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Como esta guerra termina

Thomas L. Friedman

Em Ramallah (Cisjordânia)

05/08/2014 00h02

Eu adiei minha viagem a Israel na esperança de que a situação em Gaza se esclarecesse – não em termos do que está acontecendo, mas em como poderia terminar de uma forma estável. Estando aqui agora, está claro para mim que há uma forma desta guerra cruel não apenar acabar, mas acabar de uma forma na qual os moderados na região, que há muito estão em fuga, poderiam ganhar a iniciativa. Mas – e aqui é onde alguma fuga da realidade é necessária para ser esperançoso – obter algo assim decente exigiria um nível de liderança de partes cruciais que simplesmente nunca foi manifestado por qualquer um deles. Esta é uma geração de líderes árabes, palestinos e israelenses que são especialistas em construção de túneis e muros. Nenhum deles jamais adotou o curso de pontes e portões.

Eu estava por acaso na embaixada americana em Tel Aviv, na última sexta-feira, quando as sirenes de ataque aéreo soaram devido a um foguete do Hamas vindo na direção da cidade. No porão da embaixada, em tive um momento de tranquilidade para pensar em quanta criatividade foi dedicada ultimamente à guerra por aqui e quão pouca à paz. Israel desenvolveu um sistema interceptador de foguetes, o Domo de Ferro, que pode calcular imediatamente se um foguete do Hamas lançado de Gaza atingirá uma área habitada em Israel – e precisa ser interceptado – ou se cairá no mar, em campos rurais ou no deserto e, portanto, pode ser ignorado, economizando assim o custo de US$ 50 mil de um interceptador. O sistema não é apenas inteligente; ele é frugal. Se este governo israelense tivesse aplicado a mesma genialidade para tentar fechar um acordo com a Autoridade Palestina moderada na Cisjordânia, o Hamas estaria muito mais isolado globalmente hoje – não Israel.

Enquanto isso, o Hamas, usando pás, picaretas e pequenas brocas, desenvolveu um labirinto de túneis subterrâneos em Gaza, sob o nariz de Israel, com alguns penetrando no território israelense. Se o Hamas – que apenas trouxe ruína à população de Gaza, mesmo em tempos de calma – tivesse aplicado a mesma genialidade para construir acima do solo, ele teria criado a maior empresa contratante no mundo árabe a esta altura, e muitas escolas.

Toda guerra aqui termina em algum momento e, quando esta acabar, eu não acho que voltaremos à situação anterior. Mesmo antes da ocorrência de um cessar-fogo estável, autoridades israelenses e da Autoridade Palestina aqui estão discutindo os princípios de um acordo duradouro para Gaza. Dado o fato de que o Egito, Jordânia, Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos odeiam o Hamas – por causa de seus laços com a Irmandade Muçulmana – tanto quanto Israel, existe o potencial para um acordo em Gaza que realmente alinhe os árabes e palestinos moderados e Israel. Mas não será barato. Na verdade, isso exigirá que Israel, o Hamas e os Estados Unidos abandonem as velhas regras sobre quem não conversa com quem.

Este é o motivo: o Hamas tem sido um adversário formidável para Israel e é improvável que pare esta guerra sem algum acordo para o fim do bloqueio israelense-egípcio a Gaza. Israel provavelmente não parará esta guerra sem ter eliminado a maioria dos túneis do Hamas e empossado um regime que em grande parte desmilitarize Gaza e impeça a importação de mais foguetes.

Como nem Israel e nem o Egito querem governar Gaza, a única chance dessas metas serem implantadas é se a Autoridade Palestina moderada aqui em Ramallah, liderada pelo presidente Mahmoud Abbas, for convidada a voltar para Gaza (de onde foi expulsa pelo Hamas em 2007). E como me explicou um dos altos consultores de Abbas, Iasser Abed Rabbo, a única forma de isso acontecer seria se os palestinos formassem um governo de unidade nacional, incluindo o Hamas, e se Israel concordar em retomar as negociações com esse governo sobre o fim da ocupação da Cisjordânia.

A Autoridade Palestina não tem a intenção de se tornar uma policial de Israel na Cisjordânia e em Gaza de graça. "Para o inferno com isso", disse Abed Rabbo. Para que a Autoridade Palestina possa voltar como algo capaz de mudar o jogo, será como chefe de um governo palestino de unidade nacional, com a participação do Hamas e da Jihad Islâmica, que negociaria com Israel, ele disse. Se o Hamas e Israel quiserem acabar com esta guerra com alguns de seus ganhos intactos, ambos terão que ceder algo à Autoridade Palestina.

Ninguém deve esperar, disse Abed Rabbo, que "nós, 'os idiotas moderados', nos sentaremos ali e jogaremos a favor do Hamas ou de Israel sem obter nada em troca disso, e voltaremos às mesmas velhas negociações onde" Israel apenas diz "blá blá blá". Se fizermos isso de novo, "meus filhos me expulsarão de casa".

"Nós precisamos de uma reconciliação palestina séria para então podermos ir ao mundo e dizer, 'OK, Gaza se comportará como um local pacífico, sob a liderança de uma frente palestina unida, mas, (Egito), você abre seus portões, e, Israel, você abre seus portões'", disse Abed Rabbo. Os países árabes moderados então contribuiriam com os fundos para reconstrução.

A menos que o Hamas ou Israel derrote totalmente o outro – improvável – é difícil para mim ver como algum lado sairá desta guerra com os ganhos duradouros que deseja sem ceder algo politicamente. Israel terá que negociar a sério uma retirada da Cisjordânia e o Hamas terá que servir em um governo de unidade palestino e abdicar da violência. Eu posso lhe dizer 17 motivos para que isso não aconteça. Mas não consigo pensar em nenhuma outra saída estável.