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ONU comemora e ONGs criticam acordo climático da UE

24/10/2014 17h28

BONA, 24 Out 2014 (AFP) - O acordo da União Europeia (UE) sobre o Clima, que estabelece objetivos concretos para 2030, aprovado na quinta-feira, provocou nesta sexta reações díspares entre o otimismo da ONU e o ceticismo de outros países e de ONGs que o consideraram insuficiente.

As metas fixadas pela UE incluem uma redução das emissões de gases de efeito estufa até 2030 em pelo menos 40% em relação aos níveis de 1990, assim como a obrigação de que 27% da energia seja gerada a partir de fontes renováveis no mesmo horizonte de tempo. Os Estados-membros também se comprometeram a aumentar sua eficiência energética em 27% nesse período.

Christiana Figueres, encarregada do Clima na ONU, saudou o acordo nesta sexta-feira e o considerou um "impulso valioso" para a assinatura de um acordo climático mundial, previsto para o ano que vem, em Paris.

No entanto, vários países e ONGs o receberam de forma muito mais comedida e, inclusive, crítica.

"Os objetivos europeus são muito frouxos e chegam com dez anos de atraso", escreveu Claudia Salerno, chefe da delegação venezuelana em Bonn, em sua conta no Twitter.

"Pedimos aos países desenvolvidos uma redução de 40% a 45% de suas emissões até 2020", afirmou Seyni Nafo, porta-voz do grupo África, que admitiu, no entanto, ter apreciado o fato de "haver um compromisso claro desde já".

"Não estou certo de que Estados Unidos, Canadá e Japão farão o mesmo (...), pois isso já supõe um esforço ainda que seja insuficiente", acrescentou.

"Comemoramos os anúncios da UE, mas sabemos que podem e devem fazer mais", disse à AFP Ronuald Jumeau, porta-voz da Aliança dos Pequenos Estados Insulares (Aosis). "Esperamos uma proposta mais ambiciosa da UE em Paris", acrescentou Jumeau, embaixador das ilhas Seychelles.

A UE, que representa agora menos de 10% das emissões de gases de efeito estufa, é a primeira a apresentar sua contribuição ao esforço mundial para proteger o meio ambiente.

No primeiro semestre de 2015 e antes de março, se for possível, todos os países devem oferecer sua própria contribuição para limitar a 2º C o aquecimento global. A temperatura da Terra já aumentou 0,8ºC desde o começo da Revolução Industrial.

Segundo o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), as emissões globais devem ser reduzidas de 40% a 70% até 2050 para cumprir a meta dos 2º C.

"Esta decisão não responde à urgência com que é preciso agir sobre as mudanças climáticas", avaliou o grupo Climate Action Network Europe, que reúne 120 ONGs.

As organizações não-governamentais defendiam uma redução de 55% das emissões de gases de efeito estufa na Europa até 2030, e a obrigação de que 45% das energias procedessem de fontes renováveis. Quanto à eficiência energética, defendiam uma melhora de 40%.

Apesar das críticas, as ONGs também lembraram que a postura europeia ainda pode evoluir.

"Esta decisão é a primeira de um longo processo", destacou o Climate Action Network, que considera crucial que a UE melhore sua proposta para poder negociar um acordo ambicioso, com compromissos fortes de todos os lados".

O especialista americano Alden Meyer considerou que a UE poderia ter feito mais. No entanto, ele valorizou a proposta porque, segundo ele, agora "será difícil para os Estados Unidos e o Japão" não propor medidas similares.