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Astrônomos detectam planeta 'órfão' a 100 anos-luz

Batizado de CFBDSIR2149-0403, o planeta órfão tem temperatura estimada de 400ºC e massa entre quatro a sete vezes a de Júpiter - ESO/VLT
Batizado de CFBDSIR2149-0403, o planeta órfão tem temperatura estimada de 400ºC e massa entre quatro a sete vezes a de Júpiter Imagem: ESO/VLT

14/11/2012 12h23

Astrônomos baseados no Havaí e no Chile descobriram um planeta "órfão" vagando pelo espaço sem estar ligado à órbita de um astro, a cem anos-luz de distância da Terra.

Os cientistas dizem que pesquisas recentes têm demonstrado que esse tipo de planeta pode existir com muito mais frequência no cosmos do que se pensava.

Eles também são conhecidos como planetas "interestelares" ou planetas "nômades" e têm sido definidos como objetos de massa planetária que foram expulsos dos seus sistemas ou nunca estiveram gravitacionalmente ligados a nenhuma estrela.

Embora haja cada vez mais interesse dos astrônomos no assunto, exemplos de planetas "órfãos" são difíceis de serem encontrados, o que torna a recente descoberta mais importante.

O planeta, chamado de CFBDSIR2149-0403, é tema de um artigo que deve ser publicado no periódico científico Astronomia e Astrofísica.

Mas até agora sabe-se muito pouco sobre a intrigante descoberta. Além de estimar sua distância da Terra, considerada muito pequena, os cientistas acreditam que o "órfão" seja relativamente "jovem", tendo entre 50 e 120 milhões de anos.

Estima-se que ele tenha temperatura de 400ºC e massa entre quatro a sete vezes a de Júpiter.

Intrigantes

Ainda que os astrônomos acreditem que os planetas "órfãos" sejam mais comuns do que se pensava, as teorias em torno da origem deste tipo de massa planetária que "vaga" pelo espaço ainda são intrigantes.

Acredita-se que eles possam se formar de duas maneiras: de forma semelhante aos planetas que estão conectados a astros, surgindo a partir de um disco de poeira cósmica e restos de massa, mas que, em vez de serem integrados a um sistema (assim como a Terra é parte do Sistema Solar, gravitando em torno do Sol), são expulsos da órbita de uma estrela.

A segunda explicação aponta que eles podem se formar como se fossem um astro, mas nunca chegam a atingir a massa total de um astro normal.

De qualquer forma, eles acabam livres da atração gravitacional a uma estrela, vagando livremente pelo cosmos, o que torna sua identificação muito difícil.

Grupo

Uma equipe internacional organizou uma verdadeira "caçada" por esse tipo de planeta usando o Telescópio Canadá-França no Havaí e o Very Large Telescope (VLT), ou Telescópio Muito Grande, em tradução livre, localizado no Chile. Encontraram apenas este exemplar.

"Esse objeto foi descoberto durante uma varredura que cobriu uma área equivalente a mil vezes uma lua cheia", disse Etienne Artigau, da Universidade de Montreal.

"Nós observamos centenas de milhões de estrelas e planetas, mas só conseguimos encontrar um planeta 'órfão' em nossa vizinhança", acrescenta.

Mas algo que pode ser crucial é o fato de que o CFBDSIR2149-0403 parece estar se movendo ao lado de um grupo de objetos celestiais itinerantes muito semelhantes a ele, já classificado pelos cientistas como "Grupo itinerante AB Doradus".

São cerca de 30 estrelas basicamente da mesma composição que podem ter se formado na mesma época.

Este dado pode ajudar a esclarecer mais detalhes, mas a origem do CFBDSIR2149-0403 continua intrigando as duas equipes: ele teria se formado a partir do que seria uma estrela ou foi um planeta expulso de casa?

Philippe Delorme, do Instituto de Planetologia e Astrofísica de Grenoble, na França, diz que caso a segunda teoria seja verídica, isso implicaria na existência de muitos outros planetas semelhantes ao recém-descoberto.

"Se este pequeno objeto é um planeta que foi expulso de seu sistema nativo, ele sugere a ideia surpreendente de mundos órfãos, vagando pela imensidão do espaço".

Em maio de 2011, em descoberta publicada na revista Nature, outro grupo de astrônomos encontrou dez planetas de característica semelhante, que não se conectavam a nenhum sistema solar, o que fez o grupo também acreditar que pode se tratar de um fenômeno relativamente comum.