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Cientistas desvendam o mistério da morte do urso Knut

Odd Andersen/AFP
Imagem: Odd Andersen/AFP

Jonathan Amos

Correspondente de Ciência da BBC News

27/08/2015 12h22

Cientistas afirmam que podem explicar o que aconteceu com Knut, o famoso urso polar que se afogou no zoológico de Berlim em 2011.

Uma nova investigação mostrou que ele tinha um tipo de inflamação autoimune no cérebro que também afeta humanos.

Os pesquisadores esperam que a descoberta possa ajudar pacientes humanos e animais.

Knut se tornou uma celebridade internacional após ser abandonado por sua mãe e passar a ser criado por um funcionário do zoológico.

Por um tempo, ele foi o urso mais conhecido do planeta, com aparições frequentes na TV e jornais, e até na capa de uma edição da renomada revista Vanity Fair.

Sua morte foi tão pública como sua vida. Knut teve uma convulsão, desabou em seu fosso - diante de muitos visitantes que estavam lá para vê-lo - e nunca recuperou a consciência.

A necropsia apontou que ele teve encefalite, uma inflamação cerebral, mas os cientistas não conseguiram apontar uma razão para isso.

A intenção agora é utilizar em animais o tratamento empregado em humanos

Eles suspeitavam de algum tipo de infecção, mas os exames não indicaram nada.

Foi preciso um especialista em transtornos humanos para desvendar um indício da causa original do problema.

Harald Pruess, do Centro Alemão para Doenças Neurodegenerativas, trata pacientes diagnosticados com encefalite anti-receptor NMDA.

Ele reconheceu algumas semelhanças nos relatórios pós-morte de Knut, e testes posteriores em amostras preservadas do cérebro do urso confirmaram a conexão.

"A doença que agora identificamos como a causa da morte é uma inflamação autoimune do cérebro", afirmou o neurologista.

"Anticorpos que normalmente nos defendem contra vírus ou bactérias podem - obviamente sob certas circunstâncias - se voltar contra seu próprio corpo e atacar células nervosas. Na encefalite autoimune mais comum, esses anticorpos se vinculam a um receptor de glutamato no cérebro chamado NMDA e causa convulsões, comprometimento cognitivo, psicose ou coma."

Knut morreu em março de 2011, aos quatro anos

Em humanos, a encefalite anti-receptor NMDA afeta aproximadamente uma em cada 200 mil pessoas, sobretudo mulheres.

A doença é comum em pacientes com câncer de ovário. Os mesmos anticorpos produzidos para enfrentar o tumor também se acoplam ao receptor do neurônio. Um caso infeliz de "fogo amigo", na expressão de Pruess.



Knut é o primeiro paciente não-humano em que a encefalite anti-receptor NMDA foi comprovada. Em artigo sobre o tema na publicação especializada Scientific Reports, os pesquisadores afirmam que a incidência entre animais talvez seja mais comum do que se pensava - e não apenas em animais domésticos, mas também na vida selvagem.

A doença é tratável em humanos. Pacientes recebem esteroides e são submetidos a um procedimento para a retirada dos anticorpos responsáveis pela doença.

Coautor do estudo, o professor Alex Greenwood, do Instituto Leibniz em Berlim, afirmou que uma terapia semelhante agora pode ser desenvolvida para animais.

"Quase todo aspecto da vida de Knut ocorreu na esfera pública. E refletindo agora sobre isso, estamos felizes em poder encerrar essa história afirmando como ele morreu", disse ele à BBC.

"Há um encerramento. Encerramento para ele, mas que abre possibilidades para outros animais. Ele será o estopim para pesquisas que poderão ajudar não apenas ursos polares, mas outros animais selvagens e domésticos."

Greenwood e Pruess afirmaram ainda esperar que a visibilidade do caso de Knut chame a atenção da classe médica para a encefalite anti-receptor NMDA, garantindo que pacientes humanos recebam diagnósticos e tratamentos corretos.