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Presidente do Salgueiro apresenta time e anuncia auditoria nas contas

O presidente André Vaz e o vice-presidente Joaquim Cruz (ao centro) com os irmãos Guilherme e Gustavo, da bateria Furiosa - Divulgação/Alex Nunes
O presidente André Vaz e o vice-presidente Joaquim Cruz (ao centro) com os irmãos Guilherme e Gustavo, da bateria Furiosa Imagem: Divulgação/Alex Nunes

19/12/2018 11h01

Em entrevista coletiva realizada na quadra da escola, nesta terça-feira (18), o presidente do Salgueiro, André Vaz, apresentou a equipe da vermelho e branca da Tijuca para o Carnaval 2019 e fez um amplo apanhado da situação financeira da agremiação. Após sete meses de batalha jurídica, André conquistou a presidência na semana passada por decisão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, que considerou a ex-presidente, Regina Celi Fernandes, inelegível para o cargo.

Segundo André, a pouco mais de dois meses do Carnaval, o barracão da escola encontra-se parado e com dívidas com funcionários e fornecedores. O presidente estima que a escola esteja devendo em torno de R$ 3 milhões na praça e que os números serão conhecidos em breve por conta de uma auditoria.

O time conta com algumas alterações em relação ao ano passado. Afastado por divergência políticas, Mestre Marcão deixou o comando da bateria, que agora será dirigida pelos jovens Guilherme e Gustavo. Contratado logo após ao Carnaval 2018, Emerson Dias agora dividirá o microfone principal da escola com Quinho, intérprete que marcou época na Academia do Samba. O casal de mestre-sala e porta-bandeira, Sidclei e Marcella Alves, retorna ao posto. Esperando um bebê para a próxima semana, Marcella foi demitida pela ex-presidente em julho e Sidclei pediu demissão em solidariedade. O casal contratado para o seu lugar, Vinicius e Jackeline, foi dispensado nesta segunda-feira (17). O coreógrafo da comissão de frente será Sérgio Lobato e o carnavalesco Alex de Souza está mantido.

Confira alguns dos principais pontos abordados na coletiva:

Situação financeira do Salgueiro

O presidente André Vaz fez uma ampla exposição do momento financeiro da escola valendo-se de uma apresentação em um telão. "O barracão está parado, sem material. A ex-presidente sacou R$ 1, 9 milhão da Liesa e não temos nada pronto. Funcionários do barracão estão sem pagamento desde o início do trabalho em agosto. Estamos tentando viabilizar algo até sexta para que pelo menos tenham um Natal digno. A Vila Olímpica está abandonada, com o campo de futebol cheio de buracos, piscina sem ladrilhos, professores com salários atrasados. Tentaremos reabrir em janeiro, com os vestiários consertados", relatou o presidente.

Segundo André, a quantidade de dívidas é incalculável: "Devemos a vários fornecedores. Empresas de tecidos, plumas, ferro e arame. Do Carnaval passado, devemos o sapateiro do e  os fogos do desfile. Som da quadra, gelo, camisas da boutique, tudo está em dívida". 

Em que pé está o barracão

O carnavalesco Alex de Souza deu um parecer de como está a preparação de alegorias e fantasias da escola: "Já tive que fazer o Carnaval em 15 dias por causa de incêndio (na União da Ilha, em 2011). A situação não é tão drástica quanto aquela, mas o lema é trabalhar, trabalhar e trabalhar. Passei para o presidente o projeto das alegorias e fantasias e procurei explicar em que pé estão as coisas. Todo o esforço será feito para que a gente possa apresentar um excelente Carnaval. O tempo é o grande inimigo, mas creio que teremos condições de apresentar de 80% a 90% do projeto planejado".

A troca no comando da bateria

O presidente explicou o porquê do afastamento de Mestre Marcão, que comandou a Bateria Furiosa nos últimos 15 anos. "A nossa intenção sempre foi continuar com Mestre Marcão. Mas, infelizmente, algumas condutas fizeram pela saída dele. O Marcão é meu amigo pessoal, mas, de uns tempos para cá, ele começou a falar mal de nossa chapa e dizer que não tínhamos caráter. Foi uma decisão muito difícil, mas tivemos que afastá-lo. Precisamos ter pessoas em que confiamos. Trouxemos Guilherme e Gustavo, dois garotos da comunidade, que começaram na escola mirim. Chegou a vez deles e tenho certeza de que farão história no Carnaval. "

