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O mundo tem condições de reduzir o aquecimento global

Por Emmanuel Angleys

04/05/2007 10h31

BANGCOC, 4 mai (AFP) - O mundo tem as ferramentas necessárias para enfrentar o aquecimento global a um custo moderado, usando as tecnologias atuais, desde que esta luta não demore para começar, afirmaram os especialistas mundiais do clima nesta sexta-feira, ao fim da reunião em Bangcoc.

"Se continuarmos fazendo o mesmo que agora, teremos sérios problemas", advertiu Ogunlade Davidson, co-presidente de um dos grupos de trabalho do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), ao apresentar a síntese dos cinco dias de debates na capital tailandesa.

Neste sentido, os próximos 20 a 30 anos serão cruciais para reduzir o aquecimento do planeta, afirma o IPCC no documento, que pretende ser um "resumo dirigido àqueles que tomam as decisões".

"A síntese - aprovada pelos quase 400 delegados do Painel - "identifica claramente medidas para lutar contra a mudança climática a um custo relativamente moderado", afirmou o presidente do grupo, Rajendra Pachauri.

Segundo o documento, as medidas para limitar o aumento da temperatura planetária em dois graus centígrados (em relação ao período 1980-1999) se traduziriam em uma redução de 0,12% dos índices de crescimento anual do Produto Interno Bruto (PIB) a partir de 2030.

Um arsenal de soluções tecnológicas e de medidas de regulamentação permitiria um combate eficaz contra o aquecimento global.

Entre elas, o IPCC destacou as energias renováveis - eólica, solar e geotérmica -, além da nuclear, desatando assim uma polêmica entre seus próprios delegados, pois alguns deles se opõem radicalmente a este último tipo de energia.

"Existe um importante potencial para reduzir as emissões nas próximas décadas", afirmou Bert Metz, co-presidente do grupo de trabalho III do IPCC, que é uma instância criada pela ONU.

"Este potencial é tamanho que permitiria compensar o crescimento das emissões de gases com efeito estufa com as tecnologias atuais", acrescentou.

O cientista explicou que todos os setores poderiam contribuir para a redução das emissões que provocam o efeito estufa - o principal é o dióxido de carbono -, consideradas as responsáveis pelo aquecimento atmosférico.

Ele destacou o setor da construção, por ser o que oferece o maior potencial para ações a baixo custo.

"Reduzir o desmatamento também permitiria aportar uma importante contribuição à redução das emissões", acrescentou.

O custo da luta contra o aquecimento global dominou os cinco dias de debates do IPCC, com muitas divergências entre alguns países representados, incluindo a China, que se transformará no maior poluidor do planeta até 2012.

A síntese aprovada esta sexta-feira evidencia "custos de redução totalmente acessíveis", declarou à AFP Marc Gillet, coordenador da delegação francesa.

O resumo elaborado em Bangcoc também agradou as organizações não governamentais que lutam pelo meio ambiente.

"É preciso trabalhar a partir de segunda-feira", destacou o Fundo Mundial para a Natureza (WWF) em um comunicado.

"O texto da capital tailandesa mostra pela primeira vez que é possível lutar com ambição contra a contaminação do clima, sem que isto custe uma fortuna", acrescenta a nota do WWF.

A síntese do IPCC afirma que as emissões de gases que provocam o efeito estufa devem alcançar um 'teto' até 2015 e, a partir de então, diminuir, caso se queira manter o aumento médio da temperatura mundial entre 2 e 4 graus centígrados, na melhor das hipóteses analisadas.

Segundo um documento anterior do IPCC, publicado em fevereiro em Paris, no pior cenário, o aumento da temperatura poderá chegar a 6,4 graus centígrados até 2100, em uma comparação com o período 1980-1999.

A primeira parte do documento, de 6 de abril, alertou sobre as graves conseqüências deste fenômeno para a vida humana.