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Esta eleição israelense importa

18/12/2014 00h01

O primeiro-ministro Bibi Netanyahu marcou o dia 17 de março para uma nova eleição em Israel. Israel teve eleições críticas antes, mas esta talvez seja a mais importante, porque o direito israelense hoje já não é dominado pelos falcões de segurança e do livre mercado como Netanyahu.

Ele é dominado por colonos da Cisjordânia e fanáticos religiosos nacionalistas assustadores como Naftali Bennett que, se dirigirem o próximo governo e efetivamente anexarem a Cisjordânia, conduzirão Israel para um canto escuro, cada vez mais alienado da Europa, dos EUA e da próxima geração de judeus americanos.

Ao mesmo tempo, a vizinhança de Israel nunca esteve tão cheia de ameaças. Se a centro-esquerda e a centro-direita israelense quiserem evitar o futuro sul-africano que a extrema-direita israelense está oferecendo, então elas têm que criar uma coalizão que possa convencer a maioria silenciosa israelense de que entendem e sabem como enfraquecer essas ameaças _e permitir que Israel se retire de forma segura da maior parte da Cisjordânia, em um acordo negociado com os palestinos ou até mesmo unilateralmente.


“É impossível exagerar a importância das eleições de 2015”, escreveu Ari Shavit, colunista do “Haaretz” na semana passada.

 

“Desta vez, a questão não é sobre o preço de um apartamento ou do (queijo) cottage, mas se vai haver uma lar para nós no final. Desta vez, a disputa não é sobre conveniências, mas sobre o núcleo da nossa existência. Porque, desta vez, as forças internas que ameaçam a democracia israelense e o empreendimento sionista têm um poder sem precedentes”.

Então, como pode o centro israelense concorrer nesta eleição crucial?

A melhor abordagem que eu ouvi é a de Amos Yadlin, ex-chefe de inteligência de defesa de Israel e o piloto que lançou a bomba pelo telhado do reator nuclear de Saddam Hussein.

Yadlin, que hoje dirige o Instituto de Israel para Estudos de Segurança Nacional, argumentou que o centro político de Israel precisa basear sua campanha nos valores fundamentais de seu primeiro-ministro fundador, David Ben-Gurion.

Ou seja, um Estado de Israel “que entende os limites do poder de um pequeno país” e se foca exclusivamente em construir “um Estado que tem uma maioria judaica, um Estado que é democrático, onde todos os cidadãos são iguais, um Estado que é seguro mesmo em um ambiente ameaçador e um Estado cujo calibre moral é tão valorizado quanto era no passado”.

E isso significa um Estado com uma fronteira clara e segura com seus vizinhos palestinos.

Yadlin é um analista de cabeça-dura. Ele teme que a direita israelense esteja completamente fora de sintonia com a posição do país no mundo, e a esquerda, com os perigos no bairro.

Embora ele saiba que talvez não seja possível alcançar todos os objetivos de Ben-Gurion (e talvez Israel não tenha um parceiro palestino), ele quer que o próximo governo de Israel siga tentando _e tentando- alcançá-los.

O que o distingue de Netanyahu e da direita israelense é que Yadlin não está à procura de desculpas para dizer que Israel não tem um parceiro de negociação, como fez Netanyahu por medo de que negociações genuínas sobre as fronteiras destruiriam sua coalizão de governo de direita, ou como fazem os colonos judeus porque sabem que negociações genuínas acabariam com sua visão messiânica de controlar a Cisjordânia para sempre.

Yadlin quer que o próximo governo de Israel aplique “todo o espírito inovador e os cérebros de Israel” para “pensar fora da caixinha”, de forma a encontrar um caminho seguro para avançar. Ele desenhou três caminhos para mim, com base no aplicativo de trânsito Waze.com, criado por israelenses.

“Tal como acontece com o Waze, se uma rota está bloqueada, ele escolhe uma via diferente para o mesmo destino”, disse Yadlin. “Nós propomos a rota negociações bilaterais; a rota da Iniciativa Árabe de Paz; e a rota independente”.

A rota preferida para Yadlin “é a das negociações bilaterais com os palestinos para chegar a um acordo permanente. Se este caminho se provar impossível, como foi provado em 2013-14, então será hora de passar para o segundo, de uma Iniciativa de Paz Árabe reformada”.

Tentar aproveitar a disposição dos Estados árabes de normalizar as relações com Israel caso chegue a um acordo com os palestinos. Quanto mais os Estados árabes colocarem à mesa, mais os palestinos podem oferecer a Israel e terão mais cobertura das concessões que terão de fazer.


“Se este caminho também estiver bloqueado”, disse ele, “teremos que avançar para uma faixa independente que garanta a solução de dois Estados. Israel assegurará as fronteiras de forma a garantir uma maioria judaica e um Estado seguro”.

Netanyahu ainda será um candidato extraordinário, mas, curiosamente, sua popularidade despencou quando ele convocou novas eleições. Eu sei por que: os israelenses, embora duvidem das intenções palestinas e tenham pavor de sua região, estão cansados de um líder que continua dizendo que não há saída, que todo mundo nos odeia e que o futuro será cheio de ontens.

Em um país cujo hino nacional é “Hatikva” _“A esperança”_ o primeiro-ministro passou a simbolizar o oposto para muitos israelenses, que ainda querem alguém com os atributos de Ben-Gurion, que busque sempre uma possibilidade de esperança. O candidato ou o partido israelense que entender isso terá grandes chances de ganhar.