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Reunião de países do Ártico, um coquetel de meio ambiente e tensões com a Rússia

24/04/2015 17h29

Iqaluit, Canadá, 24 Abr 2015 (AFP) - Ministérios das nações árticas se reuniram no norte do Canadá nesta sexta-feira para chamar a atenção para esta região ecologicamente frágil do planeta que, devido às mudanças climáticas, também está se tornando uma nova fonte de tensão com a Rússia.

O Ártico está se aquecendo duas vezes mais rápido que outras regiões do planeta e, como é sabido, o delicado ecossistema de ambos os polos serve como um termômetro da saúde do planeta.

Autoridades dos Estados Unidos disseram no mês passado que o gelo do Oceano Ártico diminuiu durante o inverno passado para o nível mais baixo já registrado. Estas observações por satélite começaram a ser feitas no final de 1970.

Mas há uma consequência lateral para este evento ambiental: à medida em que o gelo polar derrete - uma fonte de grande preocupação, já que vai resultar no aumento dos níveis de mar - novas rotas oceânicas que podem ser usadas para o comércio vão se abrindo.

E essa abertura oferece a promessa de campos de petróleo e gás sem explorar em alto mar, algo muito tentador para um mundo sedento de energia.

No entanto, com as novas oportunidades surgem também novas rivalidades, um desafio que os Estados Unidos terão que driblar nos próximos dois anos, quando assume a presidência rotativa do Conselho do Árctico.

O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, chegou nesta sexta-feira à cidade de Iqaluit, na Ilha Baffin, nordeste do Canadá, para se encontrar com outros ministros de Canadá, Dinamarca, Finlândia, Islândia, Noruega, Rússia e Suécia.

Lá eles vão se reunir com observadores dos povos e das nações da região, incluindo a China.

"Os perigos são enormes em termos de aumento do nível do mar e do que poderia acontecer se a Groenlândia derreter", disse Kerry nesta quinta-feira ao jornal The Washington Post.

Embora a luta contra as alterações climáticas seja prioridade na agenda dos Estados Unidos durante sua presidência do Conselho do Árctico, Washington também espera melhorar a gestão dos oceanos, a segurança marítima e as vidas dos quatro milhões de habitantes do Ártico.





Força militarHá tensões subjacentes e alguns estão começando a mostrar sua força. É o caso da Rússia, que está sob o peso das sanções por seu papel no conflito na Ucrânia e já começou a organizar exercícios militares sem precedentes no Ártico.

O ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, não vai participar da reunião - quem irá em seu lugar será o ministro do Meio Ambiente da Rússia, Sergei Donskoi.

Na semana passada, a Noruega estava furiosa porque o vice-primeiro-ministro russo visitou o arquipélago ártico de Svalbard, apesar de estar proibido de entrar no território norueguês devido às sanções da União Europeia.

No início deste mês, navios russos atracaram numa antiga base naval secreta da Noruega no Ártico.

"A razão pela qual isso é tão importante é porque o Ártico está desmoronando e isso implica em consequências importantes", afirmou Rafe Pomerance, chefe da Arctic 21, uma coalizão de ONGs sobre política e clima.

"E não se sabe realmente o quão rápido será esse resultado e quão profundos serão no sistema climático global".

Além do degelo, que aumenta o nível do mar, outro perigo é o descongelamento do permafrost, ou seja, a camada de solo congelado nas regiões polares. Quando o permafrost derrete, libera dióxido de carbono - principal gás de efeito estufa, responsável pelo aquecimento global.

"(Isto) vai se tornar uma importante fonte de emissões no século XXI e aléms, o que vai complicar os esforços para estabilizar as concentrações e manter a temperatura abaixo de qualquer que seja o objetivo que o mundo proponha" ressaltou Pomerance à AFP.

Líderes de todo o mundo estão se preparando para uma grande reunião do clima em dezembro, em Paris (COP21), onde um acordo sobre limitar o aquecimento global a 2°C acima dos níveis pré-industriais é aguardado.

Sobre esta cúpula, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, se mostrou otimista nesta sexta-feira: "Temos a oportunidade de estabelecer, pela primeira vez, uma estrutura para nos reunirmos em intervalos regulares e definirmos nossas metas, aumentarmos nossas ambições".

"Tenho a esperança de que chegaremos lá", afirmou Obama em entrevista à revista National Geographic.