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Encontrado diário de explorador da Antártica perdido há um século

24/10/2014 20h43

WELLINGTON, 24 Out 2014 (AFP) - O diário de um integrante da expedição do explorador Robert Scott na Antártica foi encontrado um século depois de ficar preso no gelo do continente branco, anunciou uma instituição neozelandesa.

O caderno de notas pertenceu ao cientista George Murray Levick e foi encontrado perto da base Terra Nova, montada por Scott em 1911, durante o degelo do verão passado.

Apesar de ter sofrido danos pelo contato com a água ao longo dos cem anos que passou enterrado no gelo, de modo geral, as anotações de Levick estão legíveis, afirmou o diretor da fundação neozelandesa Antarctic Heritage, Nigel Watson.

"É uma descoberta incrível. O caderno é uma parte do registro oficial da expedição", disse.

"Estamos felizes de encontrar ainda novos objetos, depois de sete anos tentando manter o último edifício e a coleção da expedição de Scott", prosseguiu.

As páginas do caderno foram enviadas à Nova Zelândia, onde foram tratadas individualmente e novamente encadernadas. Depois, foram devolvidas à Antártica, onde o fundo trabalha para preservar cinco locais utilizados pelos exploradores Scott, Ernest Shackleton e Edmund Hillary.

A expedição de Scott se dividiu em dois grupos, ao chegar à Antártica. Ele chegou ao Pólo Sul em 17 de janeiro de 1912, um mês depois do feito do norueguês Roald Amundsen.

Scott e seus companheiros morreram logo depois de frio e fome.

Levick estava no outro grupo, que viajou ao longo da costa para fazer observações científicas, mas ficaram bloqueados no acampamento base por causa do gelo.

Os seis homens conseguiram sobreviver ao inverno antártico, refugiados em uma caverna cavada no gelo e comendo o que encontrassem, entre outras coisas, carne de pinguim e foca.

A fundação também encontrou garrafas de uísque da expedição de Shackleton de 1907-08 e negativos perdidos de sua incursão ao Mar de Ross em 1914-17.

Uma destilaria escocesa analisou o uísque de Shackleton e se surpreendeu com sua inesperada delicadeza, "com um toque de fumaça no paladar", e recriou a bebida para uma edição limitada de 50.000 garrafas, que vendeu a mais de 100 libras (160 dólares) cada.



- Pinguins depravados -

As anotações do caderno de Levick são bastante banais, pois registram datas, assuntos e detalhes das fotos que ele tirou.

Aos escritos correspondem os desenhos da coleção dos trabalhos de Levick, do Instituto de Pesquisa Polar Scott, da Universidade britânica de Cambridge.

Muito mais interessante foi o ensaio científico, que intitulou de "Hábitos sexuales do Pinguim-de-adelia", que esteve perdido até que pesquisadores do Museu de História Natural de Londres o encontraram, em 2012.

No documento, o autor descreve os hábitos "depravados" destes pinguins, pois alguns têm comportamento homossexual e os machos tentam acasalar com as carcaças de fêmeas mortas.

Levick ficou tão horrorizado com o comportamento dos pinguins que escreveu algumas das observações em grego para que o leitor médio não conseguisse compreender. De fato, seu ensaio foi distribuído entre alguns especialistas, mas nunca foi divulgado publicamente.

Após sobreviver na Antártica, Levick participou da sangrenta batalha de Gallipoli, durante a I Guerra Mundial, e trabalhou no serviço de inteligência militar britânica na II Guerra Mundial. Faleceu em 1956.