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O Carnaval pode ajudar a lidar com dias tão difíceis para o Brasil?

Foliões curtem o ensaio do bloco Charanga do França, que ocorreu nesta sexta-feira (8), na sede do Baixo Augusta, em São Paulo - Marcelo Justo/UOL
Foliões curtem o ensaio do bloco Charanga do França, que ocorreu nesta sexta-feira (8), na sede do Baixo Augusta, em São Paulo Imagem: Marcelo Justo/UOL

Daniel Lisboa

Colaboração para o UOL

09/02/2019 08h11

Fevereiro mal começou, mas convenhamos: já dá para dizer que 2019 não está fácil. Parece que todo dia acordamos com alguma notícia ruim. Como, então, festejar o Carnaval em meio a um momento tão delicado do Brasil? Dá para "relevar" o que acontece ao nosso redor? Ou é hora de aproveitar a folia justamente para levantar o ânimo, pensar em soluções?

Em busca de respostas, o UOL conversou com o público que esteve no festival pré-carnaval da Casa do Baixo Augusta nesta sexta-feira (8), na festa do bloco Charanga do França.

"Costumo falar que estou com um olho no Carnaval e o outro na situação do país", diz Veruska Almeida, 40 anos. "Por mais que estejamos nos divertindo, fazendo fantasias, não tem jeito. Sempre acaba rolando uma conversa sobre os problemas do país com os amigos."

A amiga Paula Pelisson, 38, concorda. "Carnaval é brincadeira, mas é contestação também. Sempre foi assim, e neste ano será mais do que o normal. Sempre, claro, com respeito."

As amigas Paula Pelisson e Veruska Almeida aproveitam o pré-Carnaval no Baixo Augusta - Marcelo Justo/UOL - Marcelo Justo/UOL
As amigas Paula Pelisson e Veruska Almeida aproveitam o pré-Carnaval no Baixo Augusta
Imagem: Marcelo Justo/UOL

Lucas Saad, 33, admite que, mesmo em meio à folia, às vezes é difícil ignorar o noticiário. Mas acredita que o Carnaval é justamente o momento para extravasar. "Às vezes, precisamos trazer alegria para a vida, né? E o Carnaval é isso. Se não formos para a rua festejar, vamos fazer o que? Ficar em casa, trancados no quarto?", pergunta.

Ele acredita que o Carnaval é quase uma forma de terapia para estes tempos complicados. "Se a gente não relaxar a cabeça, a gente enlouquece, né?", brinca Saad. "Carnaval é resistência pelo amor. É uma forma de dar amor e procurar amor, algo que todos estamos precisando."

Para Monique Tavares, 33, Carnaval não é hora de se deixar abater por dificuldades. Muito pelo contrário. "É hora de se falar o que pensa. Mais do que isso, de levar para a rua aquilo que pensamos. Ainda mais com essa ressurreição dos blocos de rua em todo o Brasil."

O Carnaval é, antes de tudo, uma manifestação cultural, uma grande festa, e deve ser aproveitado como tal. Esta é a visão de Bruno Tucci, 27, para quem as pessoas devem "ir com calma" na hora de cair na folia. "Sim, tem muita coisa ruim acontecendo. Mas talvez não seja hora de misturar. As pessoas podem, por exemplo, fazer uma manifestação ou esperar as eleições para se manifestarem na urna".

Um dos fundadores do Bloco Urubó, Pedro Maldonado, 34, é direto e reto: "eu tenho que acreditar que o Carnaval é uma maneira de lidar com as dificuldades da vida. Senão, estou ferrado. Afinal, sou responsável por um bloco que arrasta vinte mil pessoas", diz ele. "Acho que o Carnaval é um exemplo. Nele, ninguém está preocupado com a cor ou a religião das pessoas, ou em quem elas votaram. Seria muito bom para o Brasil se no resto do ano fosse assim também."

Blocos de rua