter em twitter.com/richardbranson. Para saber mais sobre o Virgin Group: www.virgin.com.)

(Perguntas dos leitores serão respondidas em futuras colunas. Por favor, as envie para Richard.Branson@nytimes.com e inclua seu nome, país, endereço de e-mail e nome do site ou publicação onde leu a coluna.)