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Obama diz que BP é 'imprudente' e que vai pagar por vazamento no Golfo

15/06/2010 23h16

Em seu primeiro pronunciamento à nação feito do Salão Oval da Casa Branca, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse nesta terça-feira que a petroleira britânica BP foi "imprudente" e que vai fazer a empresa pagar pelos danos causados pelo vazamento de petróleo no Golfo do México."Nós vamos fazer a BP pagar pelos danos que sua companhia causou. E nós vamos fazer o que for necessário para ajudar a costa do Golfo e sua população a se recuperarem dessa tragédia", disse o presidente em um discurso transmitido ao vivo pela TV."Amanhã, eu vou me reunir com o presidente da BP e informá-lo de que ele deve reservar a quantia que for necessária para compensar esses trabalhadores e comerciantes que foram prejudicados por causa da imprudência de sua empresa", afirmou Obama.O presidente deverá se reunir com a cúpula da petroleira nesta quarta-feira.O governo americano vem pressionando a BP a criar um fundo independente de bilhões de dólares para garantir o pagamento de compensações financeira às vítimas do vazamento.Ataque O Salão Oval da Casa Branca é o cenário escolhido pelos presidentes americanos para discursos sobre temas de grande importância para o país.Foi de lá que o antecessor de Obama, George W. Bush, falou após os ataques de 11 de Setembro de 2001.Nesta terça-feira, Obama disse que o vazamento no Golfo - considerado o pior desastre ambiental da história do país - é um "ataque" à costa e ao povo americano e que "testou os limites da tecnologia humana"."Porque nunca houve um vazamento desse tamanho e a essa profundidade, contê-lo testou os limites da tecnologia humana", disse.Obama passou os últimos dois dias visitando a região afetada pelo vazamento, que começou em 20 de abril, quando uma plataforma operada pela BP explodiu e afundou, matando 11 funcionários.Nova estimativa O pronunciamento foi feito poucas horas depois da divulgação de uma nova estimativa, baseada em análises de cientistas independentes e do governo, segundo a qual o vazamento é de entre 35 mil e 60 mil barris por dia, volume bem acima dos 40 mil calculados na semana passada.Desde o início do vazamento, várias tentativas de conter o fluxo de petróleo fracassaram. A mais recente técnica usada pela BP, um dispositivo colocado sobre o poço danificado, a 1,5 mil metros de profundidade, consegue até agora coletar apenas cerca de 18 mil barris por dia.No entanto, Obama disse que o governo já ordenou à empresa que use equipamentos e tecnologia adicionais."Nas próximas semanas, esses esforços devem capturar até 90% do petróleo", disse o presidente, ao afirmar que, desde o desastre, seu governo mobilizou "os melhores cientistas e engenheiros do país".Limpeza e recuperação Obama disse que cerca de 30 mil pessoas e milhares de embarcações estão atuando em quatro Estados (Louisiana, Alabama, Mississippi e Flórida) nos esforços de contenção do petróleo e limpeza das áreas atingidas.O presidente americano disse também que mais de 17 mil membros da Guarda Nacional estão mobilizados para ajudar nos esforços na região afetada."Nós vamos lutar contra esse vazamento com tudo o que tivermos e por quanto tempo for necessário", afirmou. "Mas nós temos de reconhecer que, apesar de nossos melhores esforços, o petróleo já causou danos à nossa costa e aos animais."Segundo o presidente, é necessário um plano de longo prazo para restaurar a região, que já havia sofrido com a passagem do furacão Katrina, há cinco anos."Hoje, ao olharmos para o Golfo, vemos todo um modo de vida ser ameaçado por uma nuvem negra de petróleo", disse.O presidente disse que o governo está trabalhando em um plano de longo prazo para a costa do Golfo, a ser elaborado pelos Estados e comunidades locais, e voltou a citar a responsabilidade da BP."E a BP vai pagar pelo impacto que esse vazamento teve na região", afirmou.Prevenção Obama disse que uma comissão nacional vai investigar as causas do acidente e oferecer recomendações sobre padrões ambientais e de segurança.O presidente anunciou o nome de Michael Bromwich para comandar o Serviço de Gestão de Minerais (MMS, na sigla em inglês)."Sua incumbência nos próximos meses será construir uma organização que atue como fiscalizadora da indústria de petróleo - e não como sua parceira", disse.Em diversas ocasiões anteriores Obama criticou o MMS e a relação "escandalosamente próxima" entre petroleiras e agências reguladoras.Energia limpa O presidente aproveitou o pronunciamento para defender uma nova legislação que privilegie energias limpas e reduza a dependência de petróleo, especialmente estrangeiro.O presidente citou a lei aprovada pela Câmara dos Representantes no ano passado, que classificou como "um projeto que finalmente faz da energia limpa o tipo de energia rentável para as empresas americanas". O Senado, porém, ainda não votou a legislação.Obama disse que "um dos motivos" de as empresas explorarem petróleo a profundidades tão grandes é a alta demanda americana e voltou a afirmar que o país consome mais de 20% do petróleo do mundo, apesar de deter menos de 2% das reservas mundiais.O presidente disse que a ação de lobistas das empresas e a "falta de coragem política" impediram as mudanças, mas que as consequências da falta de ação agora estão bem à vista."A tragédia que se desenrola na nossa costa é a mais dolorosa e mais poderosa advertência de que a hora de abraçar um futuro de energia limpa é agora", afirmou.