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Corrida por US$ 100 bilhões para clima entra na reta final em Lima

09/10/2015 19h03

Lima, 9 Out 2015 (AFP) - A corrida pelos 100 bilhões de dólares para combater o aquecimento global entrou na reta final em Lima, mas alguns obstáculos ainda precisam ser superados a dois meses da Cúpula sobre o clima de Paris.

Cerca de 15 bilhões de dólares anuais adicionais foram prometidos pelos bancos de desenvolvimento - informou à AFP o governo francês - que se juntariam aos quase 62 bilhões já arrecadados pela comunidade internacional.

"Esperamos muito dos bancos multilaterais (...) e eles assumiram o compromisso", comemorou o ministro francês das Finanças, Michel Sapin, durante encontro na capital peruana, do qual participaram representantes de 50 países e instituições.

A França quer que a questão dos 100 bilhões de dólares de ajuda anual aos países pobres na luta contra o aquecimento global seja resolvida antes do encontro parisiense em dezembro.

Será feita pressão sobre os bancos multilaterais de desenvolvimento como o Banco Mundial, o Banco Europeu de Investimentos (BEI) e o Banco Africano de Desenvolvimento para aumentar a participação dos créditos dedicados à luta contra o aquecimento global.

Na quarta-feira, John Kerry, secretário de Estado da maior economia do mundo, também apontou que "os Estados Unidos esperam que os bancos multilaterais de desenvolvimento tenham metas ambiciosas sobre o clima".

Nesta semana, a OCDE calculou que foram mobilizados 61,8 bilhões no final de 2014, principalmente pelos países em operações bilaterais (23,1 bilhões), pelos atores multilaterais (20,4 bilhões) e pelo setor privado (16,7 bilhões).

Segundo os especialistas, os governos não estão isentos de esforços adicionais.

"Os atores multilaterais podem fazer mais, mas os países também devem fazer mais", disse à AFP o secretário-geral adjunto da ONU para a mudança climática, Janos Pasztor.

Uma opinião compartilhada por Isabel Kreisler, especialista políticas de mudança climática da Oxfam, que garantiu que os "bancos multilaterais de desenvolvimento e os governos devem pagar mais".

- Pressão positiva -Na União Europeia uma dezena de países ainda não deram os detalhes de seus esforços.

"Em Lima, insistirei na necessidade de chegar a tempo, vou seguir exercendo pressão positiva nos Estados-membros, mas não tenho nenhuma preocupação sobre o fato de que a Europa estará em Paris", disse à AFP o comissário europeu de Assuntos Econômicos Pierre Moscovici.

Quanto aos bancos de desenvolvimento, alguns já começaram a reforçar sua estratégia. O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) anunciou na quinta-feira que vai "duplicar seu financiamento para a mudança climática", passando de 14% aproximadamente, para entre 25 e 30% em 2020.

No final de setembro, o Banco Asiático de Desenvolvimento anunciou que aumentaria de 3 bilhões para 6 bilhões os aportes, elevando a 30% sua parte do empréstimo em projetos verdes.

Dentro de pouco tempo serão possíveis outros movimentos similares. "O Banco Africano de Desenvolvimento está muito determinado", garantiu Sapin.

Mas, para algumas ONGs, muitos dos fundos registrados pela OCDE não devem ser considerados como um auxílio, o que reduziria em 100 bilhões o alcance deste número.

"Nem tudo o que brilha é ouro", disse Kreisler à AFP, estimando que é considerado verde o financiamento de alguns projetos que nem sempre estão relacionados ao aquecimento global (por exemplo na agricultura) ou que os números da OCDE comportam muitos empréstimos que terão que ser reembolsados depois.

Para Denis Voisin, da fundação Hulot, "restam problemas sobre a contabilidade retida, que incluem muitos empréstimos. [...] Insistiremos que haja uma parte de doações maiores, é uma das metas de Paris".

"Até o momento o relatório da OCDE é um informe dos países do norte (...) e isso é ótimo, mas agora é necessário que todos os países possam participar deste processo", disse Pasztor.

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