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2018 foi o segundo ano mais quente registrado no Ártico desde 1900

Marcas do derretimento do gelo sobre glaciares na Groelândia - LUCAS JACKSON/Reuters
Marcas do derretimento do gelo sobre glaciares na Groelândia Imagem: LUCAS JACKSON/Reuters

11/12/2018 18h26

O aquecimento global está subindo a temperatura do Ártico a um ritmo recorde, reduzindo o gelo na região e impulsando importantes mudanças ambientais em todo o planeta, alertou nesta terça-feira (11) uma agência do governo americano.

O ano 2018 é o segundo mais quente no Ártico desde que se começou a registrar as temperaturas, em 1900, segundo um informe da Administração Oceânica e Atmosférica (NOAA, sigla em inglês), que alertou que o aquecimento alimentou "mudanças profundas" no ecossistema.

A agência informou que só 2016 foi historicamente mais quente que 2018, quando o Ártico registrou uma temperatura 17°C acima da média das últimas três décadas, com um aquecimento duas vezes mais rápido que a média mundial.

A tendência é clara: os últimos cinco anos foram os mais quentes já registrados, segundo a NOAA, que coordenou este informe de referência escrito por mais de 80 cientistas de 12 países.

A agência depende diretamente da administração do presidente Donald Trump, que em novembro rejeitou um informe sobre os efeitos das mudanças climáticas por parte de cientistas federais.

"O Ártico está experimentando uma transição sem precedentes na história da humanidade", disse Emily Osborne, do Programa de Pesquisa do Ártico da NOAA.

No oceano Ártico, o gelo se forma de setembro a março, mas esse intervalo se reduz inexoravelmente com o passar dos anos. O gelo é menos espesso, mais jovem e cobre uma parte menor do oceano. O gelo antigo, ou seja, de mais de quatro anos, diminuiu 95% nos últimos 33 anos.

É um círculo vicioso: o gelo mais jovem é mais frágil e derrete no início da primavera boreal. E menos gelo significa menos reflexo solar: o oceano absorve mais energia e aquece um pouco mais.

Os últimos 12 anos foram os de cobertura de gelo mais frágil.

Por exemplo, nunca houve tão pouco gelo invernal no Mar de Bering entre a Rússia e o Alasca quanto em 2017-2018. Em geral, o inverno mais forte chega em fevereiro, mas este ano o gelo derreteu nesse mês. Só restava um quarto do normal.

"É informação importante este ano", disse Donald Perovich, professor em Dartmouth College, "a perda de uma área do tamanho de Idaho", aproximadamente 215.000 km² em duas semanas em fevereiro.

Menos gelo

O fenômeno do aquecimento global nesta zona do Ártico provavelmente causou o degelo prematuro de verão nos mares de Beaufort e Chukchi.

Por outro lado, a aceleração do degelo da cobertura glacial da Groenlândia se estabilizou, segundo a NOAA.

A agência americana tem dados consideráveis. Seus satélites viajam 28 vezes por dia sobre o Ártico e proporcionam as leituras mais precisas sobre o gelo e os oceanos. Também se baseia em uma rede de cientistas, sensores e boias.

Segundo esta agência, os seis rios da Eurásia que desembocavam no Oceano Ártico derramaram 25% a mais de água no verão boreal passado em comparação com os anos 1980.

Estas mudanças climáticas têm um efeito dramático no ecossistema.

"O aquecimento contínuo da atmosfera e do oceano árticos está causando grandes mudanças no sistema ambiental", resumiu a agência.

As populações de renas selvagens da tundra diminuíram desde meados dos anos 1990.

Só duas das 22 manadas monitoradas não diminuíram. Cinco perderam mais de 90% de seus membros na região do Alasca e Canadá e "não mostram sinais de recuperação".

"Algumas manadas têm populações no nível mais baixo já registrado", adverte a agência. A maioria está classificada oficialmente como raras ou em perigo de extinção.

A causa provável é o alargamento do verão e seus males para os animais, bem equipados para o inverno mas não para a estação quente devido aos parasitas, pulgas e doenças.

Por outro lado, o aquecimento ajuda as algas vermelhas tóxicas (plâncton microscópico ou algas maiores) a conquistarem novos territórios, conforme penetram nas águas cada vez menos frias do Ártico, onde os peixes e os mariscos podem se envenenar.

"Os dados reunidos na última década mostram claramente que existem múltiplas espécies de algas tóxicas na cadeia alimentar do Ártico em níveis perigosos, e é muito provável que este problema persista e piore no futuro", segundo a NOAA.

O aquecimento do Ártico também está mudando a corrente de jato que tem consequências em latitudes médias, muito abaixo do polo. Esta corrente rápida de ventos fortes rodeia e contém o ar frio do Ártico.

Mas se essa barreira se "suaviza", as massas de ar frio descem e fazem o ar quente subir. Segundo o informe, isto contribui para a multiplicação de fenômenos meteorológicos extremos, como as ondas de calor no oeste dos Estados Unidos e as tempestades de neve excepcionais na costa leste.