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Etanol brasileiro é opção melhor, diz esboço do IPCC

Marina Wentzel, enviada especial a Bancoc <br/>

02/05/2007 10h40

A versão integral da terceira parte do relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, em inglês) da Organização das Nações Unidas (ONU) deve mencionar que o etanol feito de cana-de-açúcar, como é produzido no Brasil, é ambientalmente uma opção melhor que o etanol feito de milho, principal fonte do biocombustível nos Estados Unidos, de acordo com um documento ao qual a BBC Brasil teve acesso.

O texto integral serve de base para o sumário que sugere novas políticas ambientais (Summary for Policy Makers, SMP em inglês).

Representantes de mais de 120 países estão reunidos em Bancoc, na Tailândia, para estabelecer as conclusões do SMP da terceira parte do relatório anual do IPCC, que deve ser divulgado na sexta-feira.

O documento também deve recomendar aos países o uso em larga escala de outras formas de biocombustível e que haja um se esforço para popularizar o consumo de etanol e de outros combustíveis à base de biomassa dentro dos próximos 15 anos.

Segundo Stephan Singer, chefe da unidade de políticas energéticas da organização não-governamental WWF, o Fundo Mundial para a Natureza, o etanol proveniente do milho é claramente mais nocivo ao meio ambiente do que o feito da cana.

"A produção do etanol feito do milho depende de agricultura intensa e utiliza muitos pesticidas, fertilizantes, que liberam gases causadores do efeito estufa como N2O (óxido nitroso)."

"Algumas pesquisas tem indicado que em termos de emissões de carbono, na média, o etanol americano produzido do milho pode ser até pior que o petróleo", disse Singer à BBC Brasil.

Desmatamento

Em um estudo divulgado no começo deste ano, a organização não-governamental alemã Global Nature Fund sugere que o cultivo de cana-de-açúcar para produção de etanol está causando desmatamento na região do Pantanal.

Mas segundo Singer, da WWF, o etanol brasileiro não é a principal causa do desflorestamento. Ele aponta a indústria pecuária como razão do problema e defende a produção sustentável do biocombustível.

"Nós fazemos campanha para que o etanol vendido na Europa tenha um certificado de qualidade atestando que não é proveniente de áreas desmatadas."

"Se o Brasil se esforçar para produzir etanol de maneira sustentável para o mercado europeu, e ele é capaz disso, acredito que há uma grande oportunidade de se gerar riqueza no Brasil com isso", conclui Singer.

O SMP é uma versão resumida com as recomendações que os países participantes devem se comprometer a adotar, e por isso, a redação de seu conteúdo é sempre antecedida por intensa negociação diplomática.

Esta versão resumida do documento, à qual a BBC Brasil teve acesso, deve fazer referência a um maior uso de biocombustíveis, mas não deve especificar o etanol "made in Brazil".

No capítulo de transportes, o resumo deve propor metas como a economia obrigatória de combustível, o investimento em transporte público, criação de impostos sobre automóveis e o estabelecimento de padrões para as emissões de gás carbônico até 2030.