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Brasileiros se preocupam com clima, mas rejeitam impostos

Da BBC Brasil

05/11/2007 13h59

Nove entre cada dez brasileiros acreditam que as pessoas terão que mudar seu estilo de vida para ajudar a combater o aquecimento global, segundo uma pesquisa encomendada pelo Serviço Mundial da BBC, que ouviu 22 mil pessoas em 21 países.

O Brasil está entre os países em que a população de uma forma geral mais acredita que as mudanças deverão ocorrer. No entanto, os brasileiros estão entre os que menos apoiam um aumento de impostos no setor de energia como forma de combater o efeito estufa.

De acordo com a pesquisa, realizada pela empresa GlobeScan junto com o Programa Internacional de Atitudes Políticas (PIPA, na sigla em inglês), da Universidade de Maryland, 50% dos brasileiros disseram que as pessoas "definitivamente" terão que mudar seus estilos de vida para combater as mudanças climáticas. Outros 38% disseram que as mudanças "provavelmente" terão de ocorrer.

Na média global, 41% dos entrevistados disseram que "definitivamente" terão que haver mudanças, e 37%, que "provavelmente" deverão ocorrer mudanças.

"As pessoas em todo o mundo reconhecem que para combater as mudanças climáticas é preciso que haja uma mudança de comportamento. E que para incentivar essas mudanças será necessário um aumento do custo da energia que contribui para as mudanças climáticas", disse o diretor da PIPA, Steven Kull.

Não aos impostos
Apesar de acreditarem que deverão ocorrer mudanças no seu estilo de vida, os brasileiros se mostram pouco dispostos a pagar mais pela energia como uma forma de ação.

No levantamento, as pessoas tinham três opções sobre o aumento de impostos: primeiro, se apoiam o aumento mesmo que ele não seja vinculado diretamente ao combate ao aquecimento global; segundo, se elas apoiam mais impostos desde que o dinheiro seja dedicado à geração de formas limpas de energia; e, por fim, se apoiam mais impostos desde que outros impostos sejam reduzidos como forma de compensação.

Enquanto na média geral dos países pesquisados, 50% dos entrevistados apoiam o aumento de imposto sobre energia mesmo que ele não esteja vinculado diretamente ao combate ao aquecimento, no Brasil 41% disseram apoiar a medida. Quando o aumento de impostos é vinculado à geração de energia limpa, esse percentual no Brasil sobe para 65% - ainda assim, o segundo mais baixo entre os 21 países pesquisados. Apenas os indianos se mostraram mais refratários ao aumento dos impostos, com 60%.

Mesmo quando a idéia é que o volume total de impostos permaneça inalterado, os brasileiros não mostram propensão a pagar pela energia. A taxa de pessoas que apoiam a idéia continua em 65%, enquanto na maioria dos outros países esse índice é bem maior. Apenas no México e nos Estados Unidos a idéia teve menos apoio, com 64%.

A pesquisa mostrou ainda que a consciência em relação ao aquecimento global é grande entre os maiores poluidores do planeta - Estados Unidos e China. Entre os americanos, 48% acreditam que as pessoas "definitivamente" terão que mudar seus estilos de vida, e outros 31% crêem que isso "provavelmente" terá de ocorrer. Na China, esses percentuais são, respectivamente, de 59% e 28%.

Nos dois países, a população se mostra mais disposta que os brasileiros a pagar impostos maiores para conter o aquecimento. Na China, 97% apoiam algum tipo de aumento, enquanto nos EUA essa taxa chaga a 74%.

A pesquisa está sendo publicada para coincidir com a semana do Serviço Mundial da BBC sobre mudanças climáticas. Também nesta semana a BBC Brasil vai trazer um blog sobre como as mudanças climáticas estão afetando a vida em Bangladesh, um dos países mais populosos do mundo.

"Enquanto poucos cidadãos apóiam o aumento de impostos, a pesquisa sugere que líderes nacionais poderiam ser bem sucedidos ao introduzir impostos de carbono sobre a energia. O requerimento chave, no entanto, é que os cidadãos confiem que esses impostos serão investidos no combate às mudanças climáticas aumentando a eficiência energética e desenvolvendo combustíveis mais limpos", afirmou o presidente da GlobeScan, Doug Miller.