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Após protesto e interdição, Alceu Valença faz show em sua casa em Olinda

Alceu Valença durante show em sua casa em Olinda - Alcione Ferreira/UOL
Alceu Valença durante show em sua casa em Olinda Imagem: Alcione Ferreira/UOL

Allan Nascimento

Colaboração para o UOL, no Recife

11/02/2019 08h49

Na sala de uma de suas casas no Centro Histórico de Olinda (PE), área da cidade que em 1982 foi tombada Patrimônio Mundial Cultural pela Unesco, Alceu Valença se prepara para subir ao palco armado em um dos jardins da residência.

Desde o dia 3, o lugar, que fica na Rua Prudente de Morais, é ocupado pela festa Olinda Tropicana, que ocorre nos domingos de fevereiro e durante o Carnaval. O endereço fica em uma das ladeiras de acesso aos Quatro Cantos, encruzilhada que serve de passagem para a maioria dos blocos da cidade.

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"Eu comprei essa casa há uns 20 anos porque um amigo meu me disse que estava havendo uma invasão muito grande de alemães e italianos aqui. Esse amigo falou para eu comprar uma casa para não deixar que acabem com essa nossa cultura ibérica. Porque a nossa cultura é lusitana, ibérica; além de africana", explica o artista, que não sabe ao certo quantos carnavais na cidade já acumula.

Foi este mesmo espaço, também conhecido como casarão Estação da Luz, que Alceu usou como locação para o filme A Luneta do Tempo, em que dirigiu, roteirizou e cuidou da música. Com o filme, ele ganhou um Kikito de melhor trilha sonora no Festival de Gramado (RS) de 2014.

Segurança do local

Na sexta-feira (8), a residência foi interditada pelo Corpo de Bombeiros e pela Defesa Civil do município após uma vistoria que identificou irregularidades no imóvel. Para que o artista pudesse se apresentar na festa, com entradas que custavam R$ 150 neste fim de semana (nas demais datas os preços variam entre R$ 80 e R$ 220), a equipe precisou fazer reparos.

Alceu - Alcione Ferreira/UOL - Alcione Ferreira/UOL
Imagem: Alcione Ferreira/UOL

Em nota enviada pela corporação, entre os ajustes feitos constavam a instalação de corrimão, guarda-corpo nas áreas altas, abertura de saídas de emergência, fixação correta de extintores de incêndio e a apresentação de Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) emitida por engenheiros.

"Tudo o que está aqui foi pensado e muito bem pensado. Essa casa tem segurança, tem entrada por duas ruas, tem uma boa higiene, nada feriu o patrimônio arquitetônico. Aliás, eu fui uma das pessoas que fui para Unesco pedir que Olinda fosse patrimônio imaterial", detalha o artista, que ainda disse que diversos órgãos podem fazer inspeção na imóvel e que vão encontrar "tudo perfeito. Não vai ter nenhum problema porque tudo o que a gente está fazendo aqui foi feito dentro da lei".  

A área onde funcionaria uma espécie de museu do cantor de Morena Tropicana e Anunciação, na parte interna do espaço, não foi aberta ao público neste domingo porque ainda precisa de reparos.

Alvo de polêmicas

O espaço também tem enfrentado resistência de segmentos locais, como a Sociedade Olindense de Defesa da Cidade Alta (Sodeca). Na última semana, em nota, a associação de moradores declarou que a liberação do local pelo poder público feriu a legislação municipal.

"Está sendo firmado um acordo entre o Olinda Tropicana e a Prefeitura de Olinda para que o local seja um polo oficial do carnaval da cidade, infringindo uma série de leis municipais e federais no que toca o Uso de Ocupação do Solo do Sítio Histórico de Olinda e o Carnaval da cidade", diz o texto.

"Tem pessoas que estão apoiando [a festa] e outras que não estão. Agora, eu só queria colocar que essa casa, para mim, não está me interessando pra me dar dinheiro. Meu interesse é em apoiar a cultura. Eu gostaria muito de trazer para cá artistas portugueses e levar artistas daqui para Portugal, fazer daqui um lugar de arte", defende Alceu. "Eu quero colocar esse espaço para divulgar a cultura de Pernambuco", explica o cantor e compositor enquanto aguarda subir ao palco com o maestro Spok e com Juba, um de seus filhos.

"Essa casa é para mostrar novos valores. Eu acho que uns dez nomes já cantaram nesses saraus que estão acontecendo aqui. Hoje, o palco está aberto para outras pessoas, eu só vim para cantar umas três ou quatro músicas, não é um show meu", completa.

Personagem do Carnaval

Mais que uma das vozes da festa em Olinda, Alceu é um dos personagens que ilustra a festa na cidade. As "aparições" do artista na varanda da casa onde realmente reside, que fica na Rua São Bento, também no Centro Histórico, acabaram virando uma das tradições dos dias de folia. Nesses momentos, Alceu sempre canta alguns de seus sucessos e interage com o público que o aguarda do lado de fora.

Alceu - Alcione Ferreira/UOL - Alcione Ferreira/UOL
Imagem: Alcione Ferreira/UOL

Na quinta-feira antes do carnaval (28), ele faz a abertura oficial da festa na cidade, com um show realizado na Praça do Carmo, em uma apresentação em que recebe Elba Ramalho. Na terça-feira (5), último dia oficial de folia, ele encerra o carnaval do Recife, com o já tradicional show no Marco Zero.

"São dois carnavais gêmeos", comenta Alceu, sobre as festas nas duas cidades. "O carnaval do Recife e o de Olinda têm uma relação muito próxima que acontece por meio da música. Aqui a gente tem maracatu, no Recife também tem. Aqui temos frevo, lá também tem. Aqui tem caboclinho, lá também. Em Olinda tem frevo de bloco e no Recife também tem. Há um casamento."

"A diferença é que em Olinda temos um carnaval onde os moradores estão no próprio sítio histórico, então os moradores assistem o carnaval de sua própria cidade. Evidente que o carnaval do Recife é uma coisa muito boa, mas no Recife acontece no Marco Zero, que não tem gente morando por lá", distingue antes de ficar só de cueca na frente dos presentes na sala e vestir o paletó prateado que usou na apresentação da noite.

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