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Casa do Baixo Augusta celebra 45 anos da primeira banda carnavalesca de SP

Desfile da Banda Redonda no centro de São Paulo, em 2017 - Reinaldo Canato /UOL
Desfile da Banda Redonda no centro de São Paulo, em 2017 Imagem: Reinaldo Canato /UOL

Carlos Minuano

Colaboração para o UOL, em São Paulo

13/02/2019 04h00

Conhecida por peitar a repressão no auge da ditadura militar com sambas e marchinhas tradicionais, a Redonda, banda carnavalesca mais antiga de São Paulo, vai celebrar seus 45 anos de folia na sede de um dos blocos mais badalados da cidade, o Acadêmicos do Baixo Augusta.

A festa acontece amanhã, a partir das 20h, na Casa do Baixo Augusta, localizada na esquina das ruas Consolação e Rego Freitas, na região central de São Paulo, bem perto do histórico ponto de concentração da banda, em frente ao Teatro de Arena.

Além da proximidade geográfica, outras semelhanças unem os dois grupos: a quantidade de artistas e o ativismo cultural como bandeira. "A banda Redonda é uma inspiração para todos nós, uma demonstração de resistência e tradição do Carnaval de São Paulo", afirma Ale Natacci, diretor do bloco Acadêmicos do Baixo Augusta, que neste ano comemora uma década de existência.

A festa promete esquentar os tamborins para o desfile deste ano, que acontece no próximo dia 25. Também está programada uma homenagem a Ety Fraser (1931-2018), que morreu recentemente, aos 87 anos. A atriz saiu como porta-bandeira ao lado do ator Tony Ramos no primeiro desfile da Redonda, em 1972, antes da fundação oficial, em 1974, quando o grupo carnavalesco ainda atendia pelo nome de Bandalha. Outro homenageado da noite será o ator Umberto Magnani (1941-2016), também folião da velha guarda da banda.

A festa, que deve ser recheada de marchinhas antigas, terá no comando o atual presidente da Redonda, Moisés da Rocha, que manja -e muito- do riscado. Há mais de quatro décadas ele está à frente do programa "O Samba Pede Passagem" (rádios Capital e USP). O radialista substituiu Carlos Costa, mais conhecido como Carlão, o general da banda, que morreu em 2017, pioneiro do Carnaval de rua paulistano e fundador do grupo carnavalesco ao lado do dramaturgo Plínio Marcos (1935-1999) e de outros.

Desfile da Banda Redonda no centro de São Paulo - Reinaldo Canato /UOL - Reinaldo Canato /UOL
Foliões curtem o desfile no centro
Imagem: Reinaldo Canato /UOL
Banda libertária

Quando a Redonda foi criada, no início de 1970, além de disperso e quase inexistente na capital paulista, o Carnaval de rua não era bem-visto pela ditadura militar e atravessava tempos difíceis. Não faltavam ameaças, perseguições e até prisões, relembra Lurdes da Mata, também fundadora da banda. "Teve um ano em que nos proibiram de passar pela avenida Ipiranga e alguns travestis que acompanhavam o desfile foram detidos."

Além do ativismo combativo da banda em defesa das minorias e das expressões culturais mais populares, que lhe rendeu censura e repressão, a Redonda também nasceu como uma resposta de Plínio Marcos aos cariocas da Banda de Ipanema, que tinha entre seus integrantes a turma de O Pasquim, além de celebridades como Chico Buarque, Leila Diniz e Vinicius de Moraes. "Foram eles que vieram com aquela história de que São Paulo era o túmulo do samba", observa o ator e autor teatral Oswaldo Mendes.

Embora não admita ser um carnavalesco autêntico de carteirinha, Mendes praticamente bate cartão na festa. Esteve no primeiro desfile da Redonda e já perdeu as contas de quantas vezes acompanhou a folia. E promete ir novamente neste ano. Para ele, o ativismo do bando está na união de diferentes tribos. "É uma banda libertária."

Folia política

Sempre que está em São Paulo, o filho do dramaturgo Plínio Marcos, Kiko Barros, dá o ar da graça nos desfiles da Redonda, que, para ele, representa o genuíno Carnaval de raiz. "Infelizmente, o capitalismo promoveu o surgimento de blocos, trios elétricos e bandas que visam apenas o lucro." Por isso, para ele, a folia pode e deve ter um papel político. "Deve ser uma forma de resistência e de crítica."

Desfile da Banda Redonda no centro de São Paulo - Cris Faga/Fox Press Photo - Cris Faga/Fox Press Photo
Integrantes vão fantasiados para a folia
Imagem: Cris Faga/Fox Press Photo

Alinhada a essa ideia, e apesar das muitas dificuldades, a Redonda segue reconhecida como um símbolo de ativismo em prol da cultura popular, comemora o vice-presidente da banda, o produtor cultural Edson Lima. "Todos os anos saímos com cerca de 30 músicos, além de cantores e foliões de todos os tipos e idades, tocando a folia com marchinhas e sambas tradicionais."

Outra tradição dos foliões mais longevos da cidade mantida até hoje é a de prestar homenagens a nomes de relevância no meio cultural, artístico e até esportivo, que além de acompanharem o desfile são agraciados com o troféu Banda Redonda. Neste ano, um dos confirmados é o compositor, violonista e arranjador paulistano Eduardo Gudin.

Ansioso para a festa na Casa do Baixo Augusta, mas sem conter a alegria da proximidade de mais um Carnaval de rua junto de sua banda, o vice-presidente da Redonda relembra ainda que o dramaturgo Plínio Marcos, no começo da história do grupo, vislumbrava um futuro que hoje parece ter se tornado realidade. "Em uma entrevista em 1972, ele profetizou o que ocorre hoje, dizendo que um dia a folia que eles estavam fazendo iria se espalhar pela cidade com blocos e bandas por todos os lados."

Dito e feito. Neste ano, de acordo com informações da prefeitura (ainda não consolidadas), serão cerca de 600 desfiles e mais de 530 blocos durante o Carnaval de rua de São Paulo. As regiões com maior número de blocos são Sé, Vila Mariana, Pinheiros e Lapa.

Festa dos 45 anos da banda Redonda
Quando: 14 de fevereiro
Horário: das 20h à 0h
Quanto: R$ 10
Onde: Casa do Baixo Augusta (rua Rego Freitas, 553, tel. (11) 3129-7449)

Desfile banda Redonda
Quando: 25 de fevereiro
Horário: concentração às 19h
Às 19h30 acontece a entrega do troféu Banda Redonda
Às 20h30 é a saída da banda
Onde: em frente ao Teatro de Arena Eugênio Kusnet (rua Theodoro Baima, 94)
Percurso: ruas da Consolação, Xavier de Toledo, Conselheiro Crispiniano, avenidas São João, Ipiranga, São Luís, praça da República

Blocos de rua