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Se eu fosse israelense, o que acharia do acordo com o Irã?

Action Press/Honopix/Folhapress
Imagem: Action Press/Honopix/Folhapress

Thomas L. Friedman

13/08/2015 00h03

Com os EUA e Israel discutindo abertamente o acordo nuclear do Irã, eu me fiz esta pergunta: o que eu acharia deste acordo, se eu fosse um vendedor de verduras, um general ou o primeiro-ministro israelense? 

Se eu fosse um vendedor de verduras israelense acompanhando esse acordo pelo rádio, eu o odiaria por que consagra o direito do Irã de enriquecer urânio, sendo que o Irã mentiu diversas vezes para expandir essa capacidade, apesar de ter assinado o Tratado de Não-Proliferação Nuclear.

Afinal de contas, o Irã faz marchas de “Morte a Israel” e, em 2006, patrocinou uma conferência para promover a negação do Holocausto. Além disso, a milícia xiita libanesa Hezbollah, associada ao Irã, começou uma guerra não provocada com Israel em 2006, e quando Israel retaliou contra alvos militares e civis da Hezbollah, disparou milhares de foguetes fornecidos pelos iranianos contra Israel. Não –independentemente das salvaguardas– eu, como vendedor de verduras em Israel, rejeitaria esse negócio apaixonadamente. 

Se eu fosse um general israelense, eu partilharia do ceticismo do vendedor, mas chegaria à outra conclusão (como muitos oficiais israelenses fizeram). Eu começaria por recordar o que o estadista israelense Abba Eban costumava dizer quando os falcões israelenses argumentavam contra assumir riscos para obter a paz com os palestinos, que Israel não é “uma Costa Rica desarmada”. Não apenas possui algo entre 100 e 200 armas nucleares, como também pode despachá-las ao Irã por avião, submarino e foguetes de longo alcance. Eu também observaria o motivo pelo qual a Hezbollah não fez nenhum ataque não provocado a Israel desde 2006: que sabe, por experiência, que a doutrina estratégica de Israel é que “nenhum inimigo vai ser mais louco que nós e nos fazer sair desta região”. 

Quando necessário, Israel usa o que eu chamo de “regras de Hamã” -guerra sem misericórdia. O Exército israelense evita alvos civis, mas já demonstrou tanto no Líbano quanto em Gaza que não será dissuadido pela ameaça de vítimas civis árabes quando o Hezbollah ou o Hamas lançam seus foguetes a partir de áreas civis. Não é bonito, mas não estamos na Escandinávia. O Estado judeu sobreviveu em um oceano árabe-muçulmano porque seus vizinhos sabem que, apesar de todos os seus costumes ocidentais, saberá ser mais louco e vai jogar pelas regras locais. O Irã, o Hamas e a Hezbollah sabem disso, e é por isso que os generais de Israel estão seguros de que possuem poder de dissuasão significativo contra uma bomba iraniana. 

E os aiatolás do Irã há muito demonstraram que não são suicidas. Como os estrategistas israelenses Shai Feldman e Ariel Levite escreveram recentemente no “National Interest”: “É digno de nota que, durante os 36 anos de história da República Islâmica (do Irã), ela nunca brincou com sua sobrevivência, como fez três vezes o Iraque de Saddam Hussein”, lançando uma guerra contra o Irã em 1980, invadindo o Kuwait em 1990 e apostando que George W. Bush não iria atacá-lo em 2003. Se eu fosse um general israelense, eu não amaria este acordo, mas poderia entender suas vantagens, especialmente se o EUA aumentassem seus fatores dissuasivos. 

Se eu fosse o primeiro-ministro de Israel, ia começar por admitir que meu país enfrenta duas ameaças a sua existência: uma é externa, de uma bomba iraniana, e a outra é interna, da incapacidade de separar os palestinos da Cisjordânia em dois Estados, deixando apenas a solução de um Estado em que Israel acabaria governando tantos palestinos que não poderia mais ser uma democracia judaica. 

Para lidar com a ameaça do Irã, como líder de Israel, eu não pressionaria os judeus norte-americanos a irem contra o seu próprio governo para tentar afundar o acordo –sem que eu tivesse qualquer alternativa razoável a oferecer. 

Este acordo reduz drasticamente o estoque de urânio para fabricação de bombas do Irã por 15 anos, e estende o tempo necessário para o Irã obter uma arma nuclear dos atuais três meses para um ano. Eu ficaria muito confiante se eu pudesse manter o Irã um ano distante da bomba por 15 anos. Durante esse tempo, a tecnologia de defesa de Israel vai desenvolver muitas outras maneiras de detectar e eliminar qualquer tipo de ameaça iraniana.

E eu reconheceria que, se os meus lobistas em Washington realmente conseguissem fazer com que o Congresso desfizesse o acordo, o resultado não seria melhor. Não haveria acordo algum, então o Irã ficaria distante apenas três meses de uma bomba -e sem inspeções intrusivas, com o colapso de sanções e com o isolamento diplomático de Israel, não do Irã. 

Então, como primeiro-ministro, ao invés de lutar contra o presidente Barack Obama, eu estaria dizendo que Israel daria seu apoio este acordo, mas pediria que os EUA aumentassem o que realmente importa -a sua capacidade de dissuasão- conseguindo uma aprovação do Congresso para que este presidente ou outro no futuro usasse os meios necessários para destruir qualquer tentativa iraniana de construir uma bomba. Eu não confio nos inspetores da ONU; confio no poder de dissuasão.

E, para melhorar, eu pediria aos EUA que posicionassem no Oriente Médio a bomba Massive Ordnance Penetrator (MOP) da Força Aérea norte-americana: a “destruidora de bunkers” de 13,6 toneladas, guiada por precisão, que poderia acabar com um eventual reator iraniano escondido em alguma montanha. Os iranianos entenderiam a mensagem. 

E então eu colocaria todas as minhas energias como líder de Israel para tentar um afastamento seguro dos palestinos da Cisjordânia de forma a preservar Israel como uma democracia judaica. Isso –junto com o acordo com o Irã e o reforço na dissuasão dos EUA– tornaria Israel mais seguro contra suas duas ameaças existenciais. 

Infelizmente, Israel tem um primeiro-ministro cuja estratégia é rejeitar o acordo com o Irã sem qualquer plano B razoável e minimizar a ameaça interna sem qualquer plano A razoável. 

Tradução: Deborah Weinberg

Multidão faz protesto contra acordo nuclear com Irã em Nova York