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Satélite a 1,6 milhão de km da Terra captura imagem inédita de eclipse lunar

Jonathan Amos

Correspondente de Ciência da BBC News, de São Francisco (EUA)

15/12/2015 09h04

Um satélite americano estacionado a um milhão de milhas (1,6 milhão de km) da Terra conseguiu um registro único de um eclipse lunar.

Lançada em fevereiro, a espaçonave DSCOVR tem uma câmera focada constantemente na face iluminada da Terra.

As imagens são usadas para rastrear elementos móveis, como nuvens e tempestades de areia, e para monitorar o clima.

Mas, em 27 de setembro, o satélite estava na exata posição para ver a Lua passar atrás da Terra e por sua sombra.

Em solo, observadores do céu viram o corpo lunar se transformar em uma sombra vermelha. Isso ocorre porque alguma luz solar ainda atinge a superfície da Lua após ser filtrada pela atmosfera terrestre.

"Nossa câmera é normalmente focada na Terra, mas usamos a Lua para calibragem", disse Jay Herman, o principal investigador da Nasa (agência espacial americana) no sistema de câmeras do DSCOVR, chamado Epic.

"Isso é o que estávamos fazendo naquele momento. Estávamos focando na Lua e a Terra entrou na frente cerca de quatro horas antes de o eclipse ser visto em nosso planeta. Isso é porque estávamos em uma posição angular, bem ao lado da linha Sol-Terra."

"A Terra está em rotação quando passa. É algo único porque você pode observar o movimento das nuvens", disse Herman durante encontro da União Americana de Geofísica, em São Francisco (EUA).

Relatórios mostram que o satélite DSCOVR está em ótimo estado.

Um de seus objetivos é mapear o comportamento das nuvens. Os diferentes filtros de onda do sistema permitem estimar a altura das nuvens. Isso é importante para monitorar sistemas meteorológicos e entender o impacto das nuvens no clima. Algumas ajudam a resfriar o planeta ao refletir a luz solar de volta para o espaço, enquanto outras esquentam a Terra ao conservar calor.

Neste trabalho, o sistema Epic já detectou coisas inesperadas, como o rastro de navios. Não são as ondas produzidas por embarcações, mas as nuvens que seus sistemas de exaustão lançam na atmosfera.

"Foi surpreendente para nós poder observar isso a um milhão de milhas, e as imagens são melhores quando usamos um comprimento de onda maior, porque isso fornece um maior contraste com a escuridão do oceano", disse Alexander Marshak, cientista do projeto.

Um dos instrumentos do satélite, hoje em fase de testes, é um radiômetro que mede o total de energia solar refletida na Terra, bem como o calor emitido pelo planeta.

Principal investigador dos dados fornecidos por esse equipamento, Steven Lorentz, do Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia dos EUA, diz que a quantidade de energia solar refletida depende dos continentes e oceanos em foco. A Terra refletia mais calor, segundo ele, quando a África estava em foco (superfícies terrestres são mais brilhantes do que superfícies marítimas), e a Antártica também ficava visível durante o verão no hemisfério sul.

"Os dois polos do planeta aparecem de forma muito visível nos dados. Quando a Terra está inclinada nesta ou naquela direção, isso faz realmente diferença no albedo planetário (poder de reflexão da luz solar). Isso só reforça a importância do gelo para o clima, porque se os polos não estivessem ali, ou se diminuírem, a quantidade de energia (calor) no sistema irá aumentar."

Segundo outro membro do projeto, o cientista Adam Szabo, as medições do satélite não são novidade, pois também são feitas por equipamentos que orbitam a Terra. A vantagem está, diz, no posicionamento do DSCOVR.

"Posicionado entre o Sol e a Terra, o satélite enxerga toda a face iluminada da Terra todo o tempo, permitindo à Terra rotacionar em torno do equipamento em vez de o satélite girar ao redor do planeta."