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Fungo que ataca nariz ameaça população de morcegos nos EUA

Alejandra Martins

BBC Mundo

19/01/2012 13h52

Um fungo já tirou a vida de 5,7 milhões a 6,7 milhões de morcegos na América do Norte desde 2006, quando a doença foi detectada, informaram autoridades ambientais dos Estados Unidos.

A cifra estimada anteriormente era de 1 milhão de mortes entre 2006 e 2009, dando a entender que, desde então, o fungo mortal tem se proliferado de forma preocupante.

O fungo, Geomyces destructans, ainda é pouco conhecido dos cientistas e causa uma doença chamada de "síndrome do nariz branco" (ou WNS, white nose syndrome, em inglês), por deixar um aro de pó branco sobre o nariz dos morcegos infectados.

Doentes, os morcegos passam a se comportar de maneira errática: despertam durante seu período de hibernação no inverno e morrem de frio ou fome ao empreender voos em busca de insetos.

A síndrome foi detectada pela primeira vez em uma caverna em Albany, no Estado de Nova York, e desde então se espalhou para 16 Estados do noroeste e do sul dos EUA, além de quatro províncias canadenses.

Impacto nos humanos

Biólogos explicam que o declínio dos morcegos pode ter impacto para os seres humanos. Isso porque a desaparição dos animais faz com que aumentem as populações de insetos dos quais os morcegos se alimentam, com potenciais consequências para o preço de alimentos e da madeira caso seu cultivo seja afetado por pragas mais intensas.

Um estudo publicado na revista Science estimou, considerando as projeções de 2009 sobre a expansão da síndrome do nariz branco, que 1,3 mil toneladas métricas de insetos danosos aos cultivos não foram consumidas nos últimos três anos por conta na redução da população de morcegos.
Preocupa o fato de a síndrome do nariz branco ter uma mortalidade tão elevada - em algumas cavernas, o fungo causou a morte de 99% dos morcegos.

O alto número de morcegos mortos "mostra a gravidade da ameaça da síndrome do nariz branco, assim como o alcance do problema", afirmou Dan Ashe, diretor do Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos EUA, que está monitorando os animais.

"Os morcegos contribuem com a economia americana por controlarem pestes naturais em plantações e bosques, e têm um papel essencial ao ajudar a controlar insetos que podem transmitir doenças."

"Em Estados como Nova York e Vermont e o sul de Ontário (Canadá), antecipamos que mais de 90% da população geral (de morcegos) será impactada", advertiu Jeremy Coleman, coordenador nacional de combate a doenças do Serviço de Pesca e Vida Selvagem.

Estimativas

As cifras divulgadas pelo órgão foram compiladas a partir de dados de biólogos locais e de modelos matemáticos, para projetar as mortes de morcegos em áreas afetadas pelo fungo.

Como os morcegos são difíceis de serem vistos e contados, os especialistas contaram com a ajuda de fotografias. "Os morcegos de Indiana, por exemplo, podem se reunir em grupos de até 300 em 1 metro quadrado. Assim, podem ser contados de forma muito mais precisa (por meio de) imagens digitais", explicou Coleman.

A esperança dos cientistas se concentra em algumas colônias ilhadas de morcegos no nordeste dos EUA, que estão saudáveis e não parecem ter sido afetadas pelo fungo.

Ainda assim, o avanço da doença supera todas as previsões. Para Mollie Matteson, da ONG norteamericana Centro de Diversidade Biológica, "as novas estimativas evidenciam o fato de que temos que fazer mais para monitorar a expansão da síndrome o mais rápido possível".