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China corre contra o relógio para combater poluição

Marina Wentzel<br>De Hong Kong para a BBC Brasil

01/08/2008 15h22

Apesar de todos os esforços para reduzir a poluição de Pequim e de outras cidades na véspera da abertura das Olimpíadas, a China ainda luta contra o problema na véspera do início das competições.

Nas últimas semanas, a China suspendeu a atividade de algumas fábricas perto da capital, implementou um rodízio de carros e até criou um sistema de alta tecnologia para criar chuvas artificiais, que limpariam a poluição de Pequim.

Ainda assim, a qualidade do ar é ruim e atletas brasileiros já estão tomando medidas para evitar que a poluição afete o desempenho na competição.

'Fenômeno natural'

Em Pequim, as autoridades locais alegam que a poluição está sob controle e que as nuvens cinzentas que pairam sobre a capital não servem de parâmetro para comprovar a situação do ar.

"Essas nuvens e bruma não são poluição. Esse tipo de tempo é um fenômeno natural e não tem nada a ver com poluição", afirmou na semana passada Du Shaozhong, vice-diretor do Departamento de Proteção Ambiental de Pequim.

No entanto, a qualidade do ar e da água em algumas das cidades-sede é questionável.

Medições feitas nos últimos meses por grupos como o ambientalista Greenpeace afirmam que os ares da capital têm mais que o dobro do nível de poluição aceito pela Organização Mundial de Saúde.

O brasileiro Paulo Fonseca, que mora em Pequim, disse que apesar das medidas implementadas pelos organizadores dos Jogos, os residentes da cidade não perceberam nenhuma mudança na qualidade do ar.

"O ar parece sólido. A garganta fica irritada e seca. Não se nota uma melhora muito significativa", disse Fonseca à BBC Brasil.

Medidas

Desde 20 de julho os cerca de 3,3 milhões de carros da cidade têm feito rodízio para reduzir a emissão de gás carbônico e desafogar o trânsito.

Só é permitido a cada dia que veículos com placas de terminação par ou ímpar trafeguem alternadamente.

Além disso, as atividades nas fábricas e construções da capital e províncias arredores foram suspensas, para reduzir a poeira e gases tóxicos nos ares de Pequim.

Autoridades chinesas afirmaram que pretendem produzir uma "chuva artificial" para limpar a poluição dos céus da capital, se necessário.

Chen Zhenlin, vice-diretor do Departamento de Administração Meteorológica explicou que Pequim vem testando a tecnologia das chuvas artificiais desde 2003 e que a "solução mágica" consiste em borrifar nuvens com iodeto de prata, um químico catalisador que acelera o processo de condensação da água.

Mas "soluções mágicas" podem não funcionar para todos os problemas. Em Qingdao, sede das competições de vela, a questão é a poluição da água.

Nas semanas que antecederam às Olimpíadas a costa foi invadida por algas verdes que tornaram impossível aos velejadores treinar tranqüilamente.

Uma força tarefa de dez mil soldados e voluntários trabalhou obstinadamente para recolher mais de um milhão de toneladas das indesejáveis folhas marinhas.

"Agora a baia está mais limpa, embora ainda tenha algumas ilhas de algas", disse à BBC Brasil Isabel Swan, atleta que compete na classe 470 e está treinando em Qingdao.

Atletas brasileiros

Os atletas brasileiros preferem não se contentar apenas com as medidas do governo chinês e têm tomado suas próprias providências.

A equipe de remo, por exemplo, cogita utilizar máscaras contra a poluição e trouxe na bagagem uma bombinha de respiração semelhante à usada pelos asmáticos, para garantir oxigenação adequada.

Mas de acordo com João Granjeiro, chefe da equipe de médicos brasileiros que acompanha a delegação olímpica, a poluição não é impedimento.

"Nós não vemos isso como um risco para a saúde dos atletas", porém "só será possível saber o verdadeiro impacto da poluição no desempenho deles na hora da competição", diz Granjeiro.

A má qualidade do ar não chega a ser propriamente uma surpresa para os brasileiros.

Segundo contou à BBC Brasil o chefe da delegação Olímpica, Marcos Vinícius Freire, os níveis de poluição "estão dentro do esperado".

"Já sabíamos há quatro anos o que iríamos encontrar aqui. Então os esportes de rua como maratona, marcha atlética, vão sentir mais, mas os outros países também vão ter a mesma referência."

"Se comparar com quatro anos atrás, o clima em qualquer cidade do mundo está pior. Cada vez nós vamos ter as cidades mais poluídas e isso é um mal nosso, da nossa geração, e vai ficar cada vez pior daqui pra frente", se resigna Freire.