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Sem assunto para o Dia de Ação de Graças? Experimente estes tira-gostos

A direita israelense isola o país no cenário internacional, jovens muçulmanos carentes de lideranças se volta para o Estado Islâmico: assuntos "leves" para o Dia de Ação de Graças - Reuters
A direita israelense isola o país no cenário internacional, jovens muçulmanos carentes de lideranças se volta para o Estado Islâmico: assuntos 'leves' para o Dia de Ação de Graças Imagem: Reuters

28/11/2014 00h01

O dia de Ação de Graças é uma oportunidade para as conversas na mesa de jantar. Se você estiver com poucas notícias tira-gosto para mastigar, aqui vão algumas que talvez você tenha perdido.

Para começar, é verdade que o mundo seria mais seguro se nós tivéssemos um acordo para deter o programa nuclear iraniano. Mas, se os iranianos e seus vizinhos árabes não protegerem e preservarem seu meio-ambiente, a Mãe Natureza vai aniquilá-los muito antes de atingirem um ao outro. Leia o ensaio de Chandran Nair no “The International New York Times” do dia 10 de novembro, de Isfahan, a terceira maior cidade do Irã: “A principal artéria que percorria a cidade era o rio Zayanderud, uma via que alimentou algumas das primeiras civilizações registradas na história e sustentou o povo de Isfahan até os tempos modernos. Mas, há dois anos que o rio está seco. Não é que suas margens tenham se aproximado – elas simplesmente não estão mais lá. Em seu lugar está um leito de rio desertificado... os poços secaram e os ecossistemas foram destruídos”.

A crise foi produzida por uma prolongada seca, que vem e vai desde 1999, e subsídios da água indisciplinados e populistas por parte dos aiatolás, tentando ganhar o apoio da indústria, dos agricultores e dos pobres. A duplicação da população do Irã nos últimos 40 anos agravou o problema. Mas os governantes do Irã têm medo de voltar atrás agora e provocar uma revolta popular. O Irã em breve vai precisar de uma grande quantidade de energia nuclear - para dessalinizar água.

Falando em população, este foi um tema quente no Congresso Mundial de Parques, em Sydney (Austrália), na semana passada, diante dos novos dados populacionais surpreendentes da ONU. De acordo com um artigo de 18 de setembro na revista Science, “a análise dos dados revela que, ao contrário do que se dizia anteriormente, é improvável que a população mundial pare de crescer neste século. Há uma probabilidade de 80% que a população mundial, de atualmente 7,2 bilhões de pessoas, aumente para algo entre 9,6 bilhões e 12,3 bilhões em 2100... Grande parte do aumento deve acontecer na África, em parte devido a taxas de fecundidade mais elevadas e a uma recente desaceleração no ritmo de queda da fecundidade”.

Nós acabamos de adicionar dois bilhões de pessoas ao planeta neste século! Se os ecossistemas e as florestas que nos fornecem água e ar limpos estão estressados com 7,2 bilhões de pessoas aqui, o que acontecerá com 12,3 bilhões? Passe-me um pouco de vinho com esse tira-gosto.

Talvez você tenha perdido esta outra: segundo o “The Times of Israel” do dia 24 de outubro, o presidente de Israel, Reuven Rivlin, denunciou “o que ele vê como uma epidemia de racismo anti-árabe”, dizendo a um grupo de acadêmicos israelenses: “A sociedade israelense está doente, e é nosso dever tratar esta doença”.

Na verdade, o fato de Rivlin falar abertamente é um sinal de saúde. Assim como o ensaio de Shabtai Shavit, ex-chefe do Mossad, no jornal Haaretz nesta segunda-feira (22), dizendo: “Eu estou verdadeiramente preocupado com o futuro do projeto sionista. Estou preocupado com a massa crítica das ameaças contra nós, por um lado, e a cegueira do governo e a paralisia política e estratégica, do outro... Estou preocupado que, pela primeira vez, vejo altivez e arrogância, além de uma forma de pensar messiânica que se apressa em transformar o conflito em uma guerra santa… A direita, em sua cegueira e estupidez, está empurrando a nação de Israel para a posição desonrosa da ‘nação solitária que não é reconhecida entre as nações’”. Shavit disse que Israel deve iniciar um esforço de paz, com base na iniciativa de paz árabe que apela para a paz total com retirada total.

No mesmo dia, Ori Nir, cobrindo os palestinos para o “Haaretz”, escreveu seu próprio ensaio brutalmente honesto: “Os palestinos não têm uma figura nacional com a integridade de Rivlin. Eu gostaria que tivessem, porque sua sociedade também está muito doente, de fato, e lhe faria bem uma autocrítica Rivlinesca”.

Basta ler o elogio que o Hamas, o Parlamento da Jordânia e os comentaristas árabes fizeram aos dois palestinos que assassinaram quatro judeus em oração em uma sinagoga em Jerusalém Ocidental para saber o quão doente está sua sociedade. E basta observar o fluxo contínuo de jovens muçulmanos ao Estado Islâmico, ou ouvir a promoção do ódio pelo presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan - que declarou Israel culpado de um “barbarismo que supera Hitler”- para saber toda esta região precisa de um psiquiatra.

Nir descreve bem a situação: “Sem líderes que inspiram a esperança de um futuro de paz, os jovens israelenses e palestinos perderam a capacidade de sonhar, de imaginar uma realidade diferente... Eu sei que, mesmo que a ocupação acabasse amanhã, a cura demoraria muitos anos. Mas a cura só será possível quando as duas sociedades se separarem, para que possam cuidar de suas próprias doenças. Temos que permitir que a cura comece”.

Por fim, a cidade de Ferguson, em Missouri, nos faz lembrar de nossas próprias feridas de desconfiança que precisamos curar. O veredicto controverso foi anunciado no mesmo dia em que o presidente Barack Obama concedeu as Medalhas Presidenciais da Liberdade, que também nos lembraram que a reparação de nossa divisão racial ainda é uma obra inacabada. Entre os homenageados, estavam os três trabalhadores dos direitos civis mortos no Verão da Liberdade de 1964. Outro foi Charlie Sifford, golfista negro que ajudou a abrir o PGA Tour para os negros e pavimentar o caminho para Tiger Woods. E outro foi Stevie Wonder que, como disse Obama, “canalizou suas visões interiores em mensagens de esperança e cura”.

Isso já deve dar muito o que falar.