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Paixão e propósito andam juntos para uma empresa prosperar

Richard Branson

20/02/2015 00h03

P: Dizem que paixão é a chave para o lançamento de uma empresa bem-sucedida. Mas e se você tiver uma boa ideia para um produto ou serviço em um campo pelo você não necessariamente tem paixão? Eu poderia construir um negócio em torno de uma ideia "ah-há!" que tive, que preenche uma lacuna em um mercado existente? Isso levaria ao fracasso, no final?

–Mike Aquan-Assee

R: Abrir uma empresa é um dos maiores desafios da vida, e apenas pessoas realmente determinadas são capazes de encontrar o caminho para o sucesso. Como a paixão é um dos motivadores eficazes, também é um dos indicadores mais fortes sobre se uma ideia levará ao lançamento de uma empresa próspera.

Quando você tiver uma ideia "ah-há!", preste atenção: talvez essa ideia ajude você a identificar uma lacuna no mercado, ou até mesmo a sacudir um setor. Mas o lançamento de uma nova empresa apenas para ganhar dinheiro provavelmente resultará em fracasso; se você não se importar profundamente com sua ideia, como conseguirá motivar outros a trabalharem com você ou a comprarem seu produto ou serviço?

Grandes ideias frequentemente são transferíveis. Se você tem uma ideia que pode funcionar em uma área pela qual você não tem paixão, em vez disso pense em formas como poderia aplicá-la em um setor que lhe atrai. Olhe para sua ideia por uma perspectiva diferente e você poderá se surpreender com os resultados.

Aqui está um exemplo do que quero dizer. Pessoalmente, eu nunca tive boa cabeça para finanças. Nos primórdios da Virgin, nós tivemos alguns relacionamentos realmente turbulentos com bancos. Alguns dos momentos mais difíceis da minha vida foram passados sentado descalço em conselhos diretores tediosos (isso foi durante meus tempos de hippie) discutindo o futuro da Virgin com gerentes de banco.

Compreensivelmente, as pessoas se surpreenderam quando decidi entrar no mundo das finanças com o lançamento da Virgin Money em 1995, mas nossa equipe viu uma ótima oportunidade de reformar o atendimento ao cliente no setor bancário. Apesar de não ser apaixonado por atividades bancárias, atendimento ao cliente é algo que me interessa. Na verdade, é o que move a Virgin.

Nossa equipe queria fazer uma verdadeira diferença em um campo maduro para rompimento, então ingressamos. Desde então nós temos trabalhado incansavelmente para transformar a empresa em um dos principais bancos do Reino Unido, esforçando-se para ser benéfico para todos.

Nossa meta nunca foi simplesmente lucrar: nós queríamos instilar nossa paixão pelo atendimento ao cliente em um setor que era conhecido por carecer disso. Nossa intenção também era reinventar o serviço bancário com nossa abordagem direta e o toque inimitável da Virgin.

Uma de nossas inovações foi o Virgin Money Lounge, baseado em nosso conceito de salas VIP de aeroporto, que foi o primeiro do gênero no setor bancário.

Após a crise financeira de 2008-2009, as pessoas começaram a pensar que os bancos tinham a responsabilidade de ajudar seus clientes a prosperarem, e em educá-los melhor sobre assuntos financeiros. Essa nova consciência mudou o setor: os bancos agora precisam apresentar resultados financeiros e sociais positivos, e respeitar um conjunto firme de valores.

Esse é o motivo fundamental para termos entrado no setor bancário. Nós apenas não tínhamos paixão por finanças; tínhamos paixão por torná-la acessível e compreensível. Nossos esforços deram fruto no final do ano passado, quando a Virgin Money passou a ser uma empresa de capital aberto.

A paixão também é importante porque você precisa inspirar seu pessoal quando você lança uma empresa, e precisa ajudá-los a acreditar em sua visão do futuro. Em outras palavras, você precisa ser um líder passional com um propósito. Líderes assim são fundamentais para o sucesso da Virgin.

Veja Jayne-Anne Gadhia, a presidente-executiva da Virgin Money. Ela está na Virgin Money desde o início, seguindo resolutamente seu lema: nunca desista. E ela não desistiu. Apesar de termos enfrentado vários reveses ao longo do caminho, a paixão dela pela empresa manteve sua mente clara e seu espírito animado.

Apesar de eu não acreditar que paixão possa ser ensinada, eu acho que ela é contagiosa –a de Jayne-Anne certamente é. Quando você acredita em algo, a força de suas convicções provocará o interesse de outras pessoas e as motivará a ajudá-lo a atingir suas metas. Isso é essencial para o sucesso.

Mike, meu conselho para você seria voltar àquele momento “ah-há!” e tentar entender o que motivou você a pensar naquela direção –a paixão por trás da sua ideia pode levar você ao setor ou atividade que realmente lhe interessa. E lembre-se, paixão é mais que uma atitude. É uma exigência para qualquer empreendedor ou líder empresarial.

(Perguntas dos leitores serão respondidas em futuras colunas. Por favor, as envie para Richard.Branson@nytimes.come inclua seu nome, país, endereço de e-mail e nome do site ou publicação onde leu a coluna.)