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Conciliar aprendizado na prática e estudos formais é desafio do empreendedor

O cofundador do Facebook, Mark Zuckerberg, não terminou os estudos formais na universidade - Jim Watson/Reuters
O cofundador do Facebook, Mark Zuckerberg, não terminou os estudos formais na universidade Imagem: Jim Watson/Reuters

Richard Branson

21/08/2014 00h01

Pergunta: Eu sou um arquiteto e um jovem empreendedor. Está bem óbvio que a maioria dos grandes empreendedores do mundo teve problemas com seu aprendizado inicial. Por que isso ocorre? – Akosu Paul

Resposta: É uma pergunta muito boa e uma que me é feita com frequência por estudantes de todo o mundo, enquanto consideram continuar seus estudos ou os largarem para começar seus próprios empreendimentos e mergulhar no mundo dos negócios. Além disso, muitos também querem saber como consegui iniciar minha própria carreira enquanto ainda era um jovem estudante com dificuldades com minha lição de casa, e como consegui que as pessoas no final me levassem a sério como empreendedor.

Olhando para trás, eu acredito que as qualidades que fazem um grande empreendedor –como energia ilimitada, uma natureza curiosa e, às vezes, um lado obstinado– não costumam ser atributos demonstrados pelos melhores alunos em uma sala de aula. Logo, não deveria causar surpresa o fato de muitos dos maiores empreendedores e líderes empresariais do mundo terem tido dificuldades com o ensino formal.

Com frequência, a frustração deles na sala de aula era resultado de impaciência. Os grandes são ávidos por sair e iniciar seus negócios, o que os leva a abandonar o colégio ou desistir de cursar uma faculdade visando seguir seus sonhos.

Por exemplo, Walt Disney famosamente abandonou a escola aos 16 anos e fundou sua empresa de animação, enquanto grandes magnatas americanos do final do século 19 –Andrew Carnegie, Cornelius Vanderbilt e Thomas Edison– tiveram pouca ou nenhuma educação formal antes de saírem em busca de suas fortunas.

Alguns empreendedores, como Carnegie e Henry Ford, o industrial do século 20, vieram de famílias muito pobres e não contavam com apoio em casa para começar –muito menos completar– sua educação formal. Em vez disso, eles abriram negócios para se sustentarem e posteriormente prosperaram.

Mais recentemente, os empreendedores do varejo Philip Green e John Caudwell fizeram fortuna no Reino Unido após abandonarem o colégio e iniciarem suas empresas ainda jovens. E no setor de tecnologia, Steve Jobs, da Apple, Michael Dell, o fundador da Dell Inc., e Larry Ellison, da Oracle, todos abandonaram a faculdade para criar suas empresas, e todos foram recompensados por começarem cedo.

Uma coisa que os empreendedores têm em comum é o talento para verem as coisas de modo diferente. Isso permite que eles identifiquem importantes lacunas nos mercados ou a necessidade de novos setores para atender a demanda de clientes específicos. Mas essa habilidade costuma levar os empreendedores nascentes a se rebelarem contra a conformidade que é comum no ensino tradicional.

Eu não fui exceção e já escrevi em colunas anteriores que não era bom na escola. Eu reagia constantemente contra as regras e autoridade, e gostava de contestar a forma como as coisas "sempre" eram feitas. Minha curiosidade geralmente me colocava em apuros com os professores.

Mas não era apenas minha atitude que era diferente –eu tinha dislexia. Quando eu era jovem, essa dificuldade de aprendizado ainda era pouco pesquisada e costumava ser confundida com preguiça ou burrice. Na escola, eu era considerado lerdo e de fato tinha dificuldade em acompanhar as aulas. Eu inicialmente canalizei minha energia jovem nos esportes, mas após uma lesão, eu dei início a alguns empreendimentos comerciais que não deram certo.

Mas minha dificuldade de aprendizado nunca foi um obstáculo –ela na verdade me deu uma grande vantagem nos negócios, já que podia apresentar uma perspectiva diferente para os problemas e desafios, o que frequentemente me permitia ver as soluções mais claramente. Por exemplo, eu sempre odiei jargões, e fico confuso diante de planos longos e com excesso de palavras. Assim, nos primórdios da Virgin, eu fazia perguntas simples que os outros não faziam. Ao longo dos anos, fazer perguntas simples e o esforço para respondê-las se transformaram em algumas das características mais importantes da Virgin.

Quando eu era jovem, minha inquietude e curiosidade me levaram a criar a revista "Student" quando eu tinha apenas 15 anos. Dirigir a revista serviu como uma educação empresarial –eu aprendi a formar uma equipe, procurar anunciantes, criar conteúdo e vender um produto. Eu era meu próprio chefe e nunca precisei pedir permissão para tentar coisas novas, e quando errava, eu não tinha que temer a ira de um supervisor. Afinal, a disposição para tentar coisas novas e fracassar é importante para se tornar um empreendedor, mas cometer erros vai contra as expectativas do ensino tradicional.

Assim, de muitas formas, minha carreira foi minha educação. Por quase 50 anos, a coleção variada de empresas e entidades sem fins lucrativos da Virgin fez com que eu estudasse e passasse a entender vários setores –aviação, bancos, mídia, hotelaria e academias de ginástica, para citar alguns. Mais recentemente, minha carreira também me deu um novo ponto de vista sobre muitas questões significativas, como mudança climática, solução de conflitos e atendimento de saúde global.

No final, soluções para grandes problemas como esses não vêm de fazer lições de casa, mas de meter a cara, fazer perguntas, ver as coisas de modo diferente e encontrar as respostas nós mesmos.