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Pesquisa revela que escolha política pessoal pode ter base biológica

19/09/2008 10h19

Um estudo realizado nos Estados Unidos sugere que a opção política em cada indivíduo pode estar relacionada com a sensibilidade ao medo.

Publicada na edição dessa semana da revista "Science", a pesquisa afirma que pessoas com atitudes sociais radicalmente diferentes também diferem na sua reação fisiológica ao medo.

Segundo os resultados, as pessoas mais sensíveis ao medo e a ameaças tendem a ter opiniões políticas geralmente associadas às idéias dos partidos conservadores - como o apoio à pena de morte, aos gastos em defesa nacional, à Guerra no Iraque e a oposição ao aborto.

Em contrapartida, o estudo sugere que as pessoas menos afetadas pelo medo e que demonstram respostas fisiológicas mais contidas são mais propensas a apoiar políticas mais liberais de imigração, pacifismo, controle de armas e ajuda internacional - fatores normalmente relacionados com a opção de esquerda.

Reações
Para chegar aos resultados, os pesquisadores da Universidade de Nebraska- Lincoln analisaram as respostas de 46 voluntários com fortes opiniões políticas sobre diversos assuntos - da guerra no Iraque às políticas de imigração.

Depois dessa análise, feita a partir de questionários, os pesquisadores mediram a resposta fisiológica dos participantes quando expostos a uma série de sons e imagens.

A análise foi feita de duas formas: na primeira, os cientistas monitoraram as reações através de um aparelho que mede a variação da condutividade elétrica na pele enquanto os participantes assistiam às imagens que mostravam cenas neutras misturadas a outras mais "ameaçadoras" como uma aranha grande ou uma ferida aberta.

Sons repentinos também foram colocados para tentar "assustar" os participantes. Na segunda, os pesquisadores mediram a força com que as pálpebras dos voluntários se fechavam quando eles piscavam.
"Os pesquisadores descobriram que essas reações se correlacionavam de maneira significativa conforme a posição social mais conservadora ou liberal de cada participante", diz o texto da Science.

Segundo o estudo, as pessoas que apoiavam mais as políticas de "proteção à unidade nacional" demonstraram mais alterações na condutividade da pele quando expostos à imagens mais ameaçadoras do que aqueles que não apoiavam essas políticas.

Diferenças
De acordo com John Hibbing, que coordenou o estudo, a pesquisa não tem relevância política, mas pode explicar porque é tão difícil mudar a opinião de uma pessoa durante uma discussão sobre política.

"As pessoas estão experimentando o mundo e as ameaças de forma diferente", disse. "Existem orientações psicológicas diferentes. Não temos certezas de onde elas vem, podem ser genéticas, podem estar ligados a algum acontecimento da infância. O que sabemos, no entanto, é que são profundas porque são um reflexo - não é algo que você possa mudar amanhã", afirmou Hibbing.

Para ele, os resultados ajudam a compreender porque algumas pessoas são tão teimosas em suas opiniões políticas.