Topo

Nobel: compreender a "caixa de ferramentas" para entender o câncer

07/10/2015 17h06

Paris, 7 Out 2015 (AFP) - A compreensão dos mecanismos de reparação do DNA pelos três premiados com o Prêmio Nobel de Química pode permitir aprimorar os tratamentos contra o câncer - especialmente aumentando a eficácia da quimioterapia, segundo os especialistas.

O sueco Tomas Lindahl, o norte-americano Paul Modrich e o turco-americano Aziz Sancar decifraram a "caixa de ferramentas das células" ao identificarem as proteínas que intervêm no mecanismo de reparação do DNA das células.

"Nosso DNA está constantemente sendo prejudicado", explica à AFP Terence Strick, diretor de pesquisa do CNRS Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS) no Instituto de biologia Jacques Monod em Paris. "Pelos raios UV do sol, os produtos tóxicos presentes da fumaça do tabaco, os raios ionizadores e também quando o DNA se replica, já que os erros são incorporados".

Para remediar o fenômeno, moléculas de reparação do DNA funcionam constantemente. Elas são essenciais para a sobrevivência das células, protegidas do surgimento de mutações suscetíveis de provocar um câncer. De acordo com as pessoas, as células fabricam mais ou menos destas proteínas de reparação.

As descobertas de três pesquisadores "ajudaram primeiramente a compreender o mecanismo inicial de desenvolvimento dos cânceres", declarou à AFP Alain Sarasin, diretor de pesquisa emérito do CNRS no Instituto Gustave Roussy. Elas também ajudam a compreender melhor alguns tipos de câncer de origem genética (cólon, mama).

"Uma vez que o câncer se manifesta e que nós tentamos tratá-lo com quimioterapia, estas moléculas de reparação podem novamente intervir", aponta Terence Strick.

- Descomplicar o trabalho dos médicos -A quimioterapia visa atacar o DNA das células doentes. Mas "os sistemas de reparação do DNA vão tentar descomplicar o trabalho dos médicos retirando os prejuízos que eles tentam infligir às células cancerígenas", explica Terence Strick.

Nos pacientes que têm níveis de reparação do DNA elevados, as células cancerígenas às vezes conseguem sobreviver à quimioterapia por causa deste mecanismo de defesa.

"Compreender melhor estes mecanismos permite testar as capacidades de reparação dos doentes" e personalizar o tratamento, segundo Sarasin.

Alguns pesquisadores vão mais longe. Agora que os ingredientes da reparação são identificados, "vamos tentar criar moléculas que inibem a reparação do DNA", afirma Jean-Marc Egly, diretor de pesquisa do Instituto Nacional de Saúde e Pesquisa Médica (Inserm) francês. "Vamos poder fazer bi-terapias", estimou.

"Se combinamos a quimioterapia com outros medicamentos que possam impedir a reparação do DNA (células tumorais), o tratamento poderia ser mais eficaz", considera Nora Goosen, pesquisadora da Universidade de Leiden, na Holanda.

Alain Sarasin mostra-se mais cauteloso neste ponto. "O problema é que, até o momento, não sabemos mirar as células tumorais especificamente. Então, se dermos ao paciente uma molécula que inibe a reparação das células cancerígenas, corremos o risco de impedirmos a reparação também de outras células como os glóbulos brancos" e de sermos "tóxicos", ressaltou o especialista.

Anualmente, o câncer mata cerca de 8 milhões de pessoas em todo o mundo.

lc-pcm/jm/na/mct/mm