Designers criam projeto para buscar rostos em objetos e paisagens
Um grupo de designers alemães está procurando por todo o planeta, com a ajuda de satélites, imagens de montanhas e colinas que se pareçam com rostos.
Há tempos as pessoas enxergam rostos na Lua, em verduras de formatos diferentes e até em torradas e pãezinhos. Mas agora o estúdio alemão Onformative, com a ajuda do novo programa Google Faces, vai passar os próximos meses procurando formas parecidas com rostos no Google Maps, no que já é considerada a maior e mais metódica busca pelo fenômeno da pareidolia.
A pareidolia é definida como a percepção de uma imagem significativa a partir de um estímulo vago ou aleatório, como, por exemplo, imagens de animais ou faces em nuvens, pedras, veios de mármore ou madeira.
O programa Google Faces vai escanear o planeta várias vezes de ângulos diferentes. Até o momento, o projeto já encontrou um perfil humano em uma região remota da Rússia, Magadan Oblast, e uma pessoa com pelos nas narinas na região de Kent, no Reino Unido, entre outros.
Depois de ver a famosa "Face de Marte", a formação montanhosa parecida com um rosto fotografada pela Viking 1 em 1976, os designers Cedric Kiefer e Julia Laub começaram a fazer experiências com tecnologia de reconhecimento facial e então ficaram curiosos sobre como "o fenômeno psicológico da pareidolia poderia ser gerado por uma máquina", disse Kiefer.
Os dois não esperavam muito sucesso com o projeto, mas logo as fotos de rostos na tundra da Rússia e na zona rural britânica se espalharam pela internet. "Parece que existe algo fascinante sobre a pareidolia", afirmou Kiefer.
Algumas das imagens parecem com personagens de desenho animado e até com arte abstrata, mas outras parecem "reais demais para acreditarmos que é apenas coincidência", acrescenta o designer.
Dinheiro
A pareidolia pode render dinheiro ou até acabar em peregrinações. Um nugget de frango que teria a forma do presidente americano George Washington foi leiloado no eBay em 2012 por US$ 8,1 mil (quase R$ 17 mil).
Uma década antes, cerca de 20 mil cristãos foram até Bangalore, na Índia, para ver um chapati torrado, um pão tradicional da região, com a imagem de Cristo.
Nos últimos dias, moradores de Los Angeles se depararam com a propaganda de uma chaleira vendida na loja de departamentos JC Penney que se pareceria com Adolf Hitler.
Segundo declarações de internautas anônimos em redes sociais, o botão negro da tampa do utensílio se pareceria com o bigode do líder nazista. A alça da chaleira foi comparada ao seu cabelo, com o penteado característico. Já o bico da chaleira, de acordo com os internautas, seria o braço estirado - fazendo a saudação nazista.
A americana Diana Duyser mordeu um pão torrado com queijo em 1994 e notou o que parecia ser uma imagem da Virgem Maria. Ela guardou o resto do sanduíche durante mais de uma década. Depois, o sanduíche foi leiloado no eBay por US$ 28 mil (mais de R$ 58 mil).
Herança evolutiva
A tendência de vermos rostos em manchas, formações rochosas e outros objetos pode ocorrer devido à nossa herança evolutiva, de acordo com Nouchine Hadjikhani, da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Humanos seriam "programados" para detectar rostos desde o nascimento.
"Se você pegar um bebê com apenas alguns minutos de vida, ele vai dirigir a atenção para algo que, no geral, apresenta as características de um rosto, ao invés de algo que tem os mesmos elementos, mas (dispostos) de forma aleatória", afirmou o cientista.
Para Christopher French, da Sociedade Britânica de Psicologia, esta tendência vai até os primeiros humanos. "Um exemplo clássico é o cara da Idade da Pedra parado, coçando a barba, pensando se aquela movimentação no arbusto realmente é um tigre-dente-de-sabre. Você tem mais chances de sobreviver se imaginar que é um tigre-dente-de-sabre e fugir dali, senão você pode acabar como almoço", afirma o pesquisador.
Outros especialistas afirmam que a pareidolia é consequência de sistemas usados pelo cérebro para processar informação. O cérebro vasculha constantemente linhas, formas, superfícies e cores aleatórias, segundo o neurocientista Joel Voss, da Northwestern University.
O cérebro entende estas imagens ao dar significado a elas, geralmente associando com algo arquivado como conhecimento de longo prazo. Mas, em algumas ocasiões, coisas um pouco "ambíguas" acabam sendo comparadas a coisas que podemos nomear mais facilmente, resultando na pareidolia, segundo o neurocientista.
A também neurocientista Sophie Scott, da University College de Londres, afirma que a pareidolia também pode ser um produto das expectativas.
"Conseguir ver o rosto de Jesus em uma torrada diz mais sobre o que está acontecendo com suas expectativas e sobre como você está interpretando o mundo baseado em suas expectativas do que sobre algo que realmente está na torrada", conclui Scott.
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