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A vez dos cursos online

08/03/2013 00h01

Acabo de passar os dois últimos dias em uma grande conferência convocada pelo MIT e Harvard sobre "Aprendizagem Online e o Futuro da Educação à Distância", que também poderia ser chamada de "Como podem as faculdades cobrarem US$ 50 mil por ano se meu filho pode aprender tudo isso de graça em cursos online abertos?"

Você pode pensar que essa revolução de MOOCs [Massive Open Online Course, na sigla em inglês, algo como Curso Online Aberto para Público Massivo] é exagerada, mas o meu motorista em Boston discorda.

Veja você, quem foi me buscar no aeroporto de Logan foi meu velho amigo Michael Sandel, responsável pelo famoso curso socrático de “Justiça” para mil alunos em Harvard, que será lançado dia 12 de março como primeira oferta de humanas da plataforma de ensino online MIT-Harvard edX. Quando ele me encontrou no aeroporto, notei que ele estava usando tênis bastante coloridos.

"Onde você comprou esses tênis?", perguntei. Bem, explicou Sandel, ele tinha estado recentemente na Coreia do Sul, onde seu curso de Justiça foi traduzido para o coreano e exibido na TV nacional. Isso fez dele uma figura tão popular por lá que os coreanos lhe pediram para fazer a primeira jogada cerimonial numa partida de beisebol profissional --e deram-lhe os tênis coloridos para usar!

Sim, um filósofo de Harvard foi convidado para jogar beisebol na Coreia porque inúmeros fãs gostam do jeito como ele os ajuda a pensar diante de grandes dilemas morais.

Sandel havia acabado de dar aulas em Seul, num anfiteatro ao ar livre para 14 mil pessoas, com a participação do público. Suas aulas de Justiça online, com legendas em chinês, já tiveram mais de 20 milhões de visualizações em sites chineses, o que levou o jornal China Daily a observar que "Sandel tem o tipo de popularidade na China que normalmente é reservada a estrelas de cinema de Hollywood e jogadores da NBA.”

OK, nem todos os professores terão seguidores pelo mundo todo, mas a revolução MOOCs, que passará por muitas dores de crescimento, está aqui e é real.

Estes foram os principais pontos que eu extraí da conferência:

As instituições de ensino superior devem passar, como diz o historiador Walter Russell Mead, de um modelo de "tempo de estudo" para um modelo de "coisas aprendidas". Porque cada vez mais o mundo não se importa com o que você sabe. Tudo está no Google.

O mundo só se preocupa, e só pagará, pelo que você pode fazer com o que você sabe. E, portanto, ele não pagará por uma nota C+ em química, só porque sua universidade estadual considera isso uma nota de aprovação e se dispôs a lhe dar um diploma que diz isso. Estamos caminhando para um mundo mais baseado em competências, onde haverá menos interesse sobre a forma como você adquiriu esta competência --num curso on-line, num período de quatro anos de faculdade, ou num curso numa empresa-- e mais demanda para provar que você domina esta competência.

Portanto, temos de ir além do atual sistema de informação e entrega --o professoral "sábio no palco" e alunos tomando notas, seguidos por uma avaliação superficial, em direção a um sistema em que os alunos são convidados e empoderados para dominar mais material básico online em seu próprio ritmo, e a sala de aula se torna um lugar onde a aplicação desse conhecimento pode ser aperfeiçoada através de experimentos de laboratório e discussões com o professor.

Pareceu haver um forte consenso de que este "modelo misto", que combina palestras online com uma experiência em sala de aula liderada por um professor, é o ideal.

No último outono, a San Jose State usou as palestras online e exercícios interativos do curso online de introdução a Circuitos e Eletrônica do MIT. Os alunos assistiam às palestras do MIT e faziam os exercícios em casa e, depois, iam para a aula, onde os primeiros 15 minutos eram reservados para perguntas e respostas com o professor da San Jose State, e os últimos 45 minutos eram dedicados à resolução de problemas e discussão.

Dados preliminares indicam que o número de alunos aprovados no curso passou de 60% para 90%. E uma vez que esse curso é o primeiro passo para um diploma em ciência e tecnologia, isso significava que um terço a mais de alunos potencialmente avançaram na direção de um diploma e uma carreira nesta área.

Exigimos que os encanadores e os professores de jardim da infância sejam certificados para fazer o que fazem, mas não há exigência para que professores universitários saibam ensinar.
Não mais. O mundo da MOOCs está criando uma concorrência que obrigará cada professor a melhorar a sua pedagogia ou enfrentar um concorrente virtual.

O balanço: Ainda há um valor imenso na experiência residencial universitária e nas interações professor-aluno e aluno-aluno que ela facilita. Mas, para prosperar, as universidades terão de nutrir ainda mais essas experiências únicas enquanto as mesclam com a tecnologia para melhorar os resultados do ensino de formas mensuráveis, a custos mais baixos. Ainda precisamos de mais pesquisas sobre o que funciona, mas ficar parado não é uma opção.

Clayton Christensen, professor da Escola de Administração de Harvard e especialista em inovação, deu uma palestra muito interessante sobre o quanto a universidade tradicional de hoje tem em comum com a General Motors da década de 1960, pouco antes de a Toyota utilizar uma tecnologia revolucionária para vir do nada e derrubar a GM. Christensen observou que a Escola de Administração de Harvard não ensina mais contabilidade básica, porque há um professor na Universidade Brigham Young cujo curso online de contabilidade "é simplesmente tão bom" que os alunos de Harvard o utilizam no lugar. Quando o que é excepcional se torna disponível tão facilmente, não há lugar para o mediano.