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Não posso pensar em uma época em que mais pessoas estavam concorrendo à presidência e menos ofereciam algo além dos itens gerais ensaiados nas enquetes para unir suas próprias bases. Ninguém nos surpreende com algo ousado. Se fosse possível cobrar impostos sobre os seus clichés, equilibraríamos o orçamento.

O plano sensato do presidente Barack Obama para expandir o comércio livre no Pacífico e associá-lo a proteções ambientais e aos trabalhadores foi derrotado pelos democratas da Câmara --com a assistência dos republicanos de direita e elogios de Hillary Clinton. Isso foi um mau sinal, indicando que muitos democratas estão se polarizando na esquerda populista. Como os republicanos já purgaram seus moderados, esta tendência não é de bom augúrio para o país. Isso significa que as misturas híbridas/centristas que criam as soluções mais resistentes em muitas questões estão “fora do baralho”. Se esse for o caso, as chances são estreitas que você possa transmitir o sonho americano para seus filhos.

Basta fazer uma lista. Com taxas de juros tão baixas, Washington deveria estar pegando bilhões em empréstimos para investir em infraestrutura --estradas, portos, aeroportos e conectividade do século 21, pesquisa médica e ciência básica-- para tornar-nos mais produtivos e criar empregos. E devíamos estar emparelhando isso com o corte progressivo de benefícios e controles rígidos para candidatos à Previdência Social e Medicare para assegurar que estas redes de segurança, bem como as despesas discricionárias em educação e pesquisa, continuarão lá para a próxima geração.

Em plena era do conhecimento, é uma loucura formarmos os jovens mais brilhantes do mundo em nossas faculdades para depois simplesmente enviá-los para casa. Nós deveríamos estar dando greencards para cada empreendedor de alto QI que quisesse trabalhar nos Estados Unidos, bem como aos imigrantes enérgicos menos qualificados. Sim, isso deve ser feito legalmente, seguindo um plano e com as fronteiras bem reguladas. Precisamos de um muro alto, mas com um portão grande. Veja quantas empresas hoje são dirigidas por imigrantes recentes.

Dado o incrível poder que as novas tecnologias dão tanto aos governos quanto aos terroristas, precisamos de uma American Civil Liberties Union (Aclu) forte e de uma Agência de Segurança Nacional forte. Na era virtual, é preciso ter uma Aclu observando os observadores. Mas você também deve querer uma NSA acompanhando pessoas revoltadas e com superpoderes da internet. Talvez os absolutistas das liberdades civis acreditem que os tempos de 11 de setembro ficaram para trás, mas e os jihadistas fanáticos que usam o Facebook, Twitter e WhatsApp como seu sistema de comando e controle? Se quisermos evitar outro 11 de setembro, precisamos nos preocupar tanto com os Grandes Terroristas e Grandes Criminosos quanto com o Grande Irmão.

Como é possível não termos implementado um imposto sobre o carbono que seja usado para reduzir impostos sobre os salários que desestimulam a contratação e diminuir os impostos corporativos que reduzem o investimento? Muitos economistas --de esquerda, de direita e do centro-- concordam que um imposto sobre o carbono, com ajustes para pessoas de baixa renda, faz todo o sentido. Como é que os nossos dois partidos não podem concordar com soluções imaginativas para aliviar a carga de US$ 1,2 trilhão em empréstimos estudantis em circulação --digamos, permitindo que os formandos paguem os empréstimos estudantis com sua renda bruta, da mesma forma permitida aos trabalhadores quando poupam em suas contas de aposentadoria chamadas 401(k)? O Highway Trust Fund, a principal fonte de financiamento para estradas e transporte de massa está quebrado principalmente porque os republicanos da Câmara não concordam com um aumento no imposto sobre a gasolina federal, que não sofreu reajustes desde 1993!

Por fim, agora que o Obamacare é lei, os republicanos deveriam estar se unindo aos democratas para fortalecer o programa e expandir suas ferramentas de forma a cortar os custos médicos --ao invés de continuar a tentar matar essa solução para atendimento médico que é baseada no mercado e originalmente foi uma ideia republicana.

O partidarismo é vital para uma democracia saudável --mas não quando se torna um fim em si mesmo, apenas um motor para os políticos arrecadarem mais dinheiro para vencerem mais eleições para arrecadarem mais dinheiro-- sem nunca ousarem parar e desafiar a sua própria base quando necessário. No Vale do Silício, quando você colabora com os outros, você cria grandes produtos. Em Washington, quando você colabora, você destrói sua carreira. Os automóveis híbridos e as plantas híbridas são as soluções mais resistentes, mas na política de hoje, o hibridismo é tóxico. Eventualmente isso vai minar a nossa força.

Gostei do que disse Clive Crook, um colunista da “Bloomberg View”: “Será que algum pensador político que se preze ainda pode ser de centro? Eu diria que sim. Para mim, a questão é como qualquer pensador político que se preze pode ser qualquer outra coisa”. Como você pode ter uma discussão séria de política pública sem reconhecer as contrapartidas? Perguntou Crook. “Os verdadeiros crentes de direita e de esquerda organizam suas ideias em torno da esperança da falta de ideias. Para os progressistas, a ‘justiça’ triunfa sobre tudo; para os conservadores, a ‘liberdade’. Contrapor esses valores com qualquer outra coisa é uma violação moral -mas, por sorte, essa necessidade nunca surge. Para os progressistas, você pode aumentar os impostos sem desencorajar os esforços, e exigir salários mais altos sem reduzir a demanda por trabalho. Para os conservadores, você pode cortar impostos sem prejudicar os serviços públicos essenciais e reverter as regulamentações sem colocar ninguém em risco. Se os centristas não tentassem sempre ser tão educados, eu chamaria essa aversão a contrapartidas de infantil”.

O centrismo, observou Crook, não é necessariamente bom ou ruim. Pode ser “inútil ou produtivo, preguiçoso ou enérgico, tímido ou valente”. Em seu melhor, talvez não seja inspirador, mas tem uma chance muito maior de prolongar o sonho americano do que qualquer partido por si só.