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Vulcões que afetaram o clima ajudaram a derrubar o antigo Egito, diz estudo

Reprodução/fantastic-views
Imagem: Reprodução/fantastic-views

17/10/2017 21h52

Fragmentos lançados por vulcões que bloquearam o Sol há mais de 2.000 anos afetaram nascentes que alimentavam o rio Nilo, acelerando a queda do último reino do antigo Egito, disseram pesquisadores nesta terça-feira (17).

Erupções nos séculos 3 e 1 a.C. --incluindo uma das maiores explosões nos últimos 2.500 anos-- coincidiram com perdas de colheitas, revoltas em grande escala e a retirada de exércitos egípcios do campo de batalha, relataram os pesquisadores na revista científica "Nature Communications".

Até agora, os pesquisadores buscavam uma explicação para esses eventos.

"As erupções vulcânicas podem ter tido um papel central no eventual colapso da dinastia ptolemaica", observou a revista em um resumo do estudo.

As descobertas, segundo os autores, também põem em evidência o risco, hoje em dia, de esquemas de engenharia climática que combateriam o aquecimento global injetando bilhões de pequenas partículas na estratosfera --assim como um vulcão-- para bloquear alguns dos raios solares.

Mesmo que o chamado gerenciamento de radiação solar diminua a temperatura do planeta, poderia causar grandes rupturas nos padrões de precipitação.

"A vulnerabilidade ptolemaica às erupções vulcânicas sugere uma cautela para todas as regiões agrícolas dependentes de monções", que hoje incluem 70% da população mundial, escreveram os autores.

O império ptolemaico começou em 305 a.C., pouco depois da morte de Alexandre, o Grande, e terminou em 30 a.C. com o suicídio de Cleópatra. Depois disso, a região se tornou uma província romana.

O reino prosperou, alimentado pelo Nilo, rico em sedimentos, que no verão transbordava em direção a uma vasta rede de campos de grãos. Um sistema engenhoso de canais e barragens armazenava a água depois que o rio recuava, em setembro.

Revoltas violentas

"Quando as cheias eram boas, o Vale do Nilo era um dos lugares de maior produção agrícola do mundo antigo", disse Francis Ludlow, historiador do clima no Trinity College Dublin e coautor do estudo.

Mas em alguns anos, o rio não subiu, e os problemas apareceram.

Com base em modelos climáticos, núcleos de gelo da Groenlândia e escritos egípcios antigos, pesquisadores liderados pelo historiador Joseph Manning, da Universidade de Yale, compuseram uma narrativa que mostrou um vínculo claro desses problemas com grandes erupções vulcânicas em todo o mundo.

Em 245 a.C., por exemplo, o governante Ptolomeu 3º abandonou de repente e inexplicavelmente uma campanha militar bem-sucedida contra o seu inimigo, o Império Selêucida, na região que atualmente compreende a Síria e o Iraque.

"Esta reviravolta mudou tudo na história do Oriente Médio", disse Manning.

Os registros históricos também apontaram para a escassez simultânea de alimentos devido à cheia insuficiente do Nilo, assim como para insurreições violentas no Reino Ptolemaico, que se estenderam pelo nordeste da África e partes do Oriente Médio.

Uma confluência semelhante de agitação social, doenças e fome atingiu o império em suas duas últimas décadas.

Ambos os períodos turbulentos coincidiram com grandes erupções vulcânicas, descobriram os pesquisadores.

A partir de registros mais recentes, os cientistas sabem que as dezenas de milhões de toneladas de partículas de dióxido de enxofre ejetadas na atmosfera superior por uma grande erupção podem evitar que as monções se movam longe o suficiente para encharcar completamente o planalto etíope, que alimenta o Nilo.

Isso aconteceu quando os vulcões Eldgjá e Laki, na Islândia, entraram em erupção, em 939 e 1783-84, respectivamente. O Nilômetro islâmico, um registro dos níveis de água do Nilo desde 622, mostrou um impacto correspondente no rio.

"As erupções vulcânicas não causaram estas revoltas (sociais) por si só", disse Ludlow. "Mas elas provavelmente adicionaram combustível às tensões econômicas, políticas e étnicas existentes".