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Ex-jogador de futebol, Eduardo Santana lidera mistura dançante do AfroJazz

Thiago Camara

Colaboração para o UOL, no Rio

18/02/2019 04h00

No jogo da vida, a música deu um "carrinho" no futebol e transformou o futuro do trompetista Eduardo Santana. Nascido em São Gonçalo, região metropolitana do Rio, o músico é líder da banda e do bloco AfroJazz, que desfila no dia 24 de fevereiro, na Lapa (centro).

O projeto, uma mistura vibrante de referências africanas e jazz, surgiu em 2012, a partir de um trabalho de faculdade. Santana reuniu uma bibliografia para defender que o jazz veio da África, e não dos Estados Unidos. Depois, dando vida à sua pesquisa, fundou a banda AfroJazz. 

Já no ano de 2013, Eduardo foi jogar futebol profissionalmente como atacante, em times no Peru e na Hungria. A saudade da banda e da música encurtou a carreira nos campos. "Dei uma pausa na banda para conseguir dinheiro e levantar o projeto novamente. Fui em busca desse sonho. Mas fiquei com medo de me afastar da arte. Lá em Budapeste fui tocar numa jam session, senti a energia da música e muita vontade de voltar", conta. 

As oficinas

O trompetista Eduardo Santana dá aula na oficina de sopro - Divulgação - Divulgação
O trompetista Eduardo Santana dá aula na oficina de sopro
Imagem: Divulgação

A banda se consolidou na cena alternativa cultural carioca. Lançou dois álbuns, "Disco I", em 2014, e "African Brothers" em 2016. Nesse mesmo ano resolveu expandir suas fronteiras com a criação de oficinas de sopro, percussão e dança. O resultado foi o primeiro desfile do bloco AfroJazz, no Carnaval de 2017.

"Encurtamos a distância entre os músicos no palco e o público na pista. Com as oficinas conseguimos agregar pessoas em torno do nosso movimento. E o 'encerramento do ano letivo' acontece sempre com a apresentação do bloco no Carnaval", explica o músico. 

Este será o terceiro Carnaval do bloco AfroJazz. E a sonoridade será um tanto incomum para o bairro da Lapa, tradicional reduto de casas de samba: de Stevie Wonder a Hermeto Pascoal; James Brown a dona Selma do Coco; João Donato a Fela Kuti. Uma mistura dançante de ritmos para celebrar a força da música. 

"A gente vai para a rua com essa mistura de compositores e ritmos brasileiros. Brincamos de 'abrasileirar' as nossas referências musicais. Com muita percussão e os sopros apresentando as linhas melódicas."  

O Brasil africano 

Calmo e tímido, Eduardo Santana se empodera ao empunhar seu trompete. Para ele, a música tem força e é "uma arma", frase de Fela Kuti, músico e ativista nigeriano, um grande influenciador do seu trabalho e uma espécie de Pantera Negra do afrobeat. O trompetista defende que, em tempos de preconceito e intolerância, é preciso continuar comunicando a riqueza da cultura africana. 

"Quando abordamos essa cultura e a trazemos para a nossa arte, queremos que as pessoas entendam que aquilo é uma matriz e que devemos muito a ela. A África é a raiz de tudo. Por mais que se tenha um olhar de preconceito, até por não ter informação, tem que entender que ali foi o princípio da humanidade." 

Para ele, a música brasileira é africana também. As influências estão em vários ritmos e estados brasileiros. "No Carnaval da Sapucaí, vemos essa influência. No samba-reggae da Bahia, que é um pedaço da África no Brasil, também. No pop, no funk carioca, no maracatu, tudo é muito africano. Todos os ritmos são", avalia.

Cortejo do Bloco AfroJazz
Dia 24/02, às 17h 
Rua do Lavradio, 133, centro
Gratuito

Baile na Fundição Progresso
Dia 24/2, a partir das 18h30 
R$ 15 (fantasiado), R$ 20 (sem fantasia)

Rio de Janeiro