A volta de Quinho

O presidente fez questão de esclarecer que a volta do cantor que mais marcou a história da escola era uma de suas promessas de campanha. "Sempre dissemos que o Quinho iria voltar e ele vai fazer com o Emerson Dias uma das melhores parcerias do Carnaval", acredita André. 
Emerson Dias destacou que sua história sempre foi entrelaçada com a de Quinho. "Foi ele quem me colocou para cantar no carro de som em 1992. Depois, em 2000, quando foi pra Grande Rio, ele me levou para lá e fiquei 18 anos. O destino nos uniu novamente. Vim pra cá em fevereiro e procurei não me envolver no processo eleitoral. Minha postura foi de observar os acontecimentos e continuar trabalhando". Empolgadíssimo, Quinho falou sobre a emoção da volta: "Tenho 34 anos de Sapucaí e estou aqui para aprender com o Emerson e ele aprender comigo. Estamos imbuídos do espírito de buscar mais uma estrela para o Salgueiro".

A volta de Marcella Alves e Sidclei

André Vaz falou sobre a reunião que definiu a demissão de Vinicius e Jackeline: "Antes de lançar a chapa, já afirmávamos que Marcella e Sidclei ficariam na escola. Aí, depois da eleição, a Regina tomou a decisão desrespeitosa de demití-la por estar grávida. Ela resolveu contratar o Vinicius e a Jackeline para o lugar deles. Mas eu conversei com o casal e expliquei que, desde o início, trabalharíamos com Marcella e Sidclei. Estou tranquilo porque não enganei e nem prometi nada a ninguém." 

Emocionada, Marcella Alves, agradeceu ao apoio da comunidade e à confiança da nova diretoria do Salgueiro. E destacou que o casal demitido merece um tratamento respeitoso. "Gostaria de agradecer publicamente ao Sidclei, por confiar em mim e pela atitude que tomou quando fui demitida. E acho que a Jackeline e o Vinicius merecem todo o respeito. Eles são tão salgueirenses quanto nós. Mas eles foram contratados em um momento em que a presidente era inelegível. Acreditamos na Justiça o tempo todo e não aceitamos nenhuma proposta de outra escola até porque não queremos tomar o lugar de ninguém. E o lugar no Salgueiro é nosso, por direito", afirmou. 

A porta-bandeira também relatou que a preparação do casal continuou normalmente, a despeito deles não terem contrato com a escola e de sua gravidez: "Seguimos trabalhando com a preparação física. Quando o samba foi escolhido, definimos a coreografia e está tudo pronto. Quando eu estiver recuperada do parto, voltaremos a treinar para chegar na avenida e garantir a nota máxima".

Novos patrocinadores e investidores

André Vaz garantiu que trará novos patrocinadores e terá uma relação transparente: "O tratamento não era bom. Perdemos a Nissan, uma empresa que patrocinava a escola com um ótimo valor. O Salgueiro é uma marca muito forte. Com transparência, não há dúvidas de que conseguiremos patrocinadores. Já recebi o contato de duas empresas e vamos negociar. Temos pessoas que querem ajudar a escola, outros que irão fazer empréstimos. Sairemos desse Carnaval no vermelho, mas iremos conversar com os fornecedores para negociar. Temos credibilidade no mercado e levantaremos a escola". 

Auditoria

O presidente também anunciou que fará uma auditoria em todas as contas da escola: "Já temos três empresas fazendo orçamento. Em janeiro, com certeza, o trabalho começa. Os salgueirenses terão que saber o que aconteceu com a escola nos últimos 10 anos. Se for constatada alguma irregularidade, os conselhos acionarão a área jurídica para que o Salgueiro seja ressarcido". 

Resposta à Regina Celi

André Vaz terminou a coletiva dando uma resposta à Regina Celi Fernandes: "A ex-presidente postou que houve um golpe, uma traição na escola. Com todo respeito, foi ela quem traiu o estatuto, a história do Salgueiro e a confiança da comunidade em sua administração. Ela disse que está tudo pronto e não há nada. Todo o material que está no barracão é conta a pagar. A escola deve ao banco, à cervejaria, a funcionários e fornecedores. Gostaria que ela desse uma coletiva e explicasse ao salgueirense onde está o dinheiro. Não estamos acusando de nada, mas contra fatos não há argumentos."
 

Anderson Baltar