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Homens da Caverna tinham 'tecnologia avançada' para fazer lanças

Lâminas das lanças dos homens das cavernas eram tratadas com fogo, mostra estudo na África do Sul - Simen Oestmo/Arizona State University
Lâminas das lanças dos homens das cavernas eram tratadas com fogo, mostra estudo na África do Sul Imagem: Simen Oestmo/Arizona State University

Em Paris

08/11/2012 14h14

Um grupo internacional de paleontólogos afirmou ter descoberto pequenas lâminas em uma caverna da África do Sul que comprovam que o homem arcaico era um pensador avançado e que fazia instrumentos de pedras há 71 mil anos - antes do que se achava até agora. Publicada na revista Nature, a pesquisa foi liderada por Curtis Marean, da Universidade do Estado do Arizona, nos Estados Unidos, e contou com a ajuda de pesquisadores da África do Sul, da Austrália e da Grécia.  

As descobertas sugerem que nossos primeiros antepassados da África tinham uma capacidade maior para o pensamento complexo e a produção de armas deu a eles uma vantagem em termos de instinto evolucionários sobre o homem de Neanderthal, segundo os autores do estudo.

Os cientistas concordam que nossa linhagem apareceu na África há mais de 100 mil anos, mas há muito debate sobre quando a personalidade cultural e cognitiva do Homo sapiens começou a se assemelhar com a do homem moderno. As pequenas lâminas achadas na África do Sul teoricamente teriam sido manufaturadas entre 65 mil e 60 mil anos.

Agora, a equipe liderada por Marean descobriu lâminas muito mais antigas, chamadas microlíticas e produzidas com lascas de pedra aquecidas, em uma caverna perto da Baía de Mossel, no litoral sul da África do Sul.

"Nossa pesquisa mostra que a tecnologia microlítica se originou na África do Sul, evoluiu durante um longo período de tempo [cerca de 11 mil anos] e tinha um complexo tratamento com calor", descreve o autor do estudo. "Tecnologias avançadas na África eram antigas e duradouras."

Segundo os autores, a longa ausência de artefatos instrumentais no registro paleontológico é explicada por um número relativamente pequeno de sítios escavados até o momento, e não por uma inexistência de conhecimento tecnológico do homem primitivo. O homem de Neanderthal viveu em partes da Europa e partes da Ásia por cerca de 300 mil anos, mas desapareceu há 40 mil anos. 

Esta descoberta evidencia que o antepassado do homem moderno na África do Sul tinha a habilidade de fazer artefatos complexos e ensinar seus companheiros a como fazê-los. Isso permitiria que eles produzissem instrumentos como flechas capazes de atingir maiores distâncias que as lanças manuais.

"As armas do tipo projéteis microlíticos ampliaram a capacidade de sucesso na caça, reduziram o risco de ferimentos dos caçadores e estenderam o raio de violência letal interpessoal", afirma a equipe. "Também conferiram vantagens substanciais ao homens da época quando deixaram a África e encontram representantes do homem de Neanderthal equipado apenas com lanças manuais."

Comentando o estudo, a antropóloga Sally McBrearty, da Universidade de Connecticut, nos Estados Unidos, afirmou que, ao fazer essas armas, os humanos arcaicos teriam usado lascas de pedras cuidadosamente selecionadas por sua textura e com uso do calor para poder trabalhar com elas mais facilmente. Eles teriam moldado as lâminas em formas geométricas, provavelmente para o uso de flechas atiradas de arcos. 

Isso, por outro lado, implicaria que aqueles homens teria de coletar outros materiais como madeira, fibras, penas, osso e tendões por um período de dias, semanas ou meses, o que teria sido interrompido por outras tarefas mais urgentes. 

"A habilidade de preservar e manipular operações e imagens de objetos na memória, e depois executar procedimentos posteriormente, é um componente essencial da mente moderna", explica a antropóloga.