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Ban Ki-moon visita Brasil em meio a debate sobre etanol

Asdrúbal Figueiró<br>De São Paulo

11/11/2007 11h22

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, chega ao Brasil neste domingo para uma visita de três dias em um momento em que a idéia do uso de biocombustíveis como alternativa energética enfrenta crescente resistência no exterior - sobretudo na Europa.

Moon começa sua visita ao país justamente conhecendo uma usina de álcool, na região de Ribeirão Preto, interior de São Paulo, e o assunto deve fazer parte da conversa que terá com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A BBC Brasil apurou que o secretário da ONU deve evitar dar o endosso entusiasmado ao etanol e aos demais biocombustíveis que o governo brasileiro gostaria de receber, já que o tema não é unanimidade na organização.

Menina-dos-olhos da política externa de Lula, o biocombustível vem sendo promovido pelo Brasil como uma alternativa ecologicamente correta aos combustíveis fósseis no combate ao aquecimento global e como uma opção econômica para países pobres da África e América Central.

Críticas

A iniciativa ganhou impulso e manchetes em todo o mundo com o anúncio de uma "parceria estratégica" entre o Brasil e os Estados Unidos na área de biocombustíveis durante a visita de George W. Bush ao país em março.

De lá para cá, porém, a idéia vem enfrentando oposição de vários lados: ambientalistas, grupos econômicos, governos e até de dentro da ONU.

Os dois principais argumentos dos críticos são que a produção de biocombustíveis tende competir e encarecer com a de alimentos e que a plantação de cana empurraria outras culturas para Amazônia, aumentando a devastação da região.

No final de outubro, o relator especial da ONU para o Direito à Alimentação, Jean Ziegler, chegou a pedir uma moratória na produção de biocombustíveis, dizendo ser "crime contra a humanidade converter terras para a agricultura em solo para produzir alimento a ser queimado como combustível".

Bali

O governo brasileiro argumenta que, ao contrário do etanol de milho americano, o álcool de cana não compete com a produção de alimentos e que há um estoque de terras ociosas suficiente para garantir a produção de cana sem afetar a de outras culturas.

A posição da secretaria-geral da ONU é que todas as alternativas aos combustíveis fósseis, acusados de serem os maioreis vilões do aquecimento global, devem ser consideradas com atenção - e é nesse contexto que a visita de Moon deve ser entendida.

A escala do secretário da ONU no Brasil é parte de uma viagem pela América do Sul que tem dois objetivos: chamar a atenção do mundo para os reflexos do aquecimento global na região e promover o tema localmente.

A iniciativa ocorre a cerca de um mês de uma reunião em Bali, na Indonésia, em que líderes do mundo inteiro devem discutir o que fazer quando o Protocolo de Kyoto chegar ao fim, em 2012. O protocolo prevê uma série de medidas para conter o efeito estufa.

O roteiro da viagem, que começou na quarta-feira, inclui, além do Brasil, bases na Antártida e glaciares no Chile e na Argentina. Moon deve terminar seu giro pela região com uma passagem pela Amazônia.