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Na Índia, inovação em energia, tecnologia e identificação de pessoas se encontram

Funcionário de companhia de eletricidade caminha entre painéis de energia solar em Allahabad, na Índia - Jitendra Prakash/Reuters
Funcionário de companhia de eletricidade caminha entre painéis de energia solar em Allahabad, na Índia Imagem: Jitendra Prakash/Reuters

Em Nova Déli, na Índia

15/02/2013 00h01

Toda vez que visito a Índia, eu visito a Nasscom, a associação de alta tecnologia, para conhecer os mais novos inovadores indianos. Eles representam apenas uma fração minúscula da população de 1,2 bilhão de indianos, cuja maioria permanece dolorosamente pobre, mas eu me concentro nesses inovadores indianos porque muitos deles estão atualmente concentrados em tornar a Índia não pobre.

A Índia está gerando atualmente um grande número de inovadores voltados a resolver problemas do mundo pobre, e ferramentas de tecnologia baseadas em nuvem e plataformas de código aberto estão possibilitando aos inovadores indianos fazer isso com pouco capital. Como resultado, eles estão muito mais dispostos a tentar, fracassar e tentar de novo (o molho secreto do Vale do Silício). E, como consequência, nós estamos começando a ver aqui uma fusão entre TE, TI e RG. Dificilmente poderia ser algo melhor do que isso.

Não há nada que a Índia precise mais do que uma revolução em tecnologia de energia (TE) que proporcione energia elétrica barata e confiável para milhões que sofrem de pobreza em energia. Se todo vilarejo tiver energia elétrica confiável, mais acesso a Internet de banda larga (TI), centenas de milhões de indianos poderiam viver localmente, mas agir globalmente –isto é, eles poderiam continuar vivendo em suas aldeias, mas tendo acesso a educação e mercados que lhes permitiriam escapar da pobreza, sem terem que se juntar às hordas nas megafavelas de megacidades como Mumbai ou Calcutá.

A mais empolgante inovação em TE que vi aqui foi a Gram Power. Cerca de 400 milhões de pessoas na Índia não têm acesso à rede elétrica e, portanto, dependem de querosene, que lança toneladas de dióxido de carbono na atmosfera aqui e custa aproximadamente 1,5 milhão de vidas indianas por ano. A Gram Power desenvolveu uma resposta, diz seu cofundador, Yashraj Khaitan: “Nosso sistema de Micrograde Inteligente envolve uma infraestrutura de geração baseado em fontes renováveis instalada localmente no vilarejo (geralmente painéis solares em uma torre de celular) e um sistema de distribuição de eletricidade proprietário e inteligente, que cuida dos três principais desafios do acesso a energia elétrica confiável na Índia: roubo, que é a principal causa de 58% de perda de eletricidade na rede, custos elevados de capital para ampliação da rede até áreas remotas com baixa população, e oferta de energia elétrica intermitente e imprevisível”.

O sistema da Gram Power tem um custo de capital, acrescentou Khaitan, de “menos do que um sistema doméstico de energia solar, com modelos de preços pré-pagos adequados à renda disponível de nossos consumidores –por apenas US$ 0,20 por dia de recarga, os consumidores podem ligar luzes, ventiladores, rádios e televisores”. Os medidores inteligentes “impedem as pessoas de usar energia em excesso e prioriza inteligentemente diferentes cargas com base nas condições locais”. Após o sucesso do projeto piloto, a Gram Power está prestes a chegar a 20 mil lares e ter 100 torres de telecomunicações cobertas com painéis solares para geração no próximo ano.

O projeto de TI mais interessante que vi foi o Mettl, que desenvolveu uma plataforma de avaliação online para ajudar os gerentes de contratação “a medir as habilidades dos candidatos e funcionários” para determinar se podem realmente executar um trabalho em particular. O Mettl pode “medir as habilidades diretamente aplicáveis em um trabalho em vez de apenas o conhecimento adquirido por memorização”, disse seu cofundador, Ketan Kapoor.

“Até agora”, ele acrescentou, “não era possível medir o que você pode fazer com o que você sabe. Mas a menos que você possa aplicar seu conhecimento em um nível que é útil, ele não significa nada. Conhecimento é um commodity disponível para qualquer um. Ele não é mais um diferenciador no mercado profissional. O diferenciador é o que você pode fazer com esse conhecimento”.

A Mettl também está desenvolvendo um programa para avaliação do aprendizado a distância pela Internet, para que um jovem em um vilarejo indiano remoto possa ser testado de modo confiável sobre seu conhecimento e o professor possa receber feedback imediato. “Nós temos convicção de que conseguiremos resolver o problema do exame a distância e mudar o espaço de aprendizado e avaliação online.”

Agora, case esses avanços em TE e TI com um em RG. Nandan Nilekani, um cofundador da Infosys, está liderando o projeto de Identificação Única da Índia, que visa dar a cada indiano que quiser um número de identidade único de 12 dígitos, acompanhado de foto, impressão digital e escaneamento da íris que para possa ser facilmente verificado online. O sistema está criando uma plataforma que permite ao governo dar ajuda, salários, atendimento de saúde e pensões mais diretamente aos cidadãos, sem temer que isso seja desviado por autoridades corruptas ou identidades falsas. Aproximadamente 270 milhões de indianos obtiveram o número de identidade, com aproximadamente 1 milhão se inscrevendo por dia, ou, como diz Nilekani, “uma Finlândia por semana”. Assim que todo indiano tiver uma “identidade real robusta” baseada na nuvem, me disse Nilekani, você terá uma “plataforma” na qual poderá fornecer todo tipo de serviços –de transferência de dinheiro a prontuários médicos e cursos abertos online.

Resumindo, quando TE e TI encontram o RG, você tem um ciclo virtuoso que pode potencialmente competir com o ciclo de pobreza em energia, escolas falidas e corrupção. Apesar do sucesso em escala para essas novas empresas estar longe de certo, elas são uma amostra do que é possível quando muito mais pessoas no planeta podem se tornar investidores, fabricantes e solucionadores de problemas. Qualquer um que pense que a era da inovação acabou não está prestando atenção.