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Pesquisas investigam possibilidade de viagens no tempo

Quando se fala em viagem no tempo, muitos lembram do DeLorean prateado, como o usado no filme "De Volta para o Futuro" - Paul Bersebach, Orange County Register/AP
Quando se fala em viagem no tempo, muitos lembram do DeLorean prateado, como o usado no filme 'De Volta para o Futuro' Imagem: Paul Bersebach, Orange County Register/AP

Sean Coughlan

Da BBC News

11/02/2015 19h00

Quando se fala em viagens no tempo muitos pensam logo no DeLorean prateado, o carro que serviu como máquina do tempo na série de filmes "De Volta para o Futuro". Ou até mesmo na Tardis, a nave espacial - que também é uma máquina do tempo - usada pelo personagem Dr. Who, da série britânica de mesmo nome, para viajar no tempo e espaço.

Mas a questão mais comum é se estes feitos da ficção poderiam ser repetir na vida real, se é mesmo possível viajar no tempo.

A possibilidade das viagens no tempo está sendo investigada por pesquisadores na Universidade de Birmingham, na Grã-Bretanha. Esta equipe faz parte de um projeto maior, um programa de pesquisa sobre a natureza do tempo que envolve universidades na Austrália, Estados Unidos, Alemanha, Holanda e Turquia.

Até o momento, o que se pode afirmar é decepcionante: a equipe da Universidade de Birmingham não está construindo uma máquina do tempo em segredo.

Mas eles estão analisando algumas grandes ideias, levantando questões não apenas sobre física, mas também sobre filosofia e a natureza da realidade.

Nikk Effingham, chefe do departamento de filosofia em Birmingham, está liderando o projeto com Alastair Wilson, especialista, entre outras coisas, em filosofia da física.

E, de acordo com Effingham, a possibilidade de viagens no tempo é "infinitesimal", mas não é impossível.

'Paradoxo do avô'

Até algumas ideias que parecem incompreensíveis têm aplicações diretas. O objetivo é compreender mais sobre um sentido do tempo e sequenciamento, uma grande questão que também pode ser ligada às doenças degenerativas humanas.

O projeto de Birmingham também vai tratar de alguns argumentos clássicos contra as viagens no tempo, como o "paradoxo do avô". Segundo este paradoxo, se alguém pudesse voltar no tempo, esta pessoa poderia matar os próprios avós e, com isso, tornar impossível o nascimento do viajante no tempo.

E, se o viajante no tempo nunca nasceu, ele nunca poderia voltar. Com isso, a viagem no tempo se transforma em uma impossibilidade.

No entanto, filósofos têm um outro argumento segundo o qual, para evitar este processo de acabar com a possibilidade da própria existência, qualquer viajante no tempo seria sempre impedido de matar os avós: a arma iria emperrar ou então eles acertariam a pessoa errada.

Isto aconteceria para que a linha do tempo não fosse interrompida.

Outra teoria é que mudanças feitas por uma viajante no tempo poderiam criar uma cadeia de eventos em outro universo paralelo, ao invés de alterar o mundo original de onde o viajante saiu.

Isto está relacionado à teoria dos "muitos mundos" que sugere que nós ocupamos apenas uma versão da realidade e que um número infinito de outras possibilidades estão ocorrendo em universos paralelos.

O viajante no tempo pode fazer mudanças que vão desencadear novas sequências de eventos nestes mundos diferentes, sem interromper a linha do tempo original.

Física fundamental

Para Alastair Wilson, que participa do estudo na Universidade de Birmingham, a análise da viagem no tempo é uma forma de analisar questões sobre física fundamental.

Isto significa que a pesquisa é uma forma de pensar sobre o tempo não como uma maneira de medir as horas e dias, mas como uma dimensão mais parecida com o espaço.

Wilson afirma que, se uma pessoa pudesse viajar dentro destes conceito de tempo, ela entraria em uma espécie de portal, loops temporais, onde uma pessoa pode ir e então voltar ao mesmo lugar - algo descrito pela física como "curvas temporais fechadas" (CTC, na sigla em inglês para "closed timelike curve").

Mas, quando questionado se isto algum dia poderia acontecer, o pesquisador prefere ser mais realista.

"Nossa física mais avançada no momento deixa em aberto. Se acontecesse, poderia ser em alguma região exótica do universo, (...) algum lugar perto de um buraco negro com altas concentrações de energia. Não é (preciso) inventar uma máquina do tempo, (mas sim) descobrir um lugar", afirmou.

Bradford Skow, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) afirma que, "mesmo se a viagem no tempo seja coerente com as leis da física", ainda não significa que pessoas vão entrar em máquinas do tempo.

Skow publicou recentemente um livro a respeito dos conceitos de tempo, Objective Becoming, que rejeita a ideia de que o tempo "passa" ou que esteja, de alguma forma, em movimento. Ele afirma que momentos ou experiências do passado são tão reais como as do presente, mas são inacessíveis em qualquer outra parte do tempo.

Tempo e experiência humana

A fascinação com o tempo também reflete como ele é intrínseco à experiência humana e de todas as criaturas vivas.

O tempo está entrelaçado com os ritmos naturais do dia e noite, nascimento e morte, o batimento do coração e até às menores unidades da natureza e à origem do universo.

"Nossos melhores relógios usam a vibração de um átomo para medir o tempo, átomos que estão vibrando desde que foram criados há milhões de anos", disse Wilson.

Mas há outro argumento contra a ideia de que a viagem no tempo possa se tornar possível em um futuro distante, quando a tecnologia progredir.

Se isto acontecer realmente no futuro, como ainda não encontramos os humanos do futuro, que voltaram para nos visitar aqui no passado?

Mesmo que a perspectiva de trombar com um viajante no tempo seja remota, Wilson afirma que estas viagens intelectuais rumo ao desconhecido têm valor.

"As pessoas se dividem entre aquelas que perguntam: 'existe uma possibilidade prática de acontecer durante a minha vida?' e quando você responde 'não', elas não se interessam mais."

"E também há muitas pessoas que estão interessadas nestas questões (...) pois elas levam a algumas questões fundamentais sobre a humanidade", disse.