Topo

Crustáceo jurássico com olhar matador é descoberto na França

Impressão artística de um dos dois planetas recém-descobertos, além da órbita de Plutão, segundo anunciaram cientistas britânicos e espanhóis - Nasa/JPL-Caltech/PA
Impressão artística de um dos dois planetas recém-descobertos, além da órbita de Plutão, segundo anunciaram cientistas britânicos e espanhóis Imagem: Nasa/JPL-Caltech/PA

Em Paris

19/01/2015 18h42

Paris, 19 Jan 2016 (AFP) - Ele tinha olhos esbugalhados enormes, cobrindo quase um quarto de seu corpo: o 'Dollocaris', uma espécie de crustáceo primitivo do período Jurássico, deveria ser um predador formidável para os camarões de seu tempo, segundo um estudo.

Uma equipe internacional acaba de reconstituir a estrutura tridimensional dos olhos deste fóssil com mais de 160 milhões de anos. Ele foi descoberto em Ardèche (sudeste da França), na Voulte-sur-Rhône, um depósito famoso por seus fósseis de organismos marinhos.

Os olhos compostos (com muitas facetas, ndlr) deste "predador visual" estão impressionantemente bem conservados, o que permite ver toda sua estrutura interna, incluindo as células receptoras da retina.

"Nunca tínhamos visto olhos tão bem fossilizados nos tempos muito antigos", declarou à AFP Jean Vannier, diretor de pesquisa do CNRS no Laboratório de Geologia de Lyon (França), que comandou o estudo publicado nesta terça-feira na revista Nature Communications.

Dollocaris faz parte dos Thylacocéphales, um grupo de artrópodes marinhos extintos.

Ele media de 5 a 20 centímetros de comprimento e podia nadar. Protegido por uma carapaça, como um caranguejo, ele tinha três pares de apêndices preênseis que lhe permitiam capturar suas presas.

Mas em especial o crustáceo tinha olhos compostos hipertrofiados, cada um com 18.000 facetas, um recorde se desconsiderarmos as libélulas atuais - que têm mais.

Cada faceta era prolongada em profundidade por células fotorreceptoras, as omatídias. Quanto mais numerosas elas são, melhor a resolução.

Graças a esta visão sofisticada e, provavelmente, muito eficaz, Dollocaris podia detectar presas, seguir e capturar com os seus três pares de poderosos apêndices.

Ele provavelmente caçada na surdina, como alguns crustáceos de hoje em dia.

Os pesquisadores também estudaram outros órgãos do animal, com uma técnica de imagem por raio-x. "Restos de camarão ainda estão presentes no estômago do pequeno predador", disse Jean Vannier.

"A visão é uma inovação que revolucionou a relação entre as espécies animais. Os primeiros olhos compostos aparecem no Cambriano, há 500 milhões de anos", explica.

"Ver e ser visto mudou a situação. Isto criou uma dinâmica", alguns deviam se proteger melhor, outros se tornaram mais capazes de detectar melhor suas presas, "e novas pressões de seleção", observou Vannier.

Os Dollocaris desapareceram no final do período cretáceo como os dinossauros, há cerca de 66 milhões de anos.

Mas este tipo de olhos compostos evoluíram independentemente em outras linhagens.

Os artrópodes, animais invertebrados, têm em suas fileiras crustáceos, insetos e aracnídeos, entre outros.

O fóssil do Dollocaris está conservado na coleção da universidade Claude Bernard Lyon 1.