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Com orçamento reduzido, Nasa só alcançará metas com cooperação

Jean-Louis Santini

Em Washington

11/12/2012 10h32

Se a Nasa quer que o homem chegue a locais onde o ser humano nunca esteve, a agência espacial americana deve trabalhar em colaboração com outros países, afirmaram especialistas, que temem que as restrições orçamentárias mantenham os astronautas presos à Terra.

Os temores foram colocados sobre a mesa em duros termos na semana passada, em um relatório da Academia Nacional de Ciências, que concluiu que o orçamento de US$ 18 bilhões da agência espacial era simplesmente insuficiente para cumprir suas metas.

O informe foi além ao afirmar que existe, em primeiro lugar, falta de consenso nacional sobre em que a Nasa deveria estar investindo.

Para alguns, a instituição deveria se concentrar em levar os humanos de volta à Lua quatro décadas depois do pouso do último astronauta no satélite natural da Terra, como um passo intermediário para a viagem a Marte.

Trata-se do programa "Constellation" (Constelação), promovido em 2004 pelo então presidente George W. Bush e posteriormente cancelado por seu sucessor, Barack Obama, que o considerou caro demais.

Obama, ao contrário, se propôs a enviar humanos a um asteroide até 2025 antes de financiar uma visita tripulada ao planeta vermelho em 2030.

Mas a Nasa não possui dinheiro suficiente para tornar isso realidade, alertou o relatório. Também não está claro se há alguém especialmente dedicado a que aconteça.

Viajar para um asteroide?

"Temos provas limitadas de que (um asteroide) foi amplamente aceito como destino pela própria equipe da Nasa, pela nação inteira ou pela comunidade internacional", afirmou Albert Carnesale, professor da Universidade da Califórnia em Los Angeles, que presidiu o comitê que elaborou o relatório.

O trabalho, encomendado pelo Congresso, recomendou a Obama que trace um plano ambicioso, mas tecnicamente factível para a Nasa, após consultar potenciais parceiros internacionais, com o objetivo de ajustar melhor os objetivos da Nasa a seus recursos.

A Casa Branca não se pronunciou ainda, em um momento em que o presidente está em tensas negociações sobre o orçamento federal geral, que têm como objetivo alcançar um compromisso com os republicanos para evitar o "abismo fiscal" (e o impacto econômico das medidas automáticas de redução do déficit, previstas em uma lei de 2011, se entrar em vigor em janeiro próximo) que ameaça o país, faltando apenas 24 dias para se alcançar um acordo.

Mas os analistas afirmam que o presidente não pode ignorar a Nasa para sempre.

Nos últimos anos, a Casa Branca tem agido sob o princípio de que "as coisas estão estáveis e não são um problema. Enquanto este for o caso, não darão muita atenção" à agência, explicou John Logsdon, ex-diretor do Instituto de Política Espacial da Universidade George Washington, consultor do painel.

"O informe poderia romper o equilíbrio porque está dizendo algo similar a que o rei está nu" e que o que estão fazendo com a Nasa "não faz sentido", explicou.

Em última instância, disse Logsdon, "o que dizem é que se pretendem continuar sendo líderes na área espacial, os Estados Unidos deveriam trabalhar mais estreitamente com outros países para definir um futuro no qual todos possamos estar de acordo".

E isto é o que os Estados Unidos têm feito por enquanto, enfatizou.

As conclusões do relatório não são surpreendentes para as pessoas que acompanham de perto a indústria espacial, afirmou, "o que é surpreendente é que o diga um comitê de tão alto nível".

Scott Hubbard, ex-diretor do programa da Nasa para Marte, e agora professor da Universidade de Stanford, se disse de acordo em que a Nasa "tem sido demandada durante décadas a fazer mais do que seu orçamento permite".

Colaboração internacional

"Para um grande esforço, como uma missão à Lua ou, particularmente, enviar humanos a Marte, acredito que sem dúvida alguma é preciso fazer isso com a colaboração internacional", explicou.

Ele citou o projeto da Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês) - uma iniciativa de US$ 100 bilhões que foi concretizada com a contribuição de 16 países, o melhor exemplo de colaboração internacional bem sucedida na área espacial.

"Posso imaginar que se organize algo parecido para o espaço longínquo e, em última instância, para Marte", afirmou.

Mas alguns outros esforços internacionais têm sido menos frutíferos.

Logsdon lembrou que em fevereiro os Estados Unidos cancelaram sua contribuição ao projeto ExoMars, avaliado em US$ 100 bilhões, uma colaboração com a Agência Espacial Europeia (ESA), devido a problemas de orçamento.

O projeto dizia respeito ao envio de duas sondas a Marte em 2016 e 2018 para buscar sinais de vida. A ESA substituiu a Nasa pela agência espacial russa.

Hubbard afirmou que prefere que o orçamento da Nasa aumente para dar à agência a oportunidade de alcançar todos os seus planos ambiciosos. E acrescenta que muitos especialistas concordam que a diferença entre o que recebem e o que precisam é de US$ 3 bilhões anuais.

"Em um orçamento de 3,7 bilhões (de dólares) ao ano, 3 bilhões não é tanto dinheiro", afirmou Hubbard, embora "hoje em dia as pessoas discutam sobre centavos", ironizou.