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Bin Laden estragou e continua a estragar os Estados Unidos

World Trade Center 1, em Nova York, nos Estados Unidos  - Gary Hershorn/Reuters
World Trade Center 1, em Nova York, nos Estados Unidos Imagem: Gary Hershorn/Reuters

Thomas L. Friedman

04/12/2014 00h01

Voando para Nova York outro dia, pude dar minha primeira boa olhada para a Freedom Tower, agora conhecida como 1 World Trade Center, o arranha-céu localizado no ponto zero do 11 de Setembro. Ele de fato arranha o céu, chegando a patrióticos 541 metros. Treze anos depois do atentado contra os Estados Unidos, aprecio o orgulho nacionalista de que, apesar dos terroristas poderem derrubar nossos prédios, nós simplesmente podemos reconstruí-los. Engula isso, Osama Bin Laden.

Quem dera a história terminasse aí. A propósito, Bin Laden realmente nos estragou e continua a fazê-lo. Nós apagamos as ruínas do World Trade Center, mas a política externa de medo que o 11 de Setembro gerou ainda está dentro de nós --em excesso. Ela permanece nas entrelinhas de muito do que fazemos no mundo hoje, o motivo para ser o subtítulo de um novo livro de David Rothkopf, "National Insecurity: American Leadership in an Age of Fear" ("Insegurança nacional: a liderança americana em uma era de medo", em tradução livre).

Grande parte do livro é um olhar por dentro de como a política externa foi elaborada sob dois presidentes desde o 11 de Setembro. Mas, em muitas formas, a verdadeira estrela do livro, a moldadora suprema de tudo, é essa "era do medo" que distorceu nossas instituições e prioridades. Ela desaparecerá algum dia ou Bin Laden será para sempre aquele presente que continua dando frutos? Essa é a pergunta que enviei por e-mail para Rothkopf, editor da revista "Foreign Policy".

"A era pós-11 de Setembro não será vista como a era dourada da política externa americana", ele respondeu. "Em grande parte, isso se deve ao 11 de Setembro ter sido um golpe emocional para os Estados Unidos que, em um instante, mudou nossa visão de mundo, criando um senso intensificado de vulnerabilidade." Em resposta, "nós não apenas exageramos a ameaça, como reordenamos nosso pensamento para torná-la o princípio organizador central de elaboração de nossa política externa".

Isso foi um erro em muitos níveis, insistiu Rothkopf: "Isso produziu não apenas a reação exagerada e os excessos dos anos Bush, como também produziu a oscilação do pêndulo na direção oposta de Obama --que buscava ser o não-Bush, mas ao mesmo tempo temia parecer fraco nessa frente" --daí dobrando a presença no Afeganistão e voltando a intervir no Iraque, em parte por temer que se não o fizesse, e fôssemos atingidos por um ataque terrorista, ele seria culpado.

O medo de ser culpado pelos temerosos se transformou em uma força potente em nossa política. Rothkopf acrescentou que nós já passamos mais de uma década "reagindo ao medo, a uma ameaça mínima, deixando nos redefinir, e fracassando em nos erguermos como deveríamos aos desafios maiores que enfrentamos --seja a reconstrução doméstica, a reordenação de poder mundial, a mudança dos modelos econômicos que não mais criam empregos e riqueza como costumavam" ou a criação de "novas instituições internacionais, porque as velhas são antiquadas e disfuncionais".

Colocando de outra forma, ele disse --e eu concordo com isso-- o foco no terrorismo, somado com nossa política, "matou o pensamento criativo" em Washington e de quaisquer aspirações na política externa. Veja o tempo e dinheiro que os republicanos nos forçaram a gastar debatendo se o ataque ao consulado americano em Benghazi, Líbia, foi uma trama terrorista ou um evento espontâneo --ao mesmo tempo não dando a menor atenção à questão real: o fracasso bipartidário resultante de nossa remoção do ditador líbio, o que deveríamos aprender com isso e como, talvez, consertá-lo.


Eu solidarizo com o presidente Barack Obama por ter que lidar com um mundo tão complicado, onde as principais ameaças vêm de Estados em ruínas, que só podem ser tratados por meio de sua reconstrução a um custo imenso, com resultados incertos e parceiros duvidosos. Os americanos não querem esse trabalho. Mas esses Estados desordenados criam aberturas para terrorismo de baixa probabilidade e alto impacto, onde uma tentativa com sorte, de uma em um milhão, pode realmente nos ferir. Nenhum presidente deseja ser aquele que está no poder quando algo assim acontece. Mas um número muito maior de americanos morreu por atropelar cervos na estrada no ano passado do que por terroristas. Eu não acho que Obama se saiu tão mal navegando em meio a todas essas contradições. Mas ele fez um péssimo trabalho de explicar o que estava fazendo e em conectar sua contenção com metas políticas maiores em casa ou no exterior.

Como argumenta Gautam Mukunda, um professor da Escola de Administração e Negócios de Harvard e autor de "A Liderança Indispensável", nossa dependência excessiva de cercas, por assim dizer, desde o 11 de Setembro nos distraiu do desenvolvimento de resiliência como costumávamos fazer, investindo em educação, infraestrutura, imigração, pesquisa financiada pelo governo e regras que incentivam tomada de risco, mas impedem a imprudência.

"Nós costumávamos investir nessas coisas mais do que qualquer outro", disse Mukunda, "porque ofereciam retornos de alta probabilidade e alto impacto"; Agora nós não mais o fazemos, e estamos menos resilientes em consequência --independente de quantos muros erguemos. Nós também não estamos investindo o suficiente em inovações de baixa probabilidade e alto retorno --como a Internet ou o GPS-- que nos distinguiram como nação e aumentaram nossa resiliência. "Nós vivemos em um mundo onde pequenas apostas podem dar retornos imensos", disse Mukunda.

Quando você olha para o esforço que nossos líderes agora dedicam a prevenir ataques terroristas de baixa probabilidade e alto impacto --ou protegendo a si mesmos das acusações de não tê-lo feito-- em vez de repensarem e investirem nas fontes comprovadas de nossa força nesta era de rápida mudança, disse Mukunda, "é algo altamente desequilibrado".