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Para cientista, mudança climática não é única culpada por calor na Europa

BBC Brasil

26/07/2007 20h04

Condições climáticas totalmente opostas afetam a Europa neste verão. Enquanto as regiões sul e sudeste do continente sofrem os efeitos de uma forte onda de calor, algumas partes do Reino Unido enfrentam as piores enchentes dos últimos 60 anos.

A ocorrência de fenômenos tão distintos em regiões tão próximas tem sido atribuída por muita gente à mudança climática causada pelo aquecimento global. Mas cientistas especializados em clima relutam em fazer esta ligação.

"Você pode até admitir que devido ao aquecimento da Terra vão ocorrer fenômenos extremos com mais freqüência, mas não podemos atribuir qualquer evento específico à mudança climática", disse Malcolm Haylock, um especialista em climas extremos.

Neste mês, centenas de pessoas morreram vítimas de uma onda de calor que atingiu a região sudeste da Europa. Incêndios florestais atingiram várias partes da Grécia, dificultando os esforços de combate ao fogo.

Mas, na Inglaterra e no País de Gales, grandes enchentes levaram caos a várias regiões e obrigaram a retirada dos moradores de milhares de casas.

Baseado em dados colhidos no passado e em outros registros climáticos, aumenta cada vez mais o consenso de que as emissões de gases de efeito estufa estão aquecendo o clima na Terra.

Muitos cientistas afirmam que até o final do século o aumento global de temperatura poderá ficar entre 1,1ºC e 6,4ºC.

Mas, ao observar as secas e enchentes que têm ocorrido em diversas partes do planeta, os cientistas avaliam que não é correto atribuir as tendências de longo prazo de um ciclo de chuvas à atividade humana.

O clima europeu é afetado por um sistema climático chamado Oscilação do Atlântico Norte. Este sistema se carcteriza pela existência de diferentes pressões atmosféricas no nível do mar medidas na Islândia e nos Açores.

"Nos últimos 50 anos, verificamos uma tendência da ocorrência durante o inverno de pressões mais baixas sobre a Islândia e pressões mais elevadas nos Açores, apesar da ocorrência do fenômeno ter diminuído nos últimos anos", disse Malcolm Haylock, que trabalha para a seguradora PartnerRe, em Zurique (Suíça), e já foi da Unidade de Pesquisa Climática da Universidade East Anglia, no Reino Unido.

O impacto deste sistema climático atinge das partes mais altas da atmosfera até o fundo do oceano.

Mas o impacto mais aparente desse sistema, verificado na última metade do século, é a maior ocorrência de secas no sul da Europa e maior incidência de chuvas no norte do continente durante o inverno.

Os efeitos do sistema Oscilação do Atlântico Norte em outras estações do ano, como o verão, não são assim tão definidos. Sistemas climáticos locais parecem ter um papel mais importante nestas estações.

Haylock afirma que as recentes mudanças no sistema não podem ser relacionadas à mudança climática influencida pela ação dos seres humanos.

Os cientistas simplesmente não dispõem de dados colhidos durante um período suficientemente longo para que possam apresentar uma conclusão definitiva.

Por outro lado, existe um crescente consenso de que as mudanças recentemente verificadas na Oscilação do Atlântico Norte vão continuar no futuro, levando as tempestades de inverno para o norte da Europa e mantendo um clima severamente seco no sul do continente.

Modelos de computador sugerem que, à medida que o clima ficar mais quente nas próximas décadas, a água e terras disponíveis na Europa poderão diminuir.

"A água existente no solo resfria bastante a atmosfera, e uma vez que (a água) tenha secado, as temperaturas sobem. Então, há o temor de que estes dias quentes fiquem mais freqüentes na próxima década, mas ainda é incerto", disse Haylock.