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Como saber quando é a hora de deixar o ninho (ou o seu filhote)

Richard Branson

31/07/2014 00h02

Pergunta: Há mais de 25 anos, eu ouvi você contar a história de como, na infância, sua mãe largou você a quilômetros de casa para que encontrasse o caminho de volta. Eu não me esqueci disso desde então.

Agora eu sou mãe e minha pergunta é esta: como posso ajudar meu filho Jules, que está estudando negócios, marketing e administração, a deixar nosso negócio imobiliário familiar? É um empreendimento muito lucrativo, mas sei que fazer uma carreira aqui não está no coração dele. Eu quero que Jules seja feliz. Ele quer se mudar para uma cidade grande para ir atrás de seus sonhos, mas é difícil para ele. O medo dele da separação, assim como o meu, o mantém próximo de casa.

Como posso deixá-lo partir? –Lori Loesch

Resposta: Como pai, eu sei quão difícil pode ser deixar os filhos partirem por conta própria e tomarem decisões críticas para suas vidas. Mas você precisa entender que deixar partir não se trata de separação –trata-se de independência.

Ao longo de todos os seus 90 anos, minha mãe, Eve, tem mantido um grande senso de aventura e sempre reconheceu a importância da independência. Ela estabelecia continuamente novos desafios para mim enquanto eu crescia, para que eu (e ela) pudéssemos aprender a confiar na minha capacidade de tomar boas decisões.

A história a qual você se refere é esta: quando eu era pequeno, mamãe parou o carro no meio do nada, a cerca de cinco quilômetros de nossa casa, fez com que eu descesse e me disse para encontrar meu caminho de volta. Eu cheguei em casa são e salvo, mas essa não foi a única vez que minha mãe me testou. Quando eu tinha 12 anos, ele me fez pedalar 80 quilômetros sozinho até a casa de um parente. Além disso, encorajado por minha mãe, eu certa vez pulei em um rio para ganhar uma aposta (isso foi antes de eu aprender a nadar!). Realizar esses feitos não foi fácil, mas me forçou a experimentar o mundo por conta própria. Olhando para trás, a infância foi um triatlo elaborado!

No fundo, deixar partir trata-se de confiar que seu filho tomará as decisões certas por conta própria. Ao que me parece, você criou um bom rapaz –agora é hora de empurrá-lo para sair por conta própria e lhe dar a liberdade de viver a vida que ele deseja.

Nós todos somos produtos de nosso meio. No meu caso, eu sem dúvida herdei o espírito de aventura da minha mãe e o tino dela para os negócios. Ela foi dançarina no West End de Londres, pilotou planador na época da guerra e foi aeromoça. Mamãe foi uma empreendedora antes da palavra ter sido cunhada.

Mas diferente da minha mãe, meu pai, Ted, não perseguiu seu sonho de se tornar um arqueólogo. Em vez disso, ele seguiu relutantemente a tradição da família de praticar advocacia. Pelo restante de sua vida, ele reuniu uma coleção de artefatos antigos e fósseis, que ele chamava de "O Museu". Talvez por ter se arrependido de não ter seguido seu sonho, meu pai sempre encorajou a mim e minhas irmãs, nos estimulando a buscarmos nossas metas, independente de quão improváveis pudessem parecer.

Lori, se Jules não sair pelo mundo e fazer o que ama, ele se arrependerá. E você deve entender que enquanto ele seguir seu próprio caminho na vida, ele cometerá muitos erros –todos nós cometemos. Mas esses erros são experiências essenciais. Se você tiver medo de tomar o caminho errado, você nunca reconhecerá o certo quando ele surgir.

É importante lembrar que a vida não é um ensaio e que nenhum de nós deve desperdiçar nosso tempo fazendo coisas que não acendam as chamas dentro de nós. Minha regra de ouro para os negócios e para a vida é: todos nós devemos gostar do que fazemos e fazermos o que gostamos.

Você mencionou que seu filho trabalhou no negócio imobiliário da família e apesar de soar que você lhe deu uma ótima ética de trabalho, chegou a hora de inspirá-lo. Faça com que Jules saiba que você acredita nele, e ele encontrará a confiança de que precisa para ganhar a independência que merece.

Meus próprios filhos, Holly e Sam, desbravaram seus próprios caminhos na vida. Caso tivessem sido protegidos quando eram mais jovens, talvez não tivessem conseguido se virar por conta própria. Holly estudou para ser médica, enquanto Sam tem sua própria produtora de documentários, a Sundog, que trata de assuntos que variam da mudança climática à guerra contra as drogas. Atualmente, é um prazer imenso para mim –e um benefício para nossos negócios– que ambos dediquem tempo e esforço para nossa fundação sem fins lucrativos, a Virgin Unite. Além disso, eles ajudaram a organizar o Virgin Strive Challenge deste ano –um triatlo épico que começará em Londres no mês que vem e terminará na montanha Matterhorn, na Suíça.

Sair de casa e se mudar para uma cidade grande para começar do zero pode soar assustador, mas é um imenso passo à frente no desenvolvimento como líder e futuro administrador. E apesar de trabalhar no negócio da família poder ser uma grande oportunidade, simplesmente não é algo pelo qual Jules tenha paixão. Dê apoio a ele aprendendo mais sobre os interesses dele em administração, marketing e negócios, para que você possa ajudá-lo a tomar decisões informadas, sensíveis, sobre que caminho seguir nos negócios. Fazer isso também ajudará você a se sentir mais confortável com o potencial de mudança positiva, em vez de apenas se preocupar com os aspectos negativos.

Frequentemente é dito aos jovens que eles não podem conseguir, em vez de serem encorajados a descobrir o que podem. Você pode ajudar na transição de Jules para a independência, mas, no final, ele precisa encontrar seu próprio caminho.

Confie nele e ele confiará em si mesmo